Reposicionamento de marca editorial é tema de palestra na ESPM-SP
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“A gente continua falando de moda e consumo, mas sem fechar os olhos para as coisas que estão acontecendo no mundo e dizem respeito, principalmente, às novas gerações”. Com a declaração, Susana Barbosa, diretora de redação da revista Elle, abriu a palestra sobre reposicionamento de marca editorial. O evento, que reuniu também Thiago Theodoro, diretor de redação da Capricho, aconteceu no dia 06 de abril e foi parte da Semana de Jornalismo organizada pelo Centro Acadêmico 4 de Dezembro (CA4D).
O foco da conversa foram os dilemas enfrentados pelos veículos de comunicação de moda, diante das mudanças comportamentais dos leitores. Em relação à revista Elle, a grande dificuldade era adequar o veículo a um público que exigia mais engajamento de assuntos atuais, porém, sem deixar de ser uma revista de moda. A solução foi trazer junto a editoriais e às edições da revista a participação dos leitores.
O pontapé inicial para essa mudança foi a publicação da revista com capa espelhada, edição especial de aniversário, o que dava a oportunidade de todas a leitoras estarem na capa de uma grande revista de moda. A edição contou ainda com a participação de uma campanha que convidava o público postar uma foto com a hashtag #VocêNaCapa para a possibilidade de aparecer em um editorial ou até mesmo na capa da revista da edição seguinte.
Quanto a revista Capricho, o desafio era ajustar o discurso do veículo às mudanças comportamentais do público-alvo, meninas adolescentes. Além disso, visavam adaptar o meio de publicação, uma vez que a leitura e o acesso da revista por meio online se tornaram muito mais frequentes e em peso por elas.
A saída encontrada foi o fim da revista impressa junto ao grande investimento na mídia digital (canal no YouTube, site e revista online). O editor frisou que as produções impressas não acabaram totalmente, ainda acontecem quando cabíveis, como guias de turismo e de maquiagem. Ademais, ajustaram a linguagem da marca e adotaram posicionamentos diante de assuntos cotidianos. Um grande exemplo e, além disso, uma grande decisão, foi deixar de lado a imparcialidade e assumir a defesa da causa feminista.
“Ao se voltar exclusivamente para o digital, é intensificado o diálogo com o seu público. Quando é postada uma notícia, você sabe imediatamente o que aconteceu. A partir daí, a gente foi tendo retorno sobre a nossa marca, que nos obrigou a reinventar”, disse Thiago, sobre a comunicação na rede entre a Capricho e as leitoras.
A partir dessas mudanças, tanto Susana, quanto Theodoro ressaltaram a importância de manter a coerência das posições e não cair em contradições, isto é, não abandonar, nas futuras edições, as posturas anteriormente tomadas. Destacaram, também, a relevância de inovações na produção dos conteúdos publicados. A revista Elle evidenciou essa inovação, por exemplo, em um editorial fotografado por drones, enquanto a Capricho investiu em seu canal do YouTube ao produzir vídeos de desconstrução de paradigmas e tabus de moda e comportamento.
O evento contou ainda com perguntas de quem estava no auditório. Um dos questionamentos foi tido como polêmico: tratava da inserção de blogueiros no contexto jornalístico. O diretor de redação disse que, em princípio, eles eram tidos como concorrentes, mas com o tempo as mídias mais tradicionais passaram a lidar com esses profissionais como parceiros e colaboradores das revistas.
Susana concordou, mas fez uma ressalva em relação às blogueiras de moda: “eu não vejo nenhuma delas, que tem um poder de influência tão grande, se posicionando diante de nenhum desses assuntos que estamos abordando”. Ela faz referência à aceitação de diversos padrões de beleza e até mesmo do feminismo.
Com o fim das perguntas a palestra, intermediada pela professora Cláudia Bredariolli, foi encerrada e os convidados ficaram à disposição dos presentes para possíveis perguntas, fotos e discussões à parte.
Com Ana Carolina Cavallini