Hijab: como as mulheres muçulmanas veem o uso do véu

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Giovanna Ruzene e Giullia Reggiolli (1º semestre)

Usado por mulheres muçulmanas, o véu, conhecido como hijab, tem como intuito cobrir cabelos, orelha e pescoço, e muitas vezes é interpretado como símbolo de opressão no ocidente. No entanto, o adereço possui diferentes significados em torno de sua representatividade e religiosidade, diferindo dos pensamentos ocidentais.

Segundo dados do IBGE de 2010, o número de muçulmanos no Brasil naquele período era cerca de 35 mil, dos quais pelo menos 14 mil eram mulheres.

O filósofo e teólogo paquistanês Javed Ahmad Ghamidi explica que o véu islâmico não faz parte da sharia, conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão. Assim, é uma escolha pessoal usá-lo ou não. “O Islã não exige obrigatoriamente que as mulheres cubram a cabeça”, conta.

Francirosy Barbosa, docente muçulmana da USP, confirma o fato. “Pela religião, os homens não podem obrigar que uma mulher use o véu. Deve ser de entendimento e de desejo dela, qualquer coisa fora disso é incorreto”, afirma.

Outro exemplo é da muçulmana Soha Chabrawi, brasileira, filha de Sheik egípcio. Entre as quatro irmãs, ela é a única que utiliza o hijab. Segundo Soha, não usar a peça não significa que suas irmãs deixem de seguir o islã, mesmo porque seu uso implica em uma responsabilidade. Desde pequena ela entendeu sua importância, no sentido religioso, ou até mesmo como “proteção de olhares de homens que não são lícitos a ela, diminuindo sua vulnerabilidade”, explica. Soha acredita que o uso afeta suas relações interpessoais, devido ao preconceito de pessoas que, segundo ela, não compreendem a conexão do véu com sua fé.

 

Preconceito e resistência

Um marco histórico, com impacto mundial de propagação desse preconceito, foi o ataque às Torres Gêmeas (World Trade Center), fato que estimulou a islamofobia até a atualidade, como relembra a jornalista brasileira Alice Barbosa. Atualmente na Cidade do México e convertida à religião, ela já foi demitida de uma agência de publicidade devido ao preconceito e passou por várias situações em que pediram para que ela retirasse seu hijab.

Soha Chabrawi também passou por preconceitos semelhantes. Ela teve que pedir uma carta ao Centro Islâmico de São Bernardo para não ter que retirar o véu, o que foi solicitado a ela durante concursos públicos e em aeroportos.

Diante do preconceito, as mulheres começaram a ver o adereço não apenas como um símbolo religioso, mas também como forma de representatividade e resistência. “Eu uso o hijab para marcar minha representatividade na sociedade, de mulher, de muçulmana, latina e claro feminista”, ressalta Alice.

Há vários jeitos de usar o hijab. Cores, cortes e estilos variam conforme cada região e normas socioculturais, como é o caso da Síria, em que todos os véus sãos brancos.

A razão e o uso pelo qual as mulheres aderem à peça variam de acordo com o tempo e o contexto social. “O véu não era comum no império muçulmano até o final do século 10, e foi introduzido aos muçulmanos durante a conquista persa. Na antiguidade, apenas as mulheres assírias de classe alta eram obrigadas por lei a usarem véus, enquanto escravas e servas eram explicitamente proibidas. As muçulmanas, inicialmente, adotaram o véu para representar status social elevado e, apenas mais tarde, o véu começou a simbolizar modéstia”, explica Muhammed Hassanali, do Instituto Internacional para estudos asiáticos (IIAS na sigla em inglês). Dessa forma, conforme ocorreram as colonizações, o véu passou a ser símbolo da identidade nacional e resistência, uma vez que os franceses e britânicos instigavam as mulheres a remover a vestimenta, desrespeitando-as.