A vida de artistas independentes em meio à pandemia do coronavírus

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Luiza Torres (1º semestre)

O mundo artístico tem uma importante influência em grande parte da população. Seja por trabalho ou por entretenimento, a arte está presente em várias camadas da sociedade. Enquanto alguns se utilizam dela para adquirir conhecimento, conhecer novas culturas ou apenas passar o tempo, outros dependem da arte para se sustentarem.

Com a pandemia do coronavírus tomando proporções maiores do que qualquer um poderia imaginar, todos, independentemente da profissão, tiveram que se reinventar para se manterem ativos no trabalho. Diversos grandes artistas, reconhecidos mundialmente, se adaptaram para continuarem trabalhando virtualmente e, mesmo com shows presenciais cancelados, conseguiram desenvolver maneiras de transmitir apresentações online.

Já os artistas independentes, que não possuem uma estrutura de trabalho fixa, tiveram de se desdobrar para conseguir preservar suas profissões. Em São Paulo, a Associação Paulista Amigos da Arte (APAA) investiu na criação de programas e festivais de apoio para manter, mesmo que minimamente, a estrutura de shows culturais no Estado.

Dessa forma surgiu o projeto Cultura em Casa, uma plataforma de streaming governamental que dá a oportunidade de companhias menores serem mais reconhecidas. São disponibilizados online gratuitamente à população conteúdos culturais e criativos das instituições artísticas do Governo de São Paulo, além de conteúdo produzido por artistas independentes.

A Cia Pé de Cana é uma das que tiveram a oportunidade de se inscrever para divulgar seus trabalhos. A Pé de Cana é uma companhia de circo de Iracemápolis, uma cidade que não possui teatro, e que, portanto, realizaram suas primeiras apresentações em praças, visando se conectar mais com o público. Em tempos pré-pandemia, viajavam o Brasil em uma kombi para apresentarem espetáculos circenses pelas cidades, mas agora, com as ruas vazias, a opção foi descobrir maneiras de continuar o entretenimento online.

Foto: Suelen e seu filho Bernardo em apresentação com a Cia Pé de Cana
Créditos: Arquivo pessoal

No início da pandemia foram realizadas vendas de artesanatos e comidas por parte da companhia circense. “Aqui nós temos um apelo forte da comunidade. Por ser uma cidade bem pequena, temos uma relação bem próxima”, conta a atriz, bailarina e palhaça da Cia, Suelen Zacharias.

Os espetáculos virtuais de fato começaram no final de 2020, após se inscreverem em editais e festivais por todo o Brasil e terem seus espetáculos aprovados. Mesmo com apresentações online, a artista conta sobre um novo projeto de nome Pé na Rua: “Entendemos que não são todas as pessoas que têm uma qualidade boa de internet ou mesmo dados móveis para acessar as lives que estão acontecendo. Então, junto ao CRAS (Centros de Referência de Assistência Social) aqui da cidade, fizemos um levantamento dos bairros mais populosos e de maior vulnerabilidade social. E fomos apresentar na porta da casa das pessoas, com todo o equipamento de segurança para nós e para eles”, conta.

Suelen é formada em Artes Cênicas e atualmente pesquisa a Palhaçaria. Mãe de Bernardo, já viajou pelo Brasil com o projeto Mambembes, pesquisando e vivenciando a arte de rua e palhaçaria feminina, e participou de outros projetos como palhaça, sonoplasta e produtora. Assim como ela, diversos outros artistas e instituições buscam novas oportunidades de divulgarem seus trabalhos em plataformas de suporte governamentais.

Em tempos de pandemia, o trabalho artístico, naturalmente pouco valorizado, se tornou ainda mais difícil. Apenas com novas ideias e projetos solidários é possível ajudar toda classe artística.