Transporte público ainda é um grande problema para os deficientes físicos

No dia 11 de outubro, data dedicada ao deficiente físico, muitas discussões polêmicas foram lembradas, entre elas a questão da mobilidade em uma grande cidade como São Paulo. Milhares de pessoas utilizam o transporte público diariamente e, segundo a pesquisa realizada em 2011 pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cerca de 55% dos usuários em geral consideram os serviços ruins ou regulares. E a reclamação também se estende a boa parte dos deficientes físicos.

O transporte público é péssimo para qualquer brasileiro”, diz Heitor Luiz de Menezes Neto. Foto: arquivo pessoal.

Apesar da frota acessível da SPTrans, muitos deles são prejudicados quando precisam se locomover utilizando transporte público.

O rapper e artista plástico, Billy Saga, 35 anos, reconhece a utilização do transporte público como uma das piores experiências que já teve. Ele conta que, após a virada cultural de 2012, utilizou o metrô. O funcionário o guiou até a plataforma e desligou o elevador. Entretanto, o músico estava do lado contrário da abertura das portas. “Tive que gritar pra galera do outro lado do trilho pra chamarem algum funcionário. Conseguiram me escutar, mas demorou bastante”.

Poucos ônibus acessíveis e poucas estações de metrô com elevador são alguns dos motivos que Billy, que também é conselheiro da ouvidoria da Defensoria Geral do Estado de São Paulo e presidente do movimento SuperAção, aponta como negativos. Entretanto, mesmo com um pouco mais de segurança e praticidade em seu próprio carro, ele reconhece que há problemas. “As pessoas não respeitam as vagas exclusivas. A maioria das vagas nas ruas fica do lado esquerdo e tem guia alta, o que dificulta a montagem e a saída do carro”.

Tatiana Rolim, 36 anos, psicóloga e autora do livro “Meu Andar Sobre Rodas” enviou à CPTM uma reclamação sobre o mau trato de um funcionário do ônibus em Agosto. Segundo ela, o motorista se recusou a transportá-la em razão de o carro não ser adaptado a cadeirantes. “Pior de tudo foi ter sido exposta a esta condição humilhante. O motorista ainda disse debochando ‘Vai então, sobe. Quero ver você se levantar da cadeira de rodas’”.

Segundo a psicóloga, há poucos ônibus, muitos carros velhos para o transporte e os motoristas são grosseiros. Nos trens Tatiana afirma que há equipes treinadas para o embarque e desembarque, mas o vão entre o trem e a plataforma é inacessível. Já nos metrôs é excelente, apesar da superlotação.

Até mesmo para a deputada Mara Gabrilli nada é facilitado. A primeira cadeirante a se tornar parlamentar também enfrenta problemas com a locomoção e acessibilidade. “Sem dúvida, o acesso ainda é um problema que atrapalha a vida de muitos cadeirantes”. Ela também afirma que as calçadas cheias de buracos, a falta de rampas, de guias rebaixadas, transporte acessível, banheiros adaptados, estabelecimentos acessíveis são alguns dos problemas.

A deputada conta que a reforma nas calçadas da Avenida Paulista fez com que a circulação de pessoas fosse facilitada. A mudança do piso que apresentava desníveis pelo mosaico português foi uma grande mudança e garante a livre circulação dos cidadãos, cumprindo-se a Constituição, garantindo o direito de ir e vir. “Falar de calçadas é percorrer, quase literalmente, por outros direitos, como o da autonomia, da dignidade e do respeito”.

“O transporte público é péssimo para qualquer brasileiro, só que dez vezes pior para os deficientes”, afirma o técnico de telecomunicações, Heitor Luiz de Menezes Neto, de 41 anos. Assim como Billy Saga, Heitor também utiliza um carro adaptado para a locomoção, mas já utilizou o transporte público.

Ônibus, metrôs, táxis e trens fizeram com que ele vivenciasse experiências negativas. “Os ônibus não param. Quando param, ou elevador está com defeito ou não há o controle”, afirma Heitor. O metrô considera um pouco melhor “Lá os funcionários sabem pegar uma cadeira, diminuindo o risco pra nós e até de lesão muscular pra eles”. “Os táxis não param. Quando param, os motoristas dizem que não há espaço no porta-malas”, diz.

Até mesmo quando não utiliza os transportes Heitor sofre alguma consequência negativa. Pela deterioração das calçadas, certa vez danificou sua cadeira de rodas, quebrando peças devido à buracos. “Tudo é caro para deficiente. Há cadeiras de 18 mil reais. E esses produtos não têm impostos”.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, 24% da população brasileira tinha algum tipo de deficiência física.

Giulia Laseri (1º semestre)