Editorial: em busca da fama

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Renato Essenfelder, editor da Plural

Qual a medida do sucesso de alguém? Eis a inquietação primeira que deu origem a esta edição da revista-laboratório Plural. O sucesso se mede pelo dinheiro, pela fama, pela imortalidade alcançada em uma obra que atravessa os tempos, pela lembrança dos nossos nomes – aquilo que o marketing chama de “recall de marca” –, pela felicidade pessoal?
Ora, alguém terá dito, o sucesso, hoje, se mede pela quantidade de “views”, “likes”, “shares”, “followers” e “fans” que contabilizamos com nossas personas virtuais, os perfis de Facebook, Twitter, Instagram etc. Nunca a máxima “quem não é visto não é lembrado” teve tanto uso e tanta força entre nós, adeptos das redes sociais. Queremos ver, e, principalmente, ser vistos. Queremos ser lembrados.
E foi em torno de um questionamento sobre o que significa ter sucesso na cultura da “celebridização” de nossos tempos que esta edição reuniu 26 alunos do terceiro e do quarto semestres do curso de Jornalismo da ESPM-SP. Investigamos o que significa ser “famoso” e por que tanta gente quer ser famosa – seja porque escreveu um belo livro, seja porque veste seu gatinho de estimação com fantasias superelaboradas.
Como diz um de nossos entrevistados, o psicanalista Pedro De Santi, “os valores da nossa sociedade estão muito ligados à visibilidade e à representatividade”. Assim, a associação entre fama e virtude é automática. Pensamos, simplesmente: “Se uma pessoa é famosa, ela é boa”. Mas basta um passeio de 20 minutos pelo YouTube para colocarmos esse raciocínio em xeque. Tanta gente boa não é famosa, tanta gente famosa não é boa.
Em certo momento, um aluno engajado na apuração da revista chegou a essa conclusão e veio me confidenciar, cabisbaixo: “Professor, é meio deprimente, isso. Acho que o mundo não é justo”. Referia-se, é claro, a alguma estrela em ascensão na internet cujas ideias enunciadas com invejável desenvoltura eram, em essência, preconceituosas e retrógradas.
Confesso que me alegrei com sua indignação. Afinal, para qualquer jornalista que se preze é preciso curiosidade, persistência e, claro, alguma indignação que nos mova para fora da cama – ou do conforto. “Se realmente acha isso, faça mais, seja melhor. Vire o jogo.”
Plural chega agora ao seu quinto ano. Nossa proposta, ousada, sempre foi a de exercitar o jornalismo interpretativo, indo além do script básico de informações sobre um tema qualquer. Buscamos uma abordagem plural que desafie o senso comum e leve o leitor à reflexão.
As páginas a seguir podem ser lidas com alguma indignação, quando falamos de narcisismo, por exemplo, ou com alegria,  quando mostramos os bastidores da vida de quem batalha para ficar famoso na internet brasileira. Podem, ainda, instigar o leitor, como faz Lucia Santaella, maior autoridade em semiótica no país, em entrevista exclusiva. Ao cabo, não oferecemos, é claro, receita para a fama. Apenas reiteramos nosso compromisso de sempre: trabalhar com afinco e honestidade, manter a cabeça aberta e o pensamento, afiado. Boa leitura!