Delegacia de Polícia, antiga sede do DOI-CODI, é alvo de polêmica
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“Não somos contra a abertura do museu, mas contra o fechamento da delegacia”, afirma Yoshito Yochitake, um dos moradores mais antigos da região. Na semana em que o Golpe Militar completou 50 anos, foi instaurada uma polêmica nas imediações de Vila Mariana – Paraíso. Grupos ligados aos direitos humanos, entre eles a Comissão da Verdade, criaram um projeto para que o antigo prédio do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), na rua Tutoia, vire um museu. O prédio hoje abriga a 36ª Delegacia de Polícia Participativa.
A ideia é que o prédio seja transformado em memorial sobre a ditadura militar. Um dos períodos mais polêmicos da vida brasileira, a ditadura começou em 31 de março de 1964, e durou até 15 de janeiro de 1985. Segundo publicado no site História do Brasil, o Golpe orquestrado pelos militares aproveitou-se da instabilidade do governo de João Goulart e das inúmeras greves sindicais, além do medo da implantação do socialismo por parte da classe média. Por meio de uma série de atos institucionais, sendo o mais grave deles o AI-5, a ditadura só teve fim com a eleição do presidente Tancredo Neves, nos anos 1980.
O prédio que hoje é tombado, segundo reportagem do G1, foi todo reformado com a ajuda dos moradores, e pouco lembra a um dos maiores centros de tortura do país, onde 52 pessoas foram assassinadas. Entre elas o jornalista Vladmir Herzog.
Algumas pessoas acreditam que a transformação da delegacia em museu seja importante como uma forma de justiça às pessoas que passaram pelos porões da ditadura. “É claro que segurança é importante, mas manter a memória viva daqueles que sofreram para termos o direito de discutir, é uma obrigação. Uma questão de respeito”, fala Ana Moitinho, professora de história aposentada, que reside na Vila.
Segurança
De acordo com Yochitake, o prédio precede o DOI-CODI e a segurança do bairro é prioridade em relação ao museu. Segundo o Conseg (Conselhos Comunitários de Segurança), a delegacia atende 180 mil pessoas, por ano em média são registrados 1.700 boletins de ocorrência e instaurado 750 inquéritos.
“Fechar a delegacia nos deixaria desprotegidos. A cidade está cada dia mais perigosa. Eu entendo a importância do museu, mas precisamos viver para poder lembrar do passado”, opina Maria das Graças Fonseca, de 74 anos, e moradora do bairro há 50.
Segundo o G1, o caso está sendo analisado pela Secretaria se Segurança Pública, enquanto a Secretaria de Estado da Cultura diz que o fato do prédio ter sido tombado não obriga a desativação da delegacia.
Caso Herzog
Ligado ao Partido Comunista, de acordo com o blog Brado Retumbante, o jornalista Vladmir Herzog foi assassinado em 1975 no antigo DOI-CODI, mas teve o inquérito sobre a sua morte manipulado pelo governo do general Ernesto Geisel para que parecesse suicídio.
O crime foi um dos primeiros a chocar a classe média. O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo assumiu a frente da reação e estudantes da USP entraram em greve. Cinco mil pessoas foram a Catedral da Sé para um ato ecumênico em homenagem a Herzog.
Anos depois, a família Herzog entrou com uma ação judicial pedindo que a União fosse responsabilizada pela morte do jornalista. Em 1978, o juiz Márcio José de Morais, da 7ª Vara de Justiça Federal, deu sentença a favor da viúva Clarice e dos filhos Ivo e André.
Mariana Miranda (2° semestre)