Uma pesquisa publicada em outubro de 2024 na revista JAMA Network Open revelou um aumento de 594% no uso de semaglutida entre adolescentes nos Estados Unidos, . Trata-se do princípio ativo de medicamentos como Ozempic e Wegovy, que originalmente foram criados para tratamento da diabetes, mas que tem sido utilizados para emagrecimento.
O dado acende um alerta entre especialistas sobre os riscos do uso indiscriminado desses medicamentos por jovens. A endocrinologista e metabologista Dra. Zuleika Maria Cardoso afirma que a tendência observada nos EUA já se reflete no Brasil e pode se tornar um problema de saúde pública: “O corpo adolescente ainda está em desenvolvimento, especialmente os sistemas endócrino e metabólico. O uso de semaglutida sem indicação médica pode comprometer o crescimento muscular, o equilíbrio hormonal e a saúde geral”, explica.
O estudante de Economia Gabriel Bighetto, hoje maior de idade, relata ter usado Ozempic aos 17 anos, sem acompanhamento médico: “Comecei a usar como um incentivo para emagrecer. O Ozempic ia me dar um resultado inicial. Sofri com dores de cabeça, náuseas e, em alguns momentos, sentia como se meu corpo pedisse mais do medicamento. Mas, socialmente, me senti mais confiante para usar certas roupas e ir a festas”, confessa Gabriel.
Em resposta ao uso crescente e muitas vezes inadequado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nova norma em 16 de abril de 2025, exigindo retenção da receita médica para a compra de medicamentos injetáveis para emagrecimento, como Ozempic e Wegovy. A medida entra em vigor em junho de 2025.
Embora a semaglutida tenha sido aprovada no Brasil para adolescentes com obesidade a partir dos 12 anos — como adjuvante a dieta e exercícios —, especialistas alertam para o uso estético e sem prescrição: “Entre os jovens, a pressão estética é um fator de risco. Muitos recorrem a soluções rápidas para emagrecer, sem considerar os efeitos colaterais”, afirma a Dra. Cardoso.
Nos EUA, o uso de Ozempic e semelhantes por adolescentes também tem sido associado a efeitos colaterais como diarreia, náuseas e, em alguns casos, dependência psicológica do medicamento. Ainda assim, estudos recentes indicam que o uso controlado pode ter efeitos positivos na saúde mental de adolescentes obesos, como a redução de pensamentos suicidas.