Exposição destaca raízes africanas no samba brasileiro

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Exposição destaca cultura e memórias africanas. Foto: Lívia Donarumma.

 

Lívia Donarumma – 1º semestre

Gabriella Borges – 4 º semestre

 

O Instituto Moreira Salles (IMS) de São Paulo inaugurou no dia 28 de outubro de 2023 a exposição Pequenas Áfricas: O Rio que o samba inventou, uma manifestação da cultura e memórias afrodescendentes. A mostra busca reconstruir o Rio de Janeiro dos anos de 1910 a 1940, período que contempla o surgimento e consolidação do samba urbano. O conjunto de obras apresenta uma nova faceta do samba, indo além de suas escolas para mostrar as raízes da dança que surgiu em terreiros, morros e quintais. A exibição tem entrada gratuita e está localizada no sétimo e oitavo andar do IMS, disponível até o dia 21 de abril de 2024.

A exposição inclui um acervo fotográfico e documental que perpassa a história do samba carioca que teve início no meio urbano durante o século 20. Com uma vasta curadoria, a mostra vai muito além de fotografias históricas, contendo recortes de jornais antigos que noticiavam as práticas religiosas do candomblé e da umbanda, além dos encontros de samba que aconteciam no alto do morro. 

O tema da exposição teve inspiração na fala do compositor, cantor e pintor brasileiro Heitor dos Prazeres, que foi o criador da ideia do Rio de Janeiro ser uma “Pequena África”. Esta expressão faz referência ao século 20, quando a capital carioca concentrava uma rica cultura afrodescendente, tendo se tornado um berço para a criação do samba urbano no Brasil e no resto do mundo. Assim, a exibição contempla o nascimento do samba em território brasileiro, considerando o contexto histórico em que a “Pequena África” se consolida fisicamente e desaparece na fronteira entre o centro e os subúrbios do Rio de Janeiro. 

Por meio de imagens e vídeos dispostos em dois andares do IMS Paulista é contada a história de chegada de diferentes culturas negras no Brasil, que se alocaram na zona portuária do Rio de Janeiro. Foi neste local que surgiram os encontros de capoeira e os bailes que celebravam a sobrevivência africana, sendo essas as primeiras manifestações artísticas dessa cultura em solo brasileiro. 

Com o passar dos anos, essa arte percorreu outros bairros, como a Gamboa, a Saúde e a praça Mauá, dando origem a escolas de samba. Como forma de exemplificar o trajeto geográfico do samba, a exposição possui um mapa interativo que mostra as regiões do Rio de Janeiro que, no passado, tiveram maior manifestação da cultura afrodescendente. Dessa forma, o samba que o Rio inventou surgiu nesses bairros como forma de retratar a história, a luta e a espiritualidade da cultura africana que encontrou na dança e na música, uma forma de manifestar a sua ancestralidade.

Com isso, a mostra percorre desde a música africana até a consciência política e religiosidade dessa região. Os dois andares são divididos entre esses temas, sendo que o primeiro abrange aspectos históricos, fotografias, documentos e vestimentas que representam o modo de vida da época. Já o segundo andar apresenta uma viagem pela música africana, mostrando escolas de samba e blocos criados no Rio de Janeiro. Em um diagrama são expostos nomes e rostos de músicos que marcaram o samba, sendo mencionados Zeca Pagodinho e Pixinguinha, devido a suas contribuições ao estilo musical. 

A importância da instituição carnavalesca Cacique de Ramos também é parte importante da mostra. Tendo sido criada em 1961, a exposição mostra o trajeto realizado pelo bloco de samba durante os carnavais do Rio de Janeiro. Para contar sua história, estão dispostas pela sala as vestimentas e instrumentos utilizados por seus participantes durante os desfiles de samba. Em entrevista realizada no local, a estudante Lívia Guedes afirma a importância de se conectar com essa história, tendo acesso a objetos do período, como “o vestido usado pela Tia Ciata que foi a sambista mais influente da época, sendo também cozinheira e mãe de santo”.