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Edição 07 - Faces da Fé Faces da Fé Plural

"Mistérios da fé" é tema de capa da nova revista Plural

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Bianca Gomes
Fernando Turri
Juliana Marques
Laura Stabile
Lucas Negreiros
»»» “Eu tenho uma tendência muito comum do século 21, que é a homossexualidade. Comecei a perceber isso desde criança. Minha mãe caiu nas drogas, se envolveu com um rapaz muito perigoso. Entrei na Igreja para pedir ajuda por ela, mas na verdade era uma válvula de escape”, conta Vinícius Dias, autônomo em uma empresa de consórcios.
“Sempre fui religiosa, eu fui educada na Igreja lá em Portugal. Os meus pais já eram religiosos e tem uma coisa muito legal que eu aprendi com o meu pai. Ele ajudava o próximo e dizia ‘se você tiver apenas um pão e passar alguém lhe pedindo alguma coisa, você divida o seu pão’”, lembra Marília Nogueira Caetano, aposentada.
“Fui missionário por cinco meses. Eu ia de casa em casa vendendo livros e falando de Cristo. Em uma casa havia uma senhora com problemas de saúde, que havia perdido o marido. Eu lhe disse que um dia encontraria o marido novamente no céu. Ela chorou e disse ‘você é um anjo’. Por fim me perguntou se o céu é real”, narra Lucas Andrei, estudante.

Fiéis católicos comemoram a Páscoa | foto Bianca gomes

Fiéis católicos comemoram a Páscoa | foto Bianca gomes

Os caminhos que levam as pessoas à religião, qualquer religião, são múltiplos. Alguns se tornam crentes por herança, pois assim foram ensinados. Outros têm algum tipo de epifania. Em outros o caminho começa com uma inquietação ante a aparente falta de sentido da existência. Para muitos, é um meio de superar sofrimentos profundos. Para outros, uma forma de se ligar a uma comunidade. Em comum, têm o sentimento de fé, de que o mundo é mais do que aquilo que os olhos veem.
As pessoas seguem aquilo que lhes conforta, escolhem aquela crença que lhes faz bem.
“Faz sentido eu rezar para um Deus que eu não conheço? Sim, na medida em que imagino que exista essa força”, comenta Mário René, estudioso de religião e coordenador do curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM-SP.

Humanidade
A religiosidade é uma característica exclusivamente humana, na qual o homem procura explicações no sagrado para compreender a si e a sua existência no mundo. Esse atributo humano não está relacionado a nenhuma religião específica.
“Há na alma humana, no espírito humano, a busca por algo que vai além do limite, o que a gente pode chamar de sentido último, aquele que de fato você precisa ter mesmo quando todos os outros terminam”, afirma Eulálio Figueira, professor de teologia da PUC-SP.
Andrey Mendonça, formado em filosofia na PUC-SP e professor da ESPM-SP, complementa que, para os estudiosos, há duas razões a serem analisadas. A primeira é uma resposta baseada no senso comum: a busca pela religião simboliza o medo da morte e a esperança de que a vida não tem um fim.
A segunda é uma análise antropológica. Desde quando o ser humano se organizou como bandos e pequenas comunidades, também começou a formar uma sociedade e, mesmo que de modo primitivo, a religião já estava presente nesse momento.
Do ponto de vista do filósofo alemão Immanuel Kant, um dos principais pensadores a criticar a relação entre o homem e a religião, Deus desempenha o papel de “legislador moral”, necessário para alcançar um mundo perfeito.
Nos primórdios da religião, não existia o sentido de uma instituição representante, que se desenvolveu séculos depois. As crenças eram vinculadas àquilo que as pessoas não podiam determinar ou explicar.
Por exemplo, nas religiões xamânicas, alguém que, de alguma forma, se conectava com a natureza ou com elementos não compreendidos era um indivíduo que falava com forças para além do que as pessoas conseguiam entender.
“Aqui nasce o conceito que mais tarde daríamos o nome de ‘transcendência’, ou seja, aquilo que transcende pessoas, poderes ou forças que antes eram a natureza, como a chuva, o sol, o raio e o fogo”, diz Mendonça.

Religioso vs. religião
A fé, ao contrário do que se pensa, é um conceito que vai além da ideia de crença. Acreditar não é suficiente. Fé é ter confiança e esperança naquilo que não se vê, não se toca e não se encontra no mundo concreto.
“Mesmo aqueles que dizem não a Deus elegem outra coisa no lugar dessa divindade”, afirma Mendonça. O sentimento místico de religiosidade está presente em crenças que parecem não se relacionar com dogmas e fé. Os objetos de devoção que podem substituir os tradicionais símbolos religiosos podem ser a ciência, uma utopia política, um tipo de eugenia étnica, como grupos neonazistas. Para muitos estudiosos, engana-se quem pensa que é possível viver apático à espiritualidade. “Se você levar a religião no sentido lato, você pode dizer que não existe indivíduo sem religião, porque não é possível que exista alguém que não tenha uma crença, empírica ou não”, conta Figueira.
Em contrapartida, Eduardo Oyakawa, professor de filosofia na ESPM-SP, acredita que o ser humano não precisa de crenças e dogmas. “É possível viver sem acreditar no sobrenatural, basta acreditar que sua razão é de ordem tão poderosa que você tudo sabe e conhece”, afirma.

Estátuas no templo budista Tzon Kwan na Vila Mariana| foto Lucas negreiros

Estátuas no templo budista Tzon Kwan na Vila Mariana | foto Lucas Negreiros

Mendonça traça um panorama histórico de como o homem foi transformando o centro de seus paradigmas e crenças, do Deus às ciências. “Quando nós tiramos Deus do centro, e esse movimento começa no início da modernidade, colocamos o ser humano. Depois tiramos o ser humano e colocamos a razão. Por fim, reformulamos a razão e colocamos a ciência como o centro”, conta.
No entanto, para ele essa substituição só altera o objeto de devoção, mas não o sentido em si. “Parece que todos esses centros, no final das contas, têm características daquela divindade antiga que fora perdida. Nisso entra a ideia de homo religiosus”, completa o filósofo, explicando que, no fundo, todo ser humano é um ser religioso.
“Hoje tem muito mais gente que considera a religião um conto de fadas. Se for ou não conto de fadas, não tenho como dizer. Mas acredito que a fé independe de religião”, acrescenta Mário René.

Modernidade
“Antigamente era uma anomalia não ter religião. A modernidade traz a possibilidade de não precisar ter uma religião. A igreja já foi uma instituição responsável por funções políticas, por exemplo, registro de batismo que era como tornar o sujeito cidadão e hoje isso não existe mais”, afirma Figueira.
Então, por que hoje ainda existem pessoas religiosas? De acordo com o professor de teologia da PUC-SP, há duas referências que confirmam a existência da religião: uma antropológica, em que se pode dizer que o que define o homem, e o coloca além da sua animalidade, é a percepção do religioso. A outra é a legitimidade política, na medida em que se tem indivíduos que não são religiosos, mas que vivem em uma sociedade em que a religião está presente.
Segundo Mário René, esse é o caso dos jovens, uma vez que existe uma descrença maior na religião do que havia há 50 anos. “Hoje, com o avanço tanto da ciência quanto da comunicação rápida, me parece que os fenômenos religiosos ficaram menos relevantes.” As datas comemorativas, como o Natal e a Páscoa, já não carregam mais os mesmos significados, valores e sentidos religiosos que carregavam para gerações anteriores.
Para o doutor em sociologia pela Universidade de Paris e especialista em antropologia da religião, Pierre Sanchis, “o campo religioso é hoje, cada vez menos, o campo das religiões”, pois o homem, procurando criar um universo particular, extinto de dúvidas e preenchido de sentido, foge de regras definidas pelas instituições.
Já Stefano Martelli, autor do livro “A religião na sociedade pós-moderna”, defende que, ao contrário do que se diagnosticava sobre o fim da religião, há um reavivamento do fervor religioso.

Mário René, estudioso de religião e professor da ESPM-SP | foto laura stabile

Mário René, estudioso de religião e professor da ESPM-SP | foto Laura Stabil

Fé e ajuda
A partir da década de 1960, com o movimento hippie nos EUA, surgem as religiões associadas a nova era. Essas espiritualidades buscam encontrar poderes fora e, ao mesmo tempo, dentro do ser humano, chamadas de teologia da auto ajuda.
Já a fé tradicional defende que se deve acreditar em algo exterior a si mesmo e, ao acreditar nisso, o devoto estaria sujeito a uma espécie de lei de retribuição. Por exemplo, nas religiões afro-brasileiras, há a crença nas palavras do sacerdote e rituais, como o sacrifício, para ser recompensado pela divindade com a realização de seu desejo.
Buscar apoio da religião, muitas vezes, está ligado à dificuldade. “O que as pessoas fazem em momento de desgraça? Elas rezam. ‘Reze como se tudo dependesse de Deus, mas aja como se tudo dependesse de si’, para mim isso é a lição número um da vida, junto com essa outra: ‘Ajuda-te que os céus te ajudarão’”, pondera o estudioso Mário René.
“É muito comum hoje no Brasil, clínicas de reabilitação serem baseadas em pressupostos religiosos para curar pessoas que procuram sair do alcoolismo ou deixar as drogas, por exemplo”, aponta Mendonça. Contudo, muitas pessoas com doenças graves, ao invés de se aproximarem da religião, podem ter uma antipatia à ela, como se a doença fosse uma prova de que Deus as abandonou.
Além disso nem toda religião, é uma religião de salvação. No hinduísmo, por exemplo, uma pessoa acometida de certa doença, mal familiar ou mesmo um acidente, acredita que isso faz parte do destino que está determinado para ela.
Assim, a salvação não estaria no livramento, ou no consolo e conforto, que é muito associado ao cristianismo e a certas religiões que no Brasil se acomodaram a uma atmosfera cristã. Nesse caso a religião tem um papel de determinar que a pessoa não apenas aceite aquela situação, mas a vivencie se desapegando da vida.
Hoje, 2500 anos depois, se pesquisa a fé no sentido mais individual, ou seja, a razão pela qual as pessoas creem em alguma coisa que vai além delas.

Paróquia Espírito Santo reúne católicos em cerimônia | foto Bianca gomes

Paróquia Espírito Santo reúne católicos em cerimônia | foto Bianca Gomes

Censo: o mapa religioso do Brasil
O último censo sobre religião no Brasil foi realizado em 2010. Entre os dados mais relevantes, destaca-se o crescimento das religiões evangélicas, principalmente as neopentecostais. De 2000 a 2010 os evangélicos saltaram de 15,4%, para 22% dos brasileiros.
Para o teólogo Rodrigo Franklin de Sousa, a maior adesão dos brasileiros à religião evangélica, em especial as neopentecostais, possui vários motivos. Um deles seria o momento econômico e político em que o Brasil se encontra, nomeado por ele como “surto de conservadorismo”. As linhas mais conservadoras da religião evangélica resgatam ideias coloniais como ordem, bons costumes, moral e tradicionalismo, que levam prosperidade.
A prosperidade propõe um discurso diferente do que existia há 30 anos. Antes falava-se em pecados, céu e inferno. Hoje, nos cultos das igrejas neopentecostais, é comum pastores falarem em riqueza e pobreza, como melhorar a vida financeira e ter sucesso. “Tudo o que você precisa fazer é ir a igreja, dar sua fé e permanecer lá. Isso te trará uma casa boa, um emprego bom”, afirma o teólogo.
O censo de 2010 também apresenta uma baixa adesão das religiões afro-brasileiras, 0,30%. Rodrigo Franklin acredita que a justificativa está ligada ao racismo ainda persiste na sociedade brasileira, ao passo que essas religiões são associadas a pessoas negras, resgatando a ideia de barbarismo pregada no Brasil colônia.
Outra explicação para o declínio de fiéis é a migração deles da Umbanda e do Candomblé para as religiões evangélicas. Apesar do discurso das igrejas neopentecostais demonizar as religiões afro-brasileiras, as duas possuem características em comum. “Quando pessoas da Umbanda se convertem para a religião evangélica acontece um fenômeno interessante. Muitas das práticas que eram da Umbanda estão aparecendo no meio da evangélica. Então, a igreja tem o discurso de demonização do culto afro, mas incorpora muitas das práticas dele, como a incorporação, os ritos e as passagens”, afirma o teólogo.
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Embora exista uma queda na adesão em relação a 2000, esse processo vem diminuindo devido às políticas públicas, como a obrigatoriedade da cultura afro-brasileira nas escolas e outros incentivos que desmistificam o preconceito.

Diversidade religiosa?
É impossível estudar Brasil sem citar a religião. O brasileiro relaciona-se profundamente com crenças e ritos em muitos aspectos de sua vida. “O brasileiro acende, simultaneamente, uma vela para Deus e outra para o Diabo”, escreve Léa Freitas Perez, antropóloga e professora da UFMG, em seu artigo chamado “Breves notas e reflexões sobre a religiosidade brasileira’’, a fim de dizer o quão múltipla e diversa é a religiosidade do povo brasileiro.

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A religião é um aspecto cotidianamente presente no País, integra a cultura e é instrumento de estudo para política, economia e sociedade. A forma como a religião se configurou no País, de forma plural, diz muito sobre a relação do brasileiro com as crenças e dogmas.
O Brasil, desde sua colonização, é predominantemente cristão. O cristianismo se estabeleceu a partir da colonização portuguesa que chegou ao território em 1500. A conquista lusitana tinha como uma de suas justificativas a expansão da fé cristã, que levou à práticas como a catequização dos índios pelos jesuítas e a difusão dos princípios da Igreja Católica para colonos e escravos.
A convivência entre as diferentes crenças ao longo da história do Brasil possibilitou o surgimento de novas formas religiosas a partir da junção de dogmas e ritos. Esse processo é conhecido como sincretismo. “Desde a colonização, sempre houve intercâmbio entre essa religiões, ainda que da forma muito negativa, pela imposição e desvalorização da cultura indígena e demonização da cultura africana”, afirma o teólogo Rodrigo Franklin de Sousa.
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O filósofo Mendonça explica como é a convivência entre as diferentes religiões que existem no Brasil. “Ela é razoavelmente pacífica, o que não significa que não há violência ou conflito. Contudo, o Brasil tem uma tendência de diminuir ou até mesmo mascarar conflitos para se vender como um País pacífico. Diferentemente de outros lugares, onde os conflitos são mais abertos, aqui o problema é mais crônico e existe desde o começo.”
Após a Igreja Católica perder seu monopólio religioso no Brasil, com a Constituição de 1891 defendendo o Estado Laico, a concorrência por fiéis se ampliou. Esta situação fez com que instituições religiosas abrissem mãos de parte de suas crenças para atrair uma maior quantidade de fiéis.
“No fim, todos tiveram que fazer concessões, e é por isso que a religião no Brasil é uma colcha de retalhos. Mesmo o catolicismo sendo a opção da maioria dos brasileiros, ele também absorve práticas que não são próprias dessa religião. Por isso o sagrado e o profano convivem próximos um do outro”, afirma Mendonça.

Cerimônia de Umbanda em terreiro na zona sul de São Paulo | fotos Fernando Turri

Cerimônia de Umbanda em terreiro na zona sul de São Paulo | fotos Fernando Turri

Essa mistura de religiões se tornou uma característica da religiosidade do brasileiro. Ele não vê problema em combinar diferentes tipos de religião. É comum encontrar pessoas que, por exemplo, se dizem católicas e frequentam o centro espírita.
Léa Freitas Perez qualifica outro aspecto da religiosidade do brasileiro, dizendo que “trata-se de uma religiosidade festiva e carnal, vivida mais teatralmente, pública e coletivamente, do que sentida na solidão do foro interior, no fundo de si mesmo”.
Exemplo disso é a presença do chamado culto performático em diversas religiões, que diz respeito às práticas de rituais religiosos que incluem características teatrais que valorizam o corpo, a música, a performance. Além das danças praticadas durante os cultos umbandistas e as músicas evangélicas e católicas.
Da mesma forma que a performance passou a integrar muitas religiões, outros aspectos foram se inserindo. Vários índios já não creem em pajés, assim como católicos e umbandistas podem duvidar da existência de santos e orixás. Hoje, o novo contexto cultural deu às religiões – ou melhor, aos religiosos – a possibilidade de se redefinirem.

A Catedral da Sé, em São Paulo; maioria dos brasileiros se diz católica | foto lucas negreiros

A Catedral da Sé, em São Paulo; maioria dos brasileiros se diz católica | foto Lucas Negreiros

Especialista critica método do Censo
Bianca Gomes
»»» O Censo é um estudo estatístico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que tem como objetivo recolher informações sobre as características da população brasileira. Um dos pontos pesquisados pelo censo é a religião. Em um texto técnico sobre o censo de 2010, a diretoria de pesquisas afirma que “tais informações contribuem para assegurar o conhecimento e a preservação da formação histórica e cultural da população brasileira e, simultaneamente, para a promoção da diversidade e o combate à discriminação e intolerância”.
Apesar do Censo ter credibilidade no país, há questões discutidas sobre a legitimidade dos dados. A teóloga e antropóloga pela Universidade de São Paulo, Jacqueline Moraes Teixeira, pontua que o censo deve ser levado em conta, mas que é preciso ter cautelas para analisá-lo. “E preciso saber como as perguntas foram feitas e reconhecer a realidade dos fatos”, afirma.
Segundo a estudiosa, o Brasil é praticamente o único país que classifica pertencimento religioso. O censo pergunta de qual religião você é, e não qual instituição você frequenta. Dessa forma, cria-se uma diferença. “Quando ele pergunta de que religião você é, é claro que vamos ter ainda uma maioria se dizendo católica, pois essas pessoas se veem como católicas. Entretanto, não significa que de fato vão à Igreja Católica. Elas podem ir ao terreiro, ao centro espírita, ao culto da Igreja Evangélica”, explica.
Jacqueline compara a pergunta do censo sobre religiões com a pergunta feita sobre cor e raça. “Ele classifica você numa das raças, amarelo, negro, branco, indígena. Depois, na cor, as pessoas falam um milhão de cores. Dessa forma, não necessariamente as pessoas se consideram a partir da classificação do censo. Para a religião, com certeza aconteceria a mesma coisa.”
Por ter categorias muito fechadas, o Censo não deve ser levado “ao pé da letra”, mas há informações que dizem muito. “Por ser um dado muito grande, já é possível pensar algumas coisas.”

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