O saber do mito

Marina Cassiolato
»»» Aos oito anos, um garoto, ao visitar o Museu de História Natural de Nova York, ficou fascinado por um quadro que continha a ilustração de produtos manufaturados por ameríndios americanos. Desde então apaixonado pelo  que tinha visto, começou a ler tudo o que havia de informação sobre os índios, seus mitos e lendas. Percebeu, aos 10 anos de idade, o poder que a mitologia tinha para a formação cultural das tribos.

Joseph Campbell era filho de pais católicos, mas faleceu em 1987 sem professar qualquer religião; ao lado, reprodução da capa de algumas de suas principais obras | foto divulgação

Com o passar do tempo o menino começou a notar que a mitologia não tinha importância somente para os índios locais, mas que existiam semelhanças entre os mitos das mais diversas culturas humanas. Isso levou o garoto Joseph Campbell a se aprofundar no tema e deu início a uma carreira de sucesso, com mais de 20 livros publicados.
“A obra mais importante do mitólogo Joseph Campbell, a meu ver, é ‘O Herói de Mil Faces’, lançada em inglês em 1949, em que ele registra sua ideia de monomito, isto é, de uma estrutura mítica que permearia toda os mitos da humanidade”, conta a professora e integrante da Joseph Campbell Foundation Monica Martinez. Entre os leigos, sua obra mais conhecida é provavelmente “O Poder do Mito”.
Joseph John Campbell nasceu em 26 de março de 1904 na cidade de White Plains, Nova York. Filho de pais católicos, encerrou o colegial e foi estudar biologia e matemática na Faculdade de Dartmouth. Em 1925 transferiu-se para a Universidade de Columbia, onde completou graduação em Literatura Inglesa e realizou mestrado em Literatura Medieval.
Dois anos depois recebeu uma bolsa de estudos na Europa. No continente  teve contato com as obras dos escritores James Joyce e Thomas Mann, as artes modernistas e os conceitos psicanalíticos de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. Em 1929, voltou aos EUA, fascinado com os conhecimentos adquiridos na viagem, e começou um longo período de estudos independentes.
Campbell tinha o objetivo de compreender, com seus estudos, o poder das histórias e lendas. O que resultou num aprofundamento das análises sobre a mitologia e a religião das mais diversas culturas humanas.
Joseph Campbell explicou que os mitos e as religiões são formatos institucionalizados que permitem ao praticante tentar compreender mistérios profundos, como o da existência e experiência humanas. Quem somos, de onde viemos, por que existimos, para onde vamos?
Além disso, o estudioso comparou as escrituras sagradas de inúmeras religiões do mundo e nelas encontrou muitas histórias semelhantes sobre a criação do universo. Chegou à tese do monomito, o mito fundador que tem uma essência comum no mundo inteiro, embora se apresente com diferentes nomes e imagens.
A conclusão foi que Deus possui apenas “máscaras” conforme cada religião, e que “existe uma verdade só, que os sábios chamam por vários nomes”.

Modernidade
No livro mais recente do autor lançado no Brasil, “Máscaras de Deus”, ele defende que houve uma alteração no modo como os mitos surgem em relação ao passado, uma vez que no mundo moderno cada indivíduo, ao viver plenamente, torna-se um “myth maker”, uma inspiração para outros. Antes, Campbell atribuía essa função apenas às divindades e aos heróis.
Em 1985 e 1986, no seu auge intelectual, Joseph Campbell se reúne com o jornalista Bill Moyers para uma série de entrevistas. O resultado é o cultuado livro “O Poder do Mito”. No entanto, antes de a obra ser publicada, Joseph John Campbell faleceu, aos 83 anos, em sua casa, em Honolulu, Havaí, devido a complicações causadas por um câncer esofágico.
“A frase de Campbell que mais me toca é a ‘Follow your bliss’, encontre sua felicidade e não hesite em segui-la. Com isso você se sentirá pleno e realmente vivificará seu entorno”, diz Martinez.