Um mês da explosão em Beirute: brasileira relata como a capital libanesa vem lidando com o caos
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Clara Leandrini (1 semestre)
No último dia 4 de agosto, uma sexta-feira, a grande explosão ocorrida no porto de Beirute, completou um mês. Um carregamento de 2.750 toneladas de nitrato de amônio, substância altamente explosiva, era mantida no porto há seis anos, sem fiscalização, e gerou a explosão ouvida por toda a cidade. O incidente deixou mais de 182 mortos e mais de 6 mil feridos.
Natalie Yassef, brasileira de origem libanesa, é professora e reside na capital Beirute com o marido desde 2014. Ela conta como foi o momento do ocorrido e a sensação de estar a uma distância de apenas cinco minutos do porto: “Estava dando aula particular na minha casa. Aí a gente ouviu um barulho de avião, muito alto, parecia avião de guerra. Então, na hora, a gente sentiu que alguma coisa estava errada e se olhou. (…) Ela (a aluna) falou para vermos o que estava acontecendo, fomos até a varanda, não vimos nada, aqui de casa não têm vista nítida para o porto. Foi só a gente dar uns passos para trás e veio a primeira explosão, um estrondo, que eu nem sei te explicar (…) imaginei que fosse o início de alguma guerra.”
Segundo a professora, após o acontecimento, enquanto a postura do povo libanês era de pura solidariedade e coletividade, o governo, que já sofre com a opinião pública negativa em meio à crise política, não seguiu a mesma linha: “Até depois da explosão, foi um choque muito grande para gente, não ver ajuda do governo pelas ruas. E eles apareceram na televisão, fazendo um discurso totalmente frio para a situação”.
Natalie relata que o “sopro de esperança” ao povo libanês tem sido o apoio e a visita feita pelo presidente francês Emmanuel Macron: “Vamos ver se a França ajuda a colocar ordem na casa.”
Já em relação à pandemia da COVID-19, a brasileira relata que a preocupação com o novo vírus acabou se tornando pequena perto do que a cidade de Beirute enfrentou e vem enfrentando nos últimos meses, o aumento de casos acontecem devido ao aumento da circulação de pessoas nas ruas e não havendo um distanciamento social adequado.
Apesar do uso de máscaras e álcool em gel continuar por toda a capital, o medo por possíveis cenários conflituosos no país tem se tornado uma preocupação muito maior. Além do medo, Natalie relata que Beirute está “se recuperando materialmente mas todo mundo anda muito deprimido.”
Para a brasileira, o cansaço pela imagem resiliente de um país que sofre e se reinventa a cada tragédia e conflito ocorrido é uma unanimidade. O Líbano necessita de mudanças políticas mas, acima de tudo, precisa de paz, para que suas próximas gerações comecem a ser criadas com o intuito de permanecer e viver no país de origem, o que hoje é uma realidade bem distante do que acontece, já que as gerações anteriores criam seus filhos para abandonar as terras libanesas: “O Líbano tem essa imagem de país resiliente, que é sempre destruído, mas surge das cinzas. Só que a gente não quer essa coisa mais. É uma romantização de como se nós fossemos fortes, mas a gente está cansado.”
Apesar de já ter data para retornar ao Brasil por tempo indeterminado, por medo do que pode acontecer ainda no país e dos desdobramentos da indignação da população em relação ao governo, a professora destaca como gostaria que o lado positivo do país tivesse mais relevância, como o próprio povo, seus costumes singulares, as paisagens e o turismo em geral.