Teatro de bonecos está na programação da Virada no SESC Vila Mariana

Cena do espetáculo da Cia. Truks, que se apresenta no dia 18 de maio. Foto: Divulgação

A Poética da Imagem é um dos espetáculos que será exibido pelo SESC Vila Mariana como parte da Virada Cultural, que ocorrerá nos dias 18 e 19 de maio. Este espetáculo da Cia. Truks é destinado a adultos, que poderão conferir a apresentação gratuitamente, assim como toda a agenda do evento.

A Cia Truks completa 23 anos de atuação, atendendo ao público infantil e adulto. Segundo Henrique Sitchin, diretor e coordenador da companhia desde sua criação, o grupo de animação tem como objetivo transmitir ao público tudo aquilo que não é ensinado em sala de aula. Confira entrevista que Sitchin concedeu ao Portal de Jornalismo.

Portal de Jornalismo ESPM – O grupo já tem 23 anos de atuação junto ao público infantil. O foco do trabalho são as crianças?

Henrique Sitchin – Não. Nós temos uma porção de espetáculos; são 13, sendo dez para crianças e três para adultos. Somos um grupo de animação, que é um jeito mais completo de chamar o teatro de bonecos, que existe também para o público adulto, por incrível que pareça.

PJ ESPM – Você acha que a arte incentiva as pessoas a se tornarem cidadãos melhores?

HS – Sem dúvida. Em arte, nós trabalhamos conceitos subjetivos. Falamos que tudo que for objetivo, cartesiano, cabe a um professor dentro de uma sala ensinar; cabe ao conhecimento científico, enfim. Mas sensibilidade, senso crítico e solidariedade são conceitos que podem estar embutidos numa obra de arte. Quando, por exemplo, uma criança assiste a um espetáculo em que ela se solidariza com o personagem a ponto de se emocionar com ele, está exercitando cumplicidade, solidariedade. São coisas que não se ensinam numa sala de aula.

PJ ESPM – Qual a importância da disponibilização grátis de espetáculos, como A Poética da Imagem, que será apresentada por vocês na Virada Cultural?

HS – O trabalho feito pelo SESC em São Paulo não se restringe ao evento Virada Cultural. O SESC faz espetáculos gratuitos com uma frequência muito grande. E isso é muito importante porque a gente disponibiliza o acesso ao produto cultural para toda população. Costumo dizer que somos muito pouco alfabetizados para as artes. Nós não temos na escola, nem mesmo na vida diária, essa prática de ter acesso à arte, mas quando você oferece isso gratuitamente ao público, você esta oferecendo o primeiro contato, o que vai ser muito importante. Se as pessoas gostarem, elas se tornam também consumidoras desse tipo de arte. É muito importante pra formação de público, é importante porque teatro é muito caro.

PJ ESPM – A educação em geral no Brasil é muito cara…

HS – Exatamente, tudo é caro. Se for pensar nas classes menos favorecidas, tudo é absurdamente caro. Imagina se um cidadão que ganha um salário mínimo tem dinheiro pra pagar R$ 100 em um ingresso de teatro! É um absurdo! Assim, o contato gratuito com a arte é muito importante porque você garante acesso para todo mundo.

PJ ESPM – O que a companhia objetiva transmitir para a sociedade, considerando a atual condição do país?

HS – A gente tem uma realidade que é um pouco chocante, assim como evidente. Nesse espetáculo que a gente vai apresentar, há um personagem cujo peito é uma gaiola. No teatro de animação, a gente consegue fazer essas coisas que não são possíveis fazer com um ator comum. Não tem como fazer o peito de alguém ser uma gaiola, né? (risos) Então a gente faz um boneco e ele começa a tirar coisas do peito dele, dessa gaiola. É como se estivessem saindo lembranças dele, de dentro.  Por isso, é um espetáculo para adultos, são cenas fortes, poéticas. A gente verifica que quando fazemos isso em festivais de teatro para público especializado ou em regiões favorecidas, o entendimento é imediato. As pessoas se emocionam, chegam a chorar de emoção com a cena. Quando vamos para periferias mais distantes e carentes, termina com as pessoas dizendo “não entendi nada”. É uma coisa triste que essa camada da população menos favorecida não tenha acesso a esse tipo de pensamento abstrato, poético, uma coisa que emociona. Não é para menosprezar essas pessoas, é só para que a população tenha acesso. As pessoas não têm como construir esse pensamento simbólico. É uma realidade meio perversa!

Débora Ferrari (1º semestre)