Pesquisa indica como jornalistas utilizam IA

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Os jornalistas Eduardo Ribeiro (à esquerda), Patrícia Rangel e Antonio Rocha Filho, (professores de Jornalismo, centro e à direita). Foto: Maria Travalin

Fotos: Maria Travalin e Sophia Prates- 1° semestre

Texto: Guilherme Paiva, Isabella Laste – 3° semestre e Sophia Prates- 1° semestre

O grupo de pesquisa (GP) Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas, do curso de Jornalismo, apresentou resultados de pesquisa “Inteligência Artificial para jornalistas brasileiros”. Feito em colaboração com o portal Jornalistas&Cia, o estudo consiste em um questionário online com perguntas quantitativas e qualitativas, que foi respondido por 423 jornalistas de todo o país. O evento ocorreu na manhã da última terça-feira (09), no auditório Renato Castelo Branco, com a presença dos professores pesquisadores (Antonio Rocha Filho, Edson Capoano, Patricia Rangel, Cicelia Pincer e Maria Elisabete Antonioli), além do líder do Jornalistas&Cia, Eduardo Ribeiro.

Entre os objetivos da pesquisa, estão a identificação dos níveis de conhecimento dos jornalistas sobre a IA, a avaliação do grau de familiaridade e utilização das ferramentas disponíveis nas Inteligências Artificiais em ambientes jornalísticos e a abordagem das preocupações relacionadas ao uso dessa tecnologia na vida profissional. Enquanto os professores da ESPM-SP geraram as questões e interpretaram os resultados, o Jornalistas&Cia foi responsável em divulgar o questionário e publicar os resultados, em edição especial a ser publicada no dia 10.

Destaques

As principais descobertas da pesquisa dão conta de que a maioria dos jornalistas respondentes utiliza a inteligência artificial no trabalho jornalístico; a produção de conteúdo é a maior motivação do uso; mais da metade dos jornalistas respondentes não teve treinamento para operar ferramentas de IA; os jornalistas mais jovens são mais entusiastas da IA; a maioria acredita que a tecnologia fará bem ao mercado de jornalismo; ao mesmo tempo, a maior parte dos respondentes (principalmente os jornalistas mais velhos) teme que a IA possa ameaçar as vagas de trabalho de jornalistas. Já nas respostas qualitativas, percebe-se a crescente importância da IA no jornalismo, seja na otimização de processos, no auxílio à produção, na distribuição e na comercialização de conteúdo.

IA e assessoria

Conforme mostra a pesquisa, a maior taxa de uso de IA no jornalismo brasileiro está na área de assessoria de comunicação/imprensa, utilizada principalmente para a distribuição de materiais. De acordo com Francine Altheman, professora de assessoria da ESPM-SP, a inteligência artificial auxilia os assessores filtrando na distribuição desses produtos.

“A IA na assessoria de imprensa já é usada há bastante tempo. Acho que é mais comum do que nas redações tradicionais porque há um processo, principalmente, de distribuição de material para imprensa. A assessoria produz material em torno de uma marca, de um cliente, e esse material precisa ser distribuído e a inteligência artificial sempre colaborou para fazer esses filtros, para quem distribuir”, afirma Francine.

A professora completa sua explicação ao Portal com um exemplo: “Se eu atendo uma marca de beleza, não faz sentido eu enviar esse material para um jornalista de política, né? Eu vou ter que enviar para quem cobre beleza. Para quem está nesse ramo e a inteligência artificial sempre ajudou a fazer esse filtro”, destaca.

IA e Fotojornalismo

De acordo com os dados trazidos pelo grupo, mais da metade dos jornalistas respondentes (53,9%) fazem uso da Inteligência Artificial na produção de conteúdo. Entre os tipos de uso, estão a produção de textos, a realização de pesquisas e a produção de imagens. Apesar de alguns profissionais utilizarem a IA para criar imagens, isso pode representar um problema de credibilidade para o fotojornalismo.

Erivam Oliveira, fotojornalista e professor na ESPM-SP, falou ao Portal sobre as possibilidades de uso da Inteligência Artificial na criação e edição de imagens para meios jornalísticos: “O fotojornalismo não aceita manipulação ou interferências. Então pode-se usá-la, talvez, para ilustrar uma matéria, mas que fique muito claro para o leitor que aquilo foi gerado com inteligência artificial e não é uma imagem produzida jornalisticamente por um profissional. Essa é a grande questão. Vamos ter que acompanhar, monitorar e tentar sempre utilizar da melhor forma possível a inteligência artificial”, afirma.

O professor também esclarece a diferença entre edição jornalística e o uso da IA: “Quando a gente dá um corte na imagem, não significa que a gente está manipulando. Você está reenquadrando a imagem para melhorar a forma como o leitor entende o que está sendo mostrado ali, então não é manipulação. Isso é permitido hoje no jornalismo. É o que a inteligência artificial poderia fazer”, conclui.

Uso de IA em Podcast

Ainda segundo a pesquisa, o uso de inteligência artificial é bem baixa na produção de podcasts. Dos usos registrados na resposta do questionário, a IA é usada sobretudo na produção de conteúdo.

“Nos dados qualitativos, mostra-se que o uso da Inteligência acontece na produção de roteiros e mesmo assim é um número baixo, pois é necessário entender qual tipo de podcast usa IA”, comenta Patrícia Rangel, professora de Jornalismo da ESPM-SP e realizadora da pesquisa. “O gênero documental é difícil, pois é um trabalho braçal cansativo, mas em podcast como o mesacast é válido, pois é um diálogo”, explica.

Além disso, a professora esclarece ao Portal que dados mais precisos serão revelados na segunda etapa da pesquisa. “Com dados mais específicos, vamos saber como a inteligência artificial é usada na elaboração de podcasts”, acredita a professora.