Com imagens e sons, Lineu Finzetto encanta a Vila Mariana
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Com um pincel e um instrumento nas mãos. É dessa forma que o artista plástico e saxofonista Lineu Finzetto, de 61 anos, vivencia sua rotina no bairro da Vila Mariana. Pai de quatro filhos, ele busca uma vida simples e calma em que seus olhos e ouvidos se enriqueçam, a cada dia, com imagens e sons.
Descendente de italianos, seus avós saíram da Europa para Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e depois partiram para a Freguesia do Ó, bairro paulistano onde nasceu Lineu. “Foi às margens do rio Tietê que eu fiz minha infância. Era a várzea que dava barro para fazer cerâmica, tijolos e telhas para o sustento da família”, diz. Viveu na região até 2001, quando se mudou para a atual residência, na Vila Mariana.
Uma xícara de arroz
Franco em suas opiniões, Lineu notou, ao longo desses onze anos, a verticalização da Vila, que se valoriza com imóveis cada vez mais caros, mas, ao mesmo tempo, tem perdido parte de sua beleza. “Este é um bairro antigo, com casas antigas, mas com a construção de prédios, em termos líricos, perde o seu encanto”, lamenta. Ele ainda lembra que o ar de simplicidade, marcado pela convivência e pela amizade, também acaba sendo perdido. “Sabe quando a gente chega para o vizinho e pede uma xícara de arroz?”, pergunta e responde: “Isso não existe mais por aqui”.
No entanto, Lineu busca resgatar a simplicidade da vida harmonizando-se com a pintura e a música. A arte é uma paixão que vem de muito tempo, por isso cursou desenho mecânico. Aprendeu a usar régua, compasso e esquadro, mas antes de surgirem o logaritmo e os cálculos, largou o curso. “Eu queria apenas o lápis e o papel para desenhar”, diz.
Se o dom de desenhar ele já tinha, as técnicas de pintura e desenho a mão livre, que hoje ele domina, foram ensinadas por uma artista plástica com quem Lineu foi casado. As orientações da ex-mulher levaram o artista a montar seu ateliê em uma esquina da Vila Mariana, que lhe serve também de residência.
A fachada da casa, que antes retratava uma escola de artes, com pintura colorida, pincéis, marcas e borrões de tinta, foi substituída pela cor azul-céu. “As paredes chamavam a atenção das pessoas. Foi por causa da fachada desenhada que tive minha primeira aluna”, diz.
Beatles e Rolling Stones
Se da primeira paixão de Lineu surgem as imagens pintadas, da segunda, o saxofone, saem melodias que contornam toda a esquina de sua residência. Quando era adolescente, o seu maior desejo era ter uma guitarra, mas como era caro, teve que se contentar com um violão e um piano da família. “Eu queria fazer barulho, tocar rock, formar uma banda e, quem sabe, fazer sucesso com as meninas”, conta.
Apesar de não ter tido uma guitarra, Lineu continuou amando o rock tocado por bandas que, nos anos 1960, viraram suas inspirações, como The Beatles e Rolling Stones. O interesse pela música e por novos instrumentos, porém, ressurgiu com grande vapor quando seu filho mais velho, Yves Finzetto, um dos idealizadores e produtores do projeto Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo, tornou-se músico profissional.
“Meu filho encontrou-se com a MPB e eu conheci o saxofone com um dos integrantes da banda”, conta Lineu. À primeira vista, diz não ter se identificado por completo com o instrumento, mas o som e a melodia o encantavam. “Eu não acreditava que seria capaz de tocar saxofone, mas me enganei e estou com ele até hoje”, alegra-se.
Quando resolveu melhorar suas habilidades com o sax, Lineu teve aulas no Conservatório Musical Vila Mariana. Depois de alguns treinos, começou a tocar em grupo e resolveu entrar para a turma de iniciantes no SESC Vila Mariana, onde também teve aulas de música. “O som em conjunto é outra história, existe uma harmonia perfeita. É encantador”, diz.
Mais adiante, ingressou na orquestra do SESC e continuou estudando o instrumento de sopro. “Minha primeira experiência em um show com a orquestra foi na comemoração dos 50 anos da Bossa Nova”, recorda sua estreia ocorrida em 2008.
“A música é fascinante”, diz Lineu. Por esse motivo, o saxofonista segue tocando seu instrumento. “A arte é prazerosa”, afrima também, justificando sua paixão pela pintura. Assim, sabendo que esses dois hobbies nasceram na Vila Mariana, o artista plástico e músico acredita estar trazendo o seu encanto e dias de vinho e rosas para o bairro.
Ouça Lineu Finzetto tocando Days of Wine and Roses (Dias de Vinho e Rosas). Trata-se de uma composição de Henry Mancini para o filme de mesmo nome, de 1962.
Cacá Junqueira (4º semestre)