O sucesso do selo Graphic MSP de Maurício de Sousa

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Pedro Guarache (3º semestre)

Maurício de Sousa criou sua tão famosa Turma da Mônica em 1959, publicada inicialmente em pequenas tiras de jornal. Passou a ser publicada pela editora Abril em 1970, passando pela editora Globo a partir de 1987 e, finalmente, chegando à editora Panini em 2007, onde permanece até os dias de hoje.

As tão amadas histórias infantis, conhecidas no Brasil inteiro, foram responsáveis pela alfabetização de uma boa parcela da população brasileira. É muito comum encontrar alguém que aprendeu a ler, ou criou gosto pela leitura, com as histórias em quadrinhos desenvolvidas por Maurício de Sousa.

Porém, seu sucesso não ficou unicamente nos tradicionais gibis. A Turma da Mônica virou um símbolo facilmente reconhecido. Seus personagens ganharam desenhos e filmes animados, quadrinhos dos personagens versão adolescente, e foram até estampados em embalagens de produtos alimentares, como macarrão instantâneo e molho de tomate.

O surgimento do selo Graphic MSP só foi possível graças a esse enorme sucesso. O selo consiste em quadrinistas independentes brasileiros escolhidos a dedo para cada personagem, com liberdade para recriar e contar uma história nova, mas sempre mantendo a essência original dos personagens. Hoje o selo já tem 30 graphic novels lançadas.

Sidney Gusman, o editor de Maurício de Sousa Produções e um dos maiores especialistas em histórias em quadrinhos do Brasil, conta que o surgimento do selo ocorreu em decorrência do projeto MSP 50, uma comemoração aos 50 anos de carreira de Maurício. “O Maurício estava fazendo 50 anos de carreira e eu chamei 50 autores do Brasil inteiro para fazer histórias dos personagens da Turma da Mônica no estilo dos próprios autores, só que em histórias de uma até cinco páginas. O projeto deu muito certo, foi lançado em 2009. Em 2010 veio o MSP +50 e em 2011 o MSP Novos 50. Quando eu estava no segundo, em 2010, eu tive a ideia e falei pro Maurício que dava para esticar o projeto e fazer Graphic Novels”, conta.

Apesar de serem histórias fechadas, usando personagens de nossa infância, os quadrinhos da Graphic MSP não têm como público-alvo as crianças, mas sim jovens adultos e/ou pessoas que cresceram lendo as histórias do Maurício. Com isso, os autores muitas vezes podem contar uma história muito mais profunda e que falam de temas extremamente atuais e importantes, como racismo e assédio sexual no trabalho, por exemplo.

Fefê Torquato, escritora e desenhista da HQ Tina: Respeito, história sobre uma jornalista recém formada que sofre assédio no ambiente de trabalho, aponta para a responsabilidade de equilibrar questões sérias e personagens que imputam grande memória afetiva aos leitores. “Qualquer personagem do Maurício tem muito alcance, e por isso também existe a grande responsabilidade de conseguir comunicar uma questão muito séria, usando uma personagem tão conhecida, que não é minha. Foi difícil equilibrar tudo isso, mas considerando a resposta tão positiva que eu recebi e ainda recebo das pessoas que leram e também de muitos professores que usam o livro nas aulas com os seus alunos, eu acho que deu tudo certo, a mensagem foi passada”, comenta.

Outra HQ que fala de um tema importante é Jeremias: Pele, de Rafael Calça e Jefferson Costa. A história é sobre Jeremias, um menino negro que um dia encara o preconceito por causa da sua cor de pele. A HQ, lançada em 2018, recebeu o prêmio Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos e foi indicada como Livro do Ano, também pelo prêmio Jabuti.

Com o sucesso das Graphic’s MSP, o projeto está sendo transportado para outras mídias. A segunda Graphic lançada, Turma da Mônica: Laços, ganhou em 2019 uma adaptação live action para o cinema. Dirigido por Daniel Rezende, o filme foi um grande sucesso de bilheteria. Agora, a próxima adaptação será Astronauta: Propulsão, que vai virar uma série animada pelo canal HBO.

Danilo Beyruth, escritor das quatro Graphic MSP do Astronauta e primeiro convidado para o projeto, diz que foi uma honra e uma responsabilidade muito grande abrir um projeto desse tamanho, e afirma que foi um passo muito grande em sua carreira como quadrinista. “Abriu as portas para um público muito maior que às vezes se interessa em conhecer meus outros trabalhos, e me deu a chance de desenvolver uma série longa e serializada. Tenho aprendido muito fazendo o Astronauta”, relata.

Sidney, o editor do projeto, diz que já esperava esse sucesso todo. “Eu imaginava que o selo Graphic MSP fosse chegar onde a gente chegou e eu diria que se não estivéssemos no Brasil, a gente teria chegado mais longe ainda. Quando eu “vendi” o projeto para o Maurício, eu falei para ele que as graphic novels poderiam ser uma passagem para a gente publicar no exterior e para migrar para outras mídias. Mas eu acreditava que a gente iria alcançar esse sucesso e seguimos firmes e fortes”, ressalta.