Ansiedade, emoção e a espera por uma entrevista: os bastidores da notícia

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O dia? Quarta-feira, 2 de outubro. O lugar? O luxuoso hotel Tryp. Quem? Quatro jovens estudantes de jornalismo. A missão? Fazer a entrevista mais importante de suas vidas. Amanda, Bruno, Clésio e Ezio eram, provavelmente, as quatro pessoas mais ansiosas de São Paulo às 15h daquele dia encoberto.

 

Eles chegaram cedo para esperar por José Ramos-Horta, e não era para menos. Não é todo dia que se entrevista um timorense, mais que isso, o líder do movimento libertário do Timor Leste; mais ainda, o presidente do país até o ano passado; ainda mais, o Prêmio Nobel da Paz de 1996; mais além, atual enviado especial da ONU na missão de pacificação da Guiné-Bissau, na África, cotado para ser o próximo secretário-geral da organização.

 

Para não se perderem no currículo do entrevistado e deixar a ansiedade tomar conta, o grupo tratou logo de deixar toda a estrutura pronta. A sala de reunião do hotel estava reservada, como pediram. Então descarregaram as duas câmeras, tripés, luzes, microfones e lembrancinhas para José. O enquadramento, a posição dele, a iluminação… Eles tentavam fazer tudo com o maior perfeccionismo possível. Afinal, nada podia dar errado.
Mas o horário combinado já chegara e nem sinal do entrevistado. Ou sua agenda lotada tinha o atrasado, ou ele foi mais uma vítima do democrático trânsito de São Paulo, que retêm desde figuras ilustres até humildes paulistanos. Alguns minutos depois, o assessor de José enviou uma mensagem explicando o atraso e que eles não tardavam a chegar. Tempo extra para ser um pouco mais perfeccionista no enquadramento, na posição dele, na iluminação…

Os quatro esperavam na sala, já meio “borocoxôs”, quando duas vozes masculinas no corredor indicaram a chegada. No começo, os estudantes ficaram receosos de cometer a gafe de confundir José com o assessor, por isso estudaram ainda mais fotos dele. Mas, ao chegar com sua típica camisa timorense coral listrada e xale azul, ficou claro quem era o entrevistado.

 

Ele e o assessor cumprimentaram os estudantes, os jovens agradeceram a presença dele e mostraram-no o lugar onde ia se sentar. No começo, o senso de humor de José intimidou os jovens. “Como eu sei como vocês jornalistas trabalham, não vou falar muito. Eu falo três horas e vocês usam três minutos!” Brincou. Mas ao começar as perguntas, eles perceberam que era apenas para quebrar o gelo.
O Bruno se encarregou logo de perguntar como ele havia conhecido Sérgio Vieira de Mello, brasileiro morto há dez anos num atentado em Bagdá quando chefiava a missão da ONU de reconstrução do Iraque. Sérgio é o tema central do documentário realizado pelos quatro entrevistadores e por um quinto integrante, Vinicius. José e Sérgio eram melhores amigos e esse era o principal motivo da entrevista. Ele contou boas histórias com Sérgio durante quase trinta minutos, apesar de prometer não falar muito, ao contar do amigo, José se empolgou. Atrás, Amanda, Clesio e Ezio monitoravam as câmeras, o áudio e a iluminação para que nada desse errado.
José Ramos-Horta soltou pérolas como “Quando morremos, vamos para o céu ou para o inferno, quem decide é o Vaticano.” E também foi singelo ao lembrar de Sérgio: “Se Deus tem conselheiros, certamente Sérgio está sentado ao lado dele agora.” Mais do que isso, ele mostrou como Sérgio conquistou o povo timorense e reestruturou a política devastada do país asiático.

Ao final da entrevista, os quatro jovens tiveram certeza de que a melhor parte da entrevista foi a descrição dada por Ramos-Horta ao povo timorense, quando Sérgio chegou ao país sem que ninguém soubesse quem ele era. “Vocês conhecem o Brasil? – recebendo resposta afirmativa, ele continuou – Pois bem, vocês conhecem Pelé, o rei do futebol?- novamente a resposta foi sim- Então, Sérgio, que aqui está para nos ajudar é o Pelé de sua área, a diplomacia.” Explicou José, que logo foi interrompido pela ovação de seu povo.

 

O Documentário “Sérgio Vieira de Mello – O Pelé da diplomacia” é uma produção do núcleo de Documentários da ESPM-SP, orientado pelo Prof. Dr. Sílvio Henrique Viera Barbosa e integrado pelos alunos Amanda Nunes (6° Semestre), e Bruno de Los Santos Fortuna, Clésio Oliveira, Ezio Jemma Vinícius Martins (todos do 5° Semestre).

José Ramos Horta é Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente do Timor Leste. Foto: Presidência do Timor Leste

 

Clésio Oliveira (5º semestre)