Sobre enviar cartas: “As novas gerações não sabem o que estão perdendo”

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Em tempos de WhatsApp, correspondências escritas a mão perdem espaço. Foto: reprodução

 

Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor, é que são ridículas, disse o poeta português Fernando Pessoa. Na Vila Mariana, como deve acontecer também em outros pontos da cidade de São Paulo, é raro encontrar uma pessoa com menos de 40 anos que costume mandar ou receber cartas. E mais raro ainda pessoas com menos de 20 que já tenham tido esse tipo de experiência.

Antigamente, quando o e-mail não era tão popular e poucas pessoas tinham computador em casa, o meio de comunicação mais usado era a troca de correspondência. Podia ser entre bairros, cidades ou países diferentes. Uma informação que fosse poderia levar até um mês para chegar.

“Lembro que, quando tinha mais ou menos 20 anos, mandei uma carta dizendo ao meu namoradinho da época que aceitava me casar com ele. Mas a carta demorou tanto que quando ele recebeu, eu já estava de casamento marcado com outro”, conta a tipógrafa aposentada Aída Carvalho de 79 anos, moradora da Vila.

Ainda segundo ela, apesar de contratempos, como a demora, a impossibilidade de correção ou as correspondências extraviadas, era muito prazeroso essa troca de informação. “A emoção da espera e a felicidade da chegada, é um prazer que só se tem quando trocamos cartas com alguém. As novas gerações não sabem o que estão perdendo”, diz.

Hobbie e diversão

Nas grandes cidades, algumas poucas pessoas ainda mantém a troca de correspondências apenas por hobbie. “Quando a minha irmã foi estudar em outra cidade, trocávamos e-mails e ligações via Skype, mas perto do aniversário dela resolvi mandar uma carta. Ela me respondeu, e quando vimos estávamos trocando cartas há cinco anos. Hoje escrevo em média duas ou três cartas por mês para ela, que me envia com a mesma frequência”, fala a advogada Maria Clara Guimarães, de 25 anos.

Ela conta ainda que a as cartas trocadas com irmã servem como forma de terapia, de diversão. Um momento em que ela coloca no papel seus sentimentos e tem a oportunidade até de organizá-los. “É um momento meu, em que sento e escrevo sem a necessidade de ser uma coisa urgente, curta e objetiva”, diz.

Para as gerações mais jovens, pessoas entre 16 e 18 anos, não é raro encontrar quem nunca enviou ou recebeu uma carta a vida inteira. Para eles, que cresceram na época do WhatsApp, Facebook e Skype, a carta tornou-se uma coisa velha e desnecessária.

“Por que eu mandaria uma carta se posso falar pelo Whats e ser respondida quase instantaneamente?”, pergunta a estudante de biomedicina Camila Costa Correia de 18 anos. “Concordo que na época da minha avó, a carta era a melhor opção. Mas hoje em dia, no ritmo acelerado em que vivemos, elas não cabem mais. Não existe a possibilidade de levar um mês para ter a resposta de alguma coisa. Até mesmo as cartas de amor já não funcionam… Imagina se o amor acaba antes mesmo de a carta chegar?”, provoca a jovem estudante.

Mariana Miranda (1° semestre)