Na internet, "fake news" alimentam a intolerância
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»»» Escolhido pelo Dicionário Oxford como a palavra do ano em 2016, o termo “pós-verdade” tornou-se recorrente quando se trata de falar sobre a divulgação de notícias falsas nos espaços midiáticos, especialmente os virtuais. O substantivo foi definido como algo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência na construção da opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
É neste contexto que fatos verídicos têm perdido a importância no debate político diante da ampla divulgação de boatos. O fenômeno gera um espetáculo narcisista. “As notícias falsas funcionam como um reforço para o argumento individual de cada um”, afirma o professor Fábio Malini. “Nem sempre seu conteúdo é necessariamente de todo falso. Há mais meias verdades do que falsidade propriamente dita nas fake news.”
O que muitas pessoas podem não saber, porém, é que esse fenômeno serve como estímulo para a ação dos algoritmos – códigos baseados em inteligência artificial interligados às redes – que permitem a uma base de dados conhecer e prever o que cada usuário “irá gostar de ver”. Esse fenômeno promove o surgimento de “bolhas políticas”, incentivando um ciclo de alienação, no qual o usuário que vê somente conteúdos convenientes a ele perde o senso crítico.
Gustavo Dainezi alerta que isso potencializada a intolerância. “Nos algoritmos atuais só irão aparecer notícias que tendem a agradar ao usuário. Ou seja, se você faz um site mentiroso, com notícias falsas, mas com uma configuração forte, ele será superior em alcance.”
Um exemplo das consequências da proliferação da pós-verdade é o próprio cenário político no qual vários resultados eleitorais – tanto no Brasil quanto no exterior – têm sido inflados ou até mesmo redirecionados em razão da divulgação de notícias falsas. Sabine Righetti chama atenção para o fato. “O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff recebeu apoio popular por conta da disseminação de notícias falsas. Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, foi eleito por meio do mesmo processo e isso é muito grave.”
A jornalista alerta para outros reflexos desse problema. “A partir do momento em que o eleitorado elege ou deixa de eleger alguém graças a uma notícia falsa, você desenha uma sociedade que vai funcionar movida a informações falsas”. Para ela, a solução passa pela educação. “Especialmente por sermos uma democracia jovem, precisamos aprender a falar de política, mas a realidade caminha para um rumo contrário a esse.”