A revista é uma marca que se relaciona com um público segmentado, diz Tatiana Schibuola

Tatiana Schibuola, editora da revista Capricho, publicação impressa teen  de maior circulação do Brasil, foi palestrante no segundo dia da 2ª Jornada de Jornalismo da ESPM com o tema “O online vai matar as revistas?”. Após a palestra, ela concedeu uma entrevista ao Portal de Jornalismo e comentou como as pautas da Capricho são escolhidas, além de outros assuntos que envolvem o universo de sua revista.

Schiobula é formada em jornalismo pela universidade FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado), e começou sua carreira na revista Boa Forma em 1995.

Portal de Jornalismo ESPM – Qual pauta, matéria ou entrevista te marcou?

Tatina Schibuola – Eu trabalhei na “Boa Forma” em um tempo que se fazia muita reportagem, investigação. Estavam lançando pílulas ante-celulite que prometiam ser o fim do problema. Fomos apurar isso, e “descascamos” a história, conversamos com todos os tipos de especialistas. Provamos por “A mais B” que não funcionava. Basicamente para mim queria dizer que podíamos fazer um jornalismo muito sério, muito profundo sobre qualquer tema, e a questão era celulite.

PJ ESPM – Quem você ainda não entrevistou, e quer muito entrevistar?

TS – Eu adoraria ter entrevistado o Steve Jobs, porque é uma pessoa genial e eu tenho certeza que ele me desconcertaria na primeira pergunta. Esse tipo de pessoa dá medo de entrevistar. Você “pegar” uma pessoa que é um grande gênio e que trata as pessoas sem muito cuidado, para mim seria um grande desafio.

PJ ESPM – O que você mais curte no mundo teen de Capricho?

TS – O engajamento da leitora. Porque a adolescência é esse momento de paixões intensas, é o momento em que você descobre como se relacionar com o mundo. Isso torna a Capricho um produto muito especial para se trabalhar, você sabe que a leitora está do seu lado o tempo inteiro, ela te apoia e vibra a cada conquista da marca.

PJ ESPM – Como vocês (equipe) montam as pautas da Capricho?

TS – Tentamos reunir o que está acontecendo naquela quinzena da revista. No site trabalhamos semanalmente, então, o que está acontecendo naquela semana ou naquela quinzena, o que é criativo, instigante, e abordar de um jeito que, ainda não apareceu. Na moda, evidentemente, usamos o calendário de tendências para falar disso e de beleza. Também partimos muito do que as leitoras estão trazendo para nós. Então que email recebemos, qual é a pergunta que as meninas fizeram, o que a menina da “galera capricho” comentou. Isso é o nosso principal “alimento” e tentamos moldar o que está acontecendo no mundo, no mundo da moda, e contextualizamos para o universo adolescente.

PJ ESPM – O que você mais admira no ambiente redação?

TS – Da Capricho?

PJ ESPM – Não, das revistas que você já trabalhou, Capricho e Gloss.

TS – A redação é o ambiente em que você acaba construindo relações muito profundas. Você vai lá todo dia, vê aquelas pessoas mais do que seus filhos, seu marido, sua família. Eu tive a sorte de sempre trabalhar em redações muito alto-astrais, de gente muito legal, capazes de discutir, de avaliar. Eu sempre trabalhei com gente de muito respeito, nunca fiz aquelas cenas do “old jornalism” com chefe gritando na redação. Isso eu nunca experimentei. Teve uma época em que fui freelancer, foi a época em que eu tive meus filhos. Eu fiquei cinco anos como freela, tinha meu escritório, éramos eu e uma jornalista assistente. Eu ficava triste, porque eu sentia falta do ambiente de redação, que é um ambiente muito rico de pessoas muito criativas.

PJ ESPM – Você se sentia sozinha?

TS – Basicamente eu sentia que estava no escritório, fazia meu trabalho. Não me sentia necessariamente sozinha. Eu tinha quinhentos chefes na redação, mas essa coisa do ambiente fervilhante, criativo e tal, eu sentia muita falta.

PJ ESPM – Qual a sua editoria preferida na revista? Você prefere falar mais de moda, beleza ou comportamento?

TS – Eu não tenho uma favorita. Acho que o comportamento te dá mais oportunidade de discutir temas, mas eu adoro moda e beleza. Adoro falar sobre esses assuntos. Entretenimento, ídolos, sempre aquela coisa curiosa, engraçada, “fofoquinha”.

PJ ESPM – Você sente falta de alguma editoria especifica da Gloss?

TS – Na verdade o que eu mais sinto falta na Gloss é da liberdade, Você está falando com mulheres adultas, tem que ter menos “dedos”. Éramos muito mais explícitos ao falar dos temas, falar de sexo. Tinha mais liberdade mesmo. Essa mulher já é uma mulher adulta, ou seja, ela é capaz de entender e absorver determinados conteúdos que uma adolescente, ainda, não aceita, não entende. Falar de profissões, de trabalho era muito legal. Eu gostava muito porque estávamos aprofundando o conhecimento na geração Y, que é a geração de vocês, e entender como são os mecanismos, etc. É uma coisa que eu sinto falta.

PJ ESPM – Para que tipo de público-alvo você gosta mais de fazer revistas? Adolescentes, mulheres jovens ou adultas?

TS – Eu já passei por todas as experiências. Eu acho que de fato com as adultas você pode ter uma aparente liberdade maior, mas com as adolescentes você tem um engajamento que te dá muito mais “tesão”, porque você sabe que a menina vai vibrar com aquilo.

PJ ESPM – Qual sua opinião sobre o marcado de revista atual? Você acha que tem salvação para as revistas impressas?

TS – Eu acho que tem. Existem revistas que fazem um “super” sentido impressas, tem o fetiche do impresso, mas a palavra revista deixa de ser sinônimo de uma coisa publicada impressa, em papel. A revista é uma marca que se relaciona com um público-alvo segmentado. E como você vai distribuir o conteúdo para esse público, pode ter várias formas de distribuição dessa informação. Você pode distribuir uma revista impressa, pode distribuir em um site, em um aplicativo, você pode distribuir seu conteúdo num programa de TV. Então, independe mais de ser impressa ou não. As revistas têm sobrevivência, se elas souberem trabalhar, engajar suas comunidades e oferecer ao seu público o que ele quer. Assim, certamente, elas vão sobreviver.

PJ ESPM – Tem alguma revista que você ainda gostaria de trabalhar?

TS – Tem uma revista que eu adoro que eu acho “super” legal chamada “Company” lá de Londres. Eu adoro a Exame da Editora Abril, eu acho que é uma revista “super’’ legal, não tem nada haver com o que eu já trabalhei, seria outra experiência. Eu já fiz muita coisa em outras revistas. Fiz na época que eu era freelancer, mas eu acho que é bom você estar numa revista há muito tempo, você observar essas transformações. Eu gosto muito de Capricho, foi muito difícil sair de lá quando eu fui para a Gloss, e voltar para mim é muito bom, ainda mais voltar com esse olhar fresco, de querer fazer coisas novas, olhar de um outro jeito. Estou bem feliz nesse momento.

PJ ESPM – Sobre os boatos de Capricho poder fechar… vai acontecer?

TS – Olha Capricho, certamente, não. Eu não sei daqui a dez anos, mas num curto prazo, dois ou três anos não. Ela tem muitos contratos, enfim, não vai fechar. A Capricho é uma das marcas-exemplo da Editora Abril, de como as revistas podem sobreviver sem depender só de vender revista na banca, porque tem o licenciamento, tem um grande site, faz publicidade, programa de TV, websérie, evento. Então, como uma marca de revista pode ampliar o seus domínios.

PJ ESPM – Vocês estão mudando alguma coisa na Capricho? O designer?

TS – Sim, vamos mudar em breve. Provavelmente no inicio de novembro.

PJ ESPM – Você tem alguma dica para futuras jornalistas que desejam trabalhar com revista feminina, revista de moda?

TS – Eu acho que o jornalismo feminino é tão relevante quanto qualquer outro tipo de jornalismo no sentido de que ele, certamente, faz parte da vida das leitoras e as ajuda a construir grandes legados delas mesmas. Quando você vê uma leitora que te escreve “puxa, graças a vocês eu me libertei de amarras, graças a vocês eu tomei um novo rumo” (e talvez não sejam todas as leitoras que vão ter esse impacto tão grande), mas se você tem uma ou duas que você pode produzir uma mudança tão grande e tão positiva, isso já é muito compensador. Então, não se deve subestimar o valor que tem uma marca feminina.

Naíla Almeida (1º semestre)