CARREGANDO

O que você procura

Campus Geral

Professores de jornalismo debatem ética, formação curricular e o futuro da profissão

Compartilhar

A ESPM-SP recebeu, no final do mês de abril, em seu campus na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, o VI Encontro Paulista de Professores de Jornalismo. Realizado pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), o evento propõe uma reflexão sobre o ensino da profissão, bem como sobre os desafios da prática docente na atualidade.

Os debates do encontro se concentraram na formação em jornalismo no Brasil e sua trajetória, situação e perspectivas. Entre os debatedores presentes estavam Carlos Eduardo Lins da Silva, representando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); José Coelho Sobrinho, em nome da Universidade de São Paulo (USP); e Eugênio Bucci, da ESPM-SP e da USP.

Ao discutir a qualificação do profissional de jornalismo, Carlos Eduardo Lins afirmou haver uma crise na profissão desde a virada do século XXI. Segundo o professor, a existência de problemas estruturais afeta o ensino do jornalismo, que experimentou um crescimento expressivo na segunda metade do século XX. “Hoje, nós temos um número imenso de escolas de jornalismo no País, que formam um contingente de jornalistas para uma atividade que está em declínio nas suas formas tradicionais e que ainda não está plenamente preparada para essa adaptação”, disse.

Para Lins, antigamente era claro o que um jornalista iria fazer: trabalhar em jornal, revista, rádio ou emissora de TV. Hoje o panorama seria diferente: cada vez há menos empregos nos veículos tradicionais, e os veículos novos ainda não estão plenamente estruturados em termos de negócio e credibilidade. “Não há ninguém que consiga dizer o que irá acontecer daqui a 20 anos nesse setor, tanto na profissão quanto nas universidades”, concluiu.

Formato nacional – O modelo de jornalismo brasileiro é inspirado no norte-americano desde sua ascensão e consolidação, entre os séculos XIX e XX. A partir da Segunda Guerra Mundial, as práticas foram implantadas, também, no ensino. Nos Estados Unidos, a formação foi sempre baseada no trade school (escola de ofício, em tradução livre), acompanhada por outros formatos teóricos de qualificação. Segundo Lins, sempre houve conflitos entre os professores teóricos e práticos. “Eu sempre consegui, felizmente, ser os dois. Por causa disso, eu era atacado dos dois lados – os teóricos me criticavam por ser prático demais e os práticos, por ser teórico demais”, disse.

Após a fala de Lins, o professor José Coelho Sobrinho abordou a crise de identidade dos cursos de jornalismo a partir da polêmica questão dos currículos mínimos exigidos para a formação dos profissionais. “Ficamos desorientados. Até que ponto todos podem exercer a profissão?”, questionou. “Não paramos para discutir a essência do jornalismo para projetar os nossos cursos. É, na realidade, uma crise de conteúdo”, disse.

Uma questão polêmica abordada por Sobrinho foi a do embate entre o interesse público e os “interesses administrativos”. “Nós não discutimos, por exemplo, os direitos fundamentais do cidadão no curso de jornalismo. Estou fazendo uma pesquisa nas universidades de São Paulo e o que pude notar foi que o conteúdo dos cursos está mais direcionado para o mercado”, afirmou.

Após a fala, Eugênio Bucci propôs um debate com a plateia, baseado em dois questionamentos: o curso de jornalismo deveria estar dentro da área de comunicação ou ter uma matriz curricular própria? O curso poderia ser, também, de pós-graduação? Segundo ele, os modelos de formação atuais, com disciplinas como jornalismo impresso e radiofônico, ainda estão baseados em um passado formal e técnico e merecem ser alvo de atenção dos pesquisadores e docentes. “Não é o caso de repensarmos, mexermos nas grades curriculares? Temos liberdade para isso”, questiona. 

A voz do professor

FÓRUM

Jaqueline Lemos (esq) e Renata Carraro (dir). Foto: Renata Fleischman

 

A professora de ética e legislação das Faculdades Rio Branco Renata Carraro e a professora de prática e reportagem Jaqueline Lemos, da Universidade São Judas Tadeu, conversaram com o Portal sobre os temas que foram abordados no encontro. Confira:

Portal – Jaqueline, você apontou, na palestra, a importância de se “chamar a atenção do aluno” para o curso de jornalismo. Você acha que, atualmente, os cursos estão cumprindo com o papel de mostrar como ser um bom profissional?

Jaqueline – Eu considero que sim, mas a grande questão seria: será que nós sabemos o que o estudante de jornalismo busca no curso? O que ele imagina que ele vai ser depois que se formar? Eu acho que é para essas perguntas que não temos claramente a resposta. Sou formada há 25 anos, e quando optei pelo curso eu tinha apenas uma vaga ideia do que era jornalismo. Devemos buscar a resposta para essas perguntas, pois, quando falamos de currículo, precisamos dialogar com o interesse do aluno.

Portal – Vocês consideram necessário haver alguma disciplina essencial que talvez esteja faltando nas grades curriculares de jornalismo?

Renata – Não necessariamente, eu acho até que tem disciplinas demais… talvez a forma com que essas disciplinas são trabalhadas e abordadas pudesse ser modificada, com mais diálogo e interação entre esferas de conhecimento. Por exemplo, de que adianta tratar de direitos humanos no curso de ética e legislação, falar da importância do interesse público, se na disciplina de redação jornalística essa questão não está clara para o aluno?

Portal – Você acha que atualmente as mídias tratam a divulgação de seus temas com ética, responsabilidade e boa apuração?

Renata – Acho que boa apuração em termos. É difícil de generalizar, mas posso dizer que, no geral, o jornalismo brasileiro peca muito em termos de ética jornalística. Há pouca apuração, não há diversidade de pontos de vista, as fontes são muito viciadas, opina-se muito em espaços reservados para informação… isso renderia uma lista.

Portal – Sobre a assessoria de imprensa: vocês acham que o estudante que busca ser assessor deve estudar jornalismo ou relações públicas?

Jaqueline – Há muito tempo atrás, apesar de o professor Bucci provavelmente não se recordar disso, eu estive em uma reunião com um grupo de pessoas no sindicato dos jornalistas e estávamos justamente conversando sobre cursos para os profissionais de comunicação, e ele fez uma ponderação que eu achei muito oportuna. A atividade do assessor de imprensa não tem uma relação direta com o jornalismo, trabalha-se de uma maneira diferente. O objetivo é outro, apesar de os dois estarem no ambiente da comunicação. O trabalho do jornalista tem uma característica e uma função social, e o assessor de imprensa tem outra característica e outra função. É preciso deixar claro para o profissional que eles atuam em ambientes distintos.

Renata – Foi dito que o assessor de imprensa originalmente trabalha para facilitar o trabalho da imprensa. Isso não tem cabimento, porque quem paga o assessor é a empresa, então porque ele trabalharia para facilitar o trabalho da imprensa? Isso não tem muita lógica. Se o jornalista for trabalhar como assessor de imprensa ele irá prestar os seus serviços para a empresa e não para a imprensa.

Portal – O que vocês acham da proposta de o curso de jornalismo figurar como uma parte específica dentro da formação em comunicação?

Renata – Se a gente for ter um olhar mais geral, tanto faz. Agora se tivermos uma visão mais prática e logística, para as faculdades fica muito difícil se colocarmos o jornalismo como uma área à parte.

Jaqueline – Acredito que o importante dentro do curso é o estudante ter em mente o que está fazendo. Há muitas disciplinas que são específicas da nossa área de conhecimento, apesar de estarmos na grande área que é a da comunicação. Existem milhares de funções dentro desse campo. Se o processo de aprendizado estiver em um currículo restrito ao jornalismo, talvez seja uma questão de estrutura e organização interna das faculdades.

Renata Fleischman (1º semestre)

Tags:

Você pode gostar também

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *

سایت شرط بندی بازی انفجار با ضرایب بالا بهترین سایت پیش بینی فوتبال آموزش شرط بندی فوتبال سایت شرط بندی حضرات ریچ بت گاد بت سایت نیلی افشار سایت هات بت دنیا جهانبخت در شهروند بت آدرس سایت لایو بت در شهروند بت آدرس سایت تاینی بت در شهروند بت آدرس سایت یلماست بت در شهروند بت سایت ای بی تی 90 در شهروند بت پابلو بت در شهروند بت سایت هیس بت مهراد جمح ولف بت میلاد حاتمی در شهروند بت بازی انفجار چیست در شهروند بت آموزش بازی انفجار آدرس سایت شرط بندی حضرات بت پویان مختاری سایت شرط بندی هات بت دنیا جهانبخت سایت بازی انفجار تاینی بت هیس بت سایت شرط بندی سایت شرط بندی یلماس بت ندا یاسی سایت شرط بندی سیب بت سایت جت بت سایت abt90 ساشا سبحانی سایت شرط بندی لایو بت آموزش بازی انفجار آموزش هک بازی انفجار الگوریتم بازی انفجار بهترین سایت بازی انفجار آنلاین دانلود اپلیکیشن بازی انفجار شرط بندی ترفندهای برد بازی انفجار روبات تشخیص ضریب بازی انفجار آموزش برنده شدن در بازی انفجار آدرس سایت بت هیس بت سایت مهراد جم جت بت سایت میلاد حاتمی آدرس سایت تاینی بت آدرس سایت لایو بت داوود هزینه آدرس سایت حضرات پویان مختاری آموزش حرفه ای بازی انفجار آموزش بازی حکم در پرشین بت آموزش پیش بینی فوتبال در پرشین بت بهترین سایت های شرط بندی ایرانی آموزش بازی انفجار تاینی هلپ آموزش بازی انفجار سایت هیوا نیوز اخبار سلبریتی ها تاینی نیوز google bahis online bahis siteleri casino FaceBook twitter آدرس جدید سایت بت فوروارد فارسی آدرس جدید سایت سیب بت بیوگرافی دنیا جهانبخت آموزش بازی انفجار آنلاین برای بردن سایت شرط بندی حضرات پویان مختاری سایت ای بی تی 90 ساشا سبحانی سایت پیش بینی فوتبال پرشین بت آموزش قوانین بازی پوکر آنلاین شرطی خیانت پویان مختاری به نیلی افشار سایت لایو بت داوود هزینه سایت پابلو بت علیشمس سایت تاک تیک بت سایت شرط بندی حضرات بت اپلیکیشن بت فوروارد دنیا جهانبخت کیست سایت شرط بندی هات بت دنیا جهانبخت سایت گاد بت نیلی افشار سایت شرط بندی فوتبال معتبر سایت شرط بندی فوتبال معتبر Pablobet