Mesmo proibido, vape tem aumento de consumo entre jovens
Foto: Gabriella Borges – 4° semestre
Guilherme Paiva, Nicole Micheletti e Stella Lima – 1º semestre
No último dia 14 de maio, a ESPM-SP proibiu o uso de cigarros eletrônicos (conhecidos como vapes ou pods) no interior da faculdade. A informação foi anunciada pelo Centro Acadêmico 4 de Dezembro e Diretório Acadêmico Guerreiro Ramos por meio de suas redes sociais. Caso a nova regra seja violada, o aluno pode ser advertido pela escola.
Isabeli Souza, gestora do Centro Acadêmico da ESPM, declarou ao portal que a decisão veio após uma reunião entre a atual gestão da entidade e a coordenação da ESPM-SP, depois de inúmeras reclamações de estudantes sobre o uso dos vapes nos ambientes de estudo. “A advertência é uma tentativa de uma forma mais eficaz para acabar com o uso dentro da faculdade, com uma ‘punição’ para as pessoas entenderem que é realmente proibido”, comentou a gestora do CA.
Um mês antes da proibição na ESPM, no dia 19 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota mantendo a proibição da produção, importação e venda de cigarros eletrônicos no Brasil. Entretanto, mesmo com a proibição, é comum ver jovens utilizando os chamados vapes nas ruas, em festas e no entorno da ESPM-SP.
A proibição federal vem seguida de um aumento gradativo do uso desse produto nos últimos anos. Segundo uma pesquisa feita pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), em 2018, 500 mil adultos utilizavam os cigarros eletrônicos. Em 2023, esse número aumentou em quase 600%, chegando a 2,2 milhões de usuários. Em abril de 2024, esse valor beirava os 3 milhões.
Mesmo com o preço elevado, o consumo dos vapes continua aumentando. O valor do produto varia conforme a marca, podendo ir de R$59 até R$600. Em declaração ao Portal, um usuário que não quis se identificar disse que chegou a gastar mais de mil reais em pods. “Eu gastava R$100 em cada pod ,daquele de 5000 puffs (tragada). Em seis meses, eu cheguei a gastar R$1000”, disse o entrevistado, em anonimato.
Motivação
Muitas vezes, fatores como a aparência, a praticidade ou a aprovação social fazem com que os indivíduos comecem a fumar cigarros eletrônicos.
“Eu comecei a usar o vape por causa de amigos e de uma ex-namorada minha. Eu não a culpo, mas ela foi um dos princípios que me incentivou a usar”, comentou Caio (nome fictício) em entrevista ao Portal. O entrevistado conta que viu no uso do cigarro eletrônico uma forma de socializar: “Às vezes, eu acho que era uma forma de conversar com os outros e parecer maneiro. Todo mundo está usando e eu era o único que não estava. Eu não queria ficar sozinho como eu já estava me sentindo”.
Segundo a pneumologista Carolina Freitas, muitas pessoas começaram a fumar por ser um produto aceito socialmente. “Ele não tem um cheiro tão forte e também foi lançado como um apelo para a rebeldia dos jovens e isso é um perigo porque faz muito mal”, relata a médica.
Fumar um cigarro eletrônico corresponde a fumar 10 mil cigarros tradicionais. Infográfico: Sofia Florentino
Redes sociais
Desde 2022, diversos influenciadores digitais e artistas passaram divulgar em suas redes sociais mensagens para que seus seguidores parassem com o consumo dos cigarros eletrônicos.
Um dos primeiros casos é o da cantora Doja Cat que, em maio do mesmo ano, divulgou em seu Instagram um post cancelando a sua agenda de shows. No comunicado aos seus fãs, Doja explica que o uso dos cigarros eletrônicos desenvolveu uma inflamação em suas amígdalas e, por isso, passou a divulgar em suas redes conteúdos contra o seu uso.
Mais recentemente, em abril de 2024, o influenciador Gustavo Foganoli veiculou em seu perfil no TikTok a campanha “Sem Nicotina”. A ideia veio após Foganoli perceber que o vape estava de fato atrapalhando sua vida e que ele estava acordando no meio da noite para fumar.
Após o início do movimento, seus vídeos sobre o tema chegaram a 30 mil visualizações. No dia 17 de abril, o influenciador veio a ESPM-SP para divulgar sua campanha entre os estudantes.
Um cigarro convencional contém 1 mg de nicotina, enquanto o cigarro eletrônico tem 50 mg por mililitro do líquido. Infográfico: Sofia Florentino
Saúde
O cigarro eletrônico apresenta, a longo prazo, diversos malefícios para a saúde. O vape contém uma média de 20 a 50 mg de nicotina, 50 vezes a mais do que o cigarro convencional. Em sua composição, o cigarro tradicional tem 1 mg de nicotina por unidade, enquanto o eletrônico possui 50 mg da substância por ml do líquido que está no produto. Isso faz com que uma tragada do vape equivalha a fumar 20 cigarros.
Segundo Freitas, A nicotina dos pods é extremamente prejudicial para o corpo. “O cigarro eletrônico tem muitas substâncias químicas, várias carcinogênicas e várias inflamatórias para o pulmão” comenta a pneumologista. Além disso, a médica afirma que o vape pode aumentar a chance de o indivíduo ter câncer de boca, pulmão e laringe e piorar quadros de asma e bronquite.