Pichação e grafitagem trazem protesto e arte para as ruas de São Paulo

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Grafite traz cores a prédio privado na Av. Paulista. Foto: Sarah Osti

A necessidade humana de se expressar é algo que vem desde os tempos das cavernas. Mais adiante, na história da humanidade, artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci e Pablo Picasso também utilizaram muros, paredes e tetos para se expressarem publicamente. Entretanto, segundo dados divulgados no site da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), hoje, nos espaços urbanos, essas manifestações criaram duas linhagens diferentes, conhecidas como grafite e pichação.

Apesar de a pichação ter sido muito utilizada no Brasil durante a ditadura militar (entre 1964 e 1985) como forma de protesto, hoje ela é vista como ato de vandalismo. Em maio de 2011, com a lei 12.408, assinada pela presidente Dilma Rousseff, a pichação passou a ser crime de depredação de patrimônio. Por conta disso, o pichador está sujeito a uma pena de três meses a um ano e multa.

Já o grafite é visto como uma arte que tende a valorizar o patrimônio privado ou público, desde que seja feito com o consentimento do proprietário ou órgão competente. Segundo o artista plástico David Magila, essa forma de expressão teve início em Nova Iorque no final dos anos 1970, junto à cultura hip-hop, e carrega consigo uma estética bem mais elaborada do que da pichação.

“O aspecto da pichação é a demarcação de território entre os pichadores, ou seja, é uma forma de marcar a cidade com seu nome e estilo”, diz Magila. Ele afirma também que São Paulo é considerada uma das cidades que mais têm picho do mundo.

Na Avenida Paulista, um dos principais corredores da vida cultural e metropolitana da capital, tanto o grafite como o picho estão muito presentes, dando mostras das suas principais diferenças, desde os traços até os motivos por que são feitos.

A pichação de forma mais grosseira e sem uma mensagem nítida marca as ruas transmitindo para os cidadãos uma sensação de depredação. “O ser humano tem dentro dele uma vontade de ser importante, de aparecer, de fazer a marca dele no mundo. Eu entendo o porquê de eles se expressam e não julgo, mas isso deixa a cidade mais suja”, afirma o designer e psicólogo Guilherme Pinheiro, de 23 anos.

O grafite como arte

Apesar da existência do bomb, um grafite sem autorização, que se aproxima mais do conceito da pichação, hoje o grafiteiro é visto como um artista que colabora para o desenvolvimento de manifestações culturais baseados em uma arte que, muitas vezes, passa dos ateliês para as ruas.

O grafiteiro Coruja, de 23 anos, afirma que um bom grafite valoriza os muros que antes eram mal cuidados. Por conta disso, antes do trabalho ocorre um estudo em relação ao ambiente, às cores e ao que será projetado nas paredes.

Em contrapartida, Gabriel Souza, 24 anos, estudante de filosofia, afirma que o que diferencia um ato de vandalismo de uma pichação é a finalidade da ação. “O pichador não picha para agradar ou ofender alguém. Ele busca apenas uma satisfação própria, que é gerada pela ação de pichar o muro e também pelo reconhecimento posterior de outros pichadores.”

Para os pichadores, esse ato representa uma manifestação tanto de arte como de protesto. “Dizem que se está depredando o patrimônio público e privado. Todavia, qual maior depredação: sujar muros de casas e prédios ou destruir a natureza para erguer tais muros e prédios?”, questiona Souza.

Sarah  Osti (2º semestre)

 

Picho marca protesto em prédio na Av. Paulista. Foto: Sarah Osti