Sobre a situação das mulheres afegãs, é difícil fazer previsões, avalia historiador
Compartilhar
Raeesah Salomão e Viviane Tolosa (2º semestre)
Nos últimos 20 anos, com a expulsão do grupo extremista Talibã, em 2001, pelo exército dos Estados Unidos, as mulheres e as meninas afegãs começaram a ter novamente sua liberdade. Elas puderam voltar ao mercado de trabalho, começaram a ter acesso à educação de qualidade e a expectativa de vida para elas aumentou. No entanto, com a retomada de Cabul pelo Talibã, em agosto deste ano, alguns direitos conquistados pelas mulheres podem estar ameaçados.
Com apenas um mês de governo, alguns retrocessos já foram feitos em relação ao direito das mulheres. Os talibãs reestabeleceram a restrição de mulheres andarem livremente pelas ruas, limitaram o direito de frequentar as escolas, a sede do Ministério das Mulheres foi fechada e substituída pelo Ministério da Propagação da Virtude e da Prevenção do Vício – responsáveis por darem punições baseadas em uma interpretação rigorosa do Islã.
“É muito difícil fazer previsões claras sobre esse novo momento do Talibã no poder. Já pudemos observar que começaram a surgir diversas denúncias de violações de direito contra a mulher, seja na prática esportiva, jornalística e mesmo nas propagandas com mulheres. As primeiras observações parecem indicar que sim, um retrocesso já está acontecendo, difícil é prever a velocidade e a violência com que as mudanças ocorrerão”, explica o professor de história Dirceu Rodrigues.
Além disso, as mulheres começaram protestos para reivindicar seus direitos que foram revogados pelo Talibã. No dia 3 de setembro, as afegãs se manifestaram contra a volta do uso de burcas obrigatoriamente e pediram participação política neste novo governo. Até o momento, os pedidos ainda não foram atendidos.
Segundo o professor Dirceu, esses protestos são importantes pois mostram que as mulheres afegãs estão organizadas e dispostas a lutar para que os retrocessos não ocorram. “Não acredito que o Talibã consiga realizar os retrocessos sem antes ter que enfrentar a força das denúncias da população, o medo existente é que esse perigoso esforço em denunciar não influencie internacionalmente e essa população, sobretudo as mulheres, acabe abandonada”, conclui.
Malala, ativista paquistanesa, declarou em suas redes sociais estar “profundamente preocupada com mulheres, minorias e defensores dos direitos humanos”. A jovem, hoje com 24 anos de idade, foi baleada em 2012, quando tinha 15 anos, com 3 tiros na cabeça por um talibã quando voltava da escola. Malala era conhecida por dar palestras sobre o direito das mulheres à educação. Para ela, todos correm perigo nas mãos do novo governo do Afeganistão.
Ao contrário da primeira vez em que o Talibã esteve no poder, na década de 90, as mulheres podem estudar em universidades apenas separadas dos homens, confirmou o ministro do Ensino Superior do novo regime Afegão. Dirceu já acredita ser uma estratégia de promoção internacional de uma política mais moderada. “Não sabemos se esse acesso à educação das mulheres está realmente assegurado. O fato é que o grupo fundamentalista assume o poder apresentando-se menos radical, infelizmente na prática a realidade parece terrível de qualquer forma para as mulheres da região.”
Para a estudante de relações internacionais da ESPM, Ana Reis, 18, o grupo radical é muito fiel ao que está escrito no Alcorão. Desse modo, Ana presume uma dificuldade na flexibilização da parte deles, já que possuem um histórico de retrocesso sobre as mulheres. “O principal ponto, para as mulheres, é a volta da adoção da Lei Sharia, que tira muitos dos seus direitos e liberdades, como de estudo, expressão, ir e vir e afins. Tudo isso é muito negativo, no que tange ao que a mulher passa a representar na sociedade afegã.”