Como estão vivendo os sírios após inúmeros conflitos no país

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Lucas Tadeu (1º semestre)

A Síria passou por inúmeras guerras e conflitos ao longo da sua história e a mais intensa é a atual guerra civil que devastou o país. Nesses oito anos de guerra, houve inúmeras cidades destruídas, mais de 500 mil mortes e mais de 5 milhões de refugiados.

Em 2011, o mundo árabe passava por uma série de revoltas pedindo reformas democráticas, época que ficou conhecida como Primavera Árabe. Segundo o professor de Geografia, Adriano Skoda, os principais motivos dessa revolta foram a reivindicação pela democracia, pois quem está no poder não representa a maioria, e questões ligadas à religião, que representa a minoria no poder. Além disso, como outros países estavam conseguindo promover reformas, isso também foi um gatilho para a resistência começar na Síria.

Al-Assad, presidente da Síria, afirmou que o país passaria pelas mudanças ansiadas pela sociedade. Como houve lentidão nesse processo, opositores ao seu regime começaram uma série de protestos, pedindo a derrubada do presidente, que respondeu com o envio de tropas do Exército para áreas em protesto. “Na Síria acabou sendo diferente, pois como não foi o primeiro lugar a ter essas revoltas, o governo de Bashar al-Assad entende que se deixar a oposição se manifestar livremente terá como consequência a deposição”, explica Skoda. A violência da repressão do governo fez com que as manifestações virassem revoltas armadas e deu-se início a guerra civil que abala o país até os dias de hoje.

Na guerra, de um lado do conflito está o regime sírio, liderado por Bashar al-Assad. Ele conta com o apoio do Irã e de milícias do Iraque. Mas o principal aliado fora da Síria é a Rússia, que mantém uma antiga parceria com o país, sustentada pela base naval que os russos controlam em Tartus, no litoral sírio. Do outro lado, está o Exército Livre da Síria (ELS). A organização conta com o respaldo das potências ocidentais, lideradas pela União Europeia e pelos EUA. Também recebem apoio da Turquia e da Arábia Saudita, principais inimigos de Assad na região.

Com o recente cenário de cessar fogo, o povo e o governo têm expectativas para o futuro. “O conflito saiu do horizonte polêmico, por ser um dos mais longos e pelo EI afirmar que não controla mais nenhum território, isso faz com que a opinião pública internacional deixe a Síria de lado”, afirma Skoda. O professor ainda completa que por parte dos aliados e do governo, a permanência da guerra continua sendo um bom motivo para que as forças políticas não se alterem no país. “Para a população é difícil saber o que esperar, pois por todas as atitudes do governo não mostrar um avanço para a melhoria da expectativa da vida, a gente não sabe ainda exatamente o que se pode esperar disso”, alerta.

Como vivem os sírios

Wassen Farah, 32, que ainda reside no país, em Rabah, presenciou a guerra e conta como era a situação do país. “Antes da guerra, tudo funcionava perfeitamente. Água, eletricidade e gasolina estavam disponíveis. A Síria passou por um período de ouro. Todas as pessoas estavam fisicamente confortáveis ​​e podiam comprar todas as necessidades, até o luxo, tudo era demais. A Síria podia importar tudo e, após a guerra cruel, muitos países conspiraram contra a Síria”, diz.

O pós-guerra para qualquer país deixa dúvidas de como o Estado vai seguir e seus próximos passos, e certamente na Síria não é diferente. Suprimentos básicos, como água e energia, fundamentais para a sobrevivência de todo cidadão, são escassos no país. “Agora há um racionamento de eletricidade e gasolina por causa da guerra, as luzes caem a cada 3 horas e, em alguns dias da semana, há falta de água. A gasolina também está em falta em muitas regiões e a gente tem que buscar em outras cidades”, ressalta Farah.

Com o avanço da tecnologia, a internet se tornou indispensável para muitos povos. Mas o pós-guerra deixa restrito o acesso à rede. “O acesso à internet é restrito, é muito difícil de entrar em sites de fora da Síria, outros chips de celulares não funcionam aqui e os de dentro do país tem data limite de funcionamento”, conta o sírio, reforçando as limitações a que a população está sujeita.

Sobre as expectativas para o futuro, Farah salienta que a questão do emprego está complicada e os salários diminuíram drasticamente, já que muitas áreas de atuação estão sem dinheiro. “Muitas áreas não conseguem contratar ou pagar o mesmo que antes devido à guerra, o que deixa o desemprego alto. Temos que fazer serviços sem ter algo fixo. Para os mais novos dentro da Síria eu digo que não vale ficar no país, porque o mercado não mostra sinais de recuperação”.

Contexto histórico

O território sírio faz fronteira com o Líbano e o Mar Mediterrâneo a oeste; a Turquia ao norte; o Iraque a leste; a Jordânia ao sul e Israel ao sudoeste. Durante os séculos, o território foi administrado por muitos impérios e países, dividido entre os impérios Persa, Macedônio e Romano. O país foi ocupado por diversos povos, e as marcas dessas passagens são visíveis pelo território.

Já no século XX, depois da Primeira Guerra Mundial, a França passa a ter domínio da região após queda de impérios. Paris e Londres tinham um acordo de dividir entre si o crescente fértil território, ficando sob controle de Londres a Palestina, a Jordânia e o Iraque; e sob o controle de Paris, a Síria e o Líbano. O controle militar francês aconteceu em 1920. O domínio das forças do país acabou no ano da independência, em 1946, devido a conflitos entre a Síria e Líbano que foram causados pela própria França e fizeram a ONU intervir e determinar o fim do domínio do país europeu.

A Síria passa por um período perturbado politicamente, com o golpe militar, em 1949 e depois, em 1958, quando acaba se juntando a outros países. Em 1961 um golpe os separa.  Nos nove anos seguintes o país passa por guerras e períodos conturbados politicamente, até passar pelo último golpe, em 1970: o ministro da Defesa, general Hafiz al-Assad, muçulmano alauita (alauitas, deriva dos xiitas, mas se considera uma variação mais moderada) chega ao poder. Ele governa até o ano 2000, quando morre.

Seu filho Bashar Al-Assad assume e está no poder até os dias de hoje. No período pré-guerra civil (2000-2011), Bashar mostra potencial e esperança ao povo, com ideias muito à frente de tudo que o povo já tinha visto. Essa esperança fica frustrada com o passar dos primeiros anos. Seu governo demonstra várias contradições, como a ameaça da ideia de guerra preventiva levada a cabo pela administração norte-americana, a instabilidade com o Líbano, na qual a Síria mantinha uma forte presença militar e as constantes tensões com o vizinho Israel.

Bashar Al-Assad procurou manter um discurso reformista que poderia satisfazer os anseios da União Europeia e dos Estados Unidos, mas na prática não produziu nenhuma concessão ao movimento de oposição do país. Assim, ele foi seguindo seu governo com oposições e ideias contraditórias, que culminou na guerra civil.