“Jovens acreditam no futuro”, comenta historiador
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No domingo, 26 de novembro, grande parte dos jovens usou as redes sociais para expressar suas opiniões a respeito do resultado das eleições presidenciais no Brasil. Mostra de que os jovens se interessam por política. O Facebook foi uma plataforma muito utilizada na expressão de opiniões sobre os candidatos.
Jorge Montecinos nasceu no Chile e é professor na ESPM há 20 anos. Ele fala sobre o jovem de classe média, como os que estudam ou moram na Vila Mariana, sobre as manifestações de 2013 e a respeito do cenário político brasileiro. Formado em História Social pela Universidade de Paris, Montecinos viveu exilado na França durante a ditadura de Pinochet.
Portal de Jornalismo – Você considera o Brasil um país estável politicamente?
Jorge Montecinos – O Março de 1964, que infelizmente durou 21 anos, foi o período da ditadura, foi um período de um grande parênteses do que podia vir a ser um processo democrático. Acredito que os jovens contribuíram muito para essa abertura democrática que se vê hoje. Apesar de toda a falha que a democracia tenha, como a corrupção, segue sendo a melhor forma de todo o regime político. Em grande parte, a juventude contribuiu para a melhora deste regime. Por isso, acho que ela, que saiu às ruas em junho de 2013, por vinte centavos de uma passagem de ônibus, mostrou que tem um poder enorme de barganha e de mudanças na sociedade.
PJ – Nas eleições do primeiro turno de 2014 houve um grande número de abstenções e votos brancos e nulos, somando mais de 30 milhões de pessoas. Esse fato é reflexo do desinteresse do brasileiro, principalmente dos jovens, ou de uma insatisfação em relação aos candidatos?
JM – Eu acredito que há um problema mundial, que seria uma espécie de frustração política. Os jovens acreditam no futuro e na utopia, acreditam em sonhos, e comumente se confrontam com esse hiper-realismo de corrupção que faz com que comecem a não acreditar mais na política partidária. Porém, os jovens fazem política constantemente quando estão criticando.
PJ – As manifestações de 2013 mostraram uma insatisfação de parte da população, especialmente jovens, em relação à política. Após um ano, no Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin foi reeleito com um número considerável de votos. O que você acha disto?
JM – As coisas são como se fossem de fluxo e refluxo. Neste caso, o jovem reivindicava um grande leque de mudanças e utopias, mas se confronta com aquilo que se chama máquina do Estado, e esta máquina é muito poderosa para induzir a população mais modesta, avessa a votar. Por isso, não é de se estranhar que Alckmin tenha sido reeleito por uma grande maioria.
PJ – As mídias sociais tiveram grande influência nas manifestações do ano passado. As pessoas usavam hashtags e combinavam de se encontrar usando as redes sociais. O jovem, especialmente de classe média, foi influenciado pela onda das mídias sociais ou realmente exigia mudanças?
JM – Eu acredito que foi como o Maio de 1968, na França, ou como a Primavera de Praga. São movimentos em que os jovens começam com uma reivindicação, às vezes muito simples, mas que vão aumentando como uma grande bola de neve. Eu acredito que os jovens, com foi o caso de Collor [em 1992], que saíram às ruas, motivaram as mídias a acompanharem esse movimento e se produziu o impeachment. Os jovens são um elemento político muito forte de mudanças.
PJ – Você acha que o jovem brasileiro, de classe média, da região da Vila Mariana, seu aluno, pode ser considerado “acomodado” politicamente?
JM – Na minha opinião, há muito preconceito quando se fala que somos uma escola de “riquinhos” e de “patricinhas”. Porém, somos uma escola com profundo sentido social e, nas manifestações do ano passado, grande parcela da população da ESPM participou. Isso faz os professores se encherem de orgulho, saber que nossos jovens não são alienados e que estão por dentro. No entanto, estes mesmo jovens não estão por dentro da política partidária, mas estão por dentro da política.
PJ – Você acha que esse mesmo jovem sabe votar, mesmo quando vota em branco ou nulo?
JM – Eu acredito que eles sabem a opção política que tem. E esta é uma coisa de que ele está consciente cada vez mais, não importando de onde são. Estes jovens são como um estopim que pode fazer explodir a dinamite.
PJ – Como podemos incentivar a política para os jovens?
JM – Acho que podemos incentivar mais ainda estabelecendo debates constantes ao final de cada aula, fazendo com que os jovens se expressem. Desde de pequeno, ir à aula é um receptáculo, de alguma forma, político, para poder discutir os assuntos da realidade. É a escola, hoje, o grande centro de criação dessa inteligência que amanhã mudará o mundo.
Uly Campos (2° semestre)