Profissionais que lucram com o sexo investem na época da Copa
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Às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, profissionais que lucram com o sexo investem para ganhar dinheiro. Um dos mais conhecidos personagens da noite paulistana é Oscar Maroni, proprietário da casa de entretenimento adulto Bahamas. Embora afirme que vai aproveitar o Mundial para receber turistas em dias de jogos, Maroni afirma que o Brasil não é o país mais visado no mundo quando se trata de turismo sexual. Ele cita lugares como as vitrines de prostitutas, em Amsterdã, o musical Moulin Rouge, na França, e até os desfiles de moda em todo o mundo como exemplos desse tipo de exploração turística.
“O turismo sexual é um atrativo a mais para o turista, no meu caso a sensualidade das mulheres brasileiras, as profissionais”, afirma o empresário. Maroni, que se diz bom de publicidade, vai transmitir as partidas da Copa no telão do Bahamas, com pratos típicos dos países que vão jogar a cada dia.
Maroni provocou polêmica semanas antes da Copa ao espalhar nas proximidades de São Paulo outdoors referentes ao turismo sexual. A imagem de uma mulher sentada em uma bola de frente para um homem sugeria o ato do sexo oral. A propaganda, exposta em rodovias de acesso à cidade, teve de ser retirada, sendo substituída pela imagem de duas joaninhas copulando. A respeito da troca da peça publicitária, o proprietário declara: “Eu coloquei aquelas joaninhas. Em um dia deu mais de 60 mil acessos. Foi pra dar um tapa de luva de pelica neles [que estavam criticando]”.
Maroni acredita que seu negócio está preparado para receber visitas estrangeiras. “A musa da Copa do Bahamas Club fala inglês, e eu fiz questão de pegar os dois maîtres que falam inglês. Nós estamos planejando alguns shows com as bandeiras dos países conforme os dias. Além disso, lá embaixo vai ter apresentação dos jogos e o cardápio já é em duas línguas. O site eu vou colocar em inglês, já pensando no atendimento ao turista”, conta o empresário.
Opção na rua
Já a rua Augusta, conhecida por abrigar diversas casas de entretenimento adulto, apresenta despreparo no que diz respeito a línguas estrangeiras. O gerente da boate Night House, que se apresenta como Garcia Rodrigues, diz que e trabalha há mais de dez anos na Augusta. Ele avalia que o movimento tende a aumentar durante a Copa, mas as casas e as garotas não estão se preparando para isso. “Elas dizem que falam a língua do amor e que o idioma não é dificuldade na hora de negociar. O gringo sabe pagar e ela sabe contar, simples assim”, diz.
O gerente da boate considera a Augusta um ponto turístico da cidade. Sendo assim, o movimento independe de as casas estarem preparadas ou não. “Não é de hoje que as casas daqui recebem pessoas de outro países. A Augusta não vai ganhar menos dinheiro por causa disso [falta da língua inglesa]”, opina Rodrigues.
A gaúcha Julia, 30 anos, trabalha como garota de programa há nove. Atualmente, não tem ponto fixo e trabalha como agenciada. Ela conta que deixou Porto Alegre para fazer dinheiro em razão do Mundial. Chegou a São Paulo quatro meses atrás e diz que ganha R$ 10 mil. Formada em gastronomia, viveu três anos na Itália e fala italiano, inglês e espanhol. Diz que já trabalhou em diversas boates em São Paulo e Porto Alegre e que não há preparação alguma na Augusta, apenas boates de luxo se importam com isso. “As meninas da Augusta querem dinheiro”, afirma.
Julia comenta que garotas de outros Estados estão vindo para São Paulo e Rio de Janeiro para ganhar dinheiro com a Copa, mas que o Nordeste também está em alta. “Garotas de outros países como Bolívia e Paraguai também estão trabalhando com a gente”, revela.
Localização estratégica
O dono do Bahamas acredita que sua casa tem localização estratégica, por ser próxima ao aeroporto de Congonhas. Como consequência, recebe turistas frequentemente. Para isso, ele possui um acordo com taxistas, que ganham em média R$ 51, apenas para deixar clientes na casa noturna. “Eles [clientes] guardam as suas malas nos armários, trancam e pagam os R$ 231 para entrar [no Bahamas].” Maroni considera seu negócio um local benéfico no momento do Mundial.
Em 2011, Oscar Maroni chegou a ser condenado a 11 anos e 8 meses de reclusão, acusado de favorecer a prostituição e manter local para fins libidinosos. Porém, alega que não comete o crime de cafetinagem: “Eu não tenho vínculo nenhum com elas [as garotas que frequentam a casa]. Elas pagam R$ 31 para entrar e o que elas fazem lá dentro não é problema meu. Meu lucro vem do ingresso, do bar, do restaurante, da locação da suíte por uma hora. Isso me possibilita dizer que eu não faço nada ilegal.”
Questionado por supostamente cometer atos ilegais, o empresário dispara. “Sou, sim, contrário radicalmente às atividades ilícitas: pedofilia, uso de droga, estupro, venda de armas, assalto, isso são atividades ilegais. Fazer sexo, profissional ou não, não é ilegal”. Ele acrescenta que ao tratar de sexo só há duas regras: ter livre arbítrio e ser maior de idade.
Campanha
As camisetas criadas pela marca de artigos esportivos Adidas para a Copa de 2014 traziam estampas de imagens e frases com duplo sentido, fazendo menção ao sexo. Uma das citações dizia “lookin’ to score”, que tem como tradução “em busca de gols”, mas é também uma expressão usada por americanos que significa “pegar garotas”. As imagens exibiam uma mulher de biquíni, tendo ao fundo o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, não deixando dúvidas sobre a conotação maliciosa.
A coleção, confeccionada especialmente para comemorar o Mundial, teve repercussão negativa no País. A Embratur desaprovou a iniciativa. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o presidente da Embratur, Flávio Dino, disse que o governo se esforça para afirmar uma imagem positiva da Copa. Segundo ele, o governo brasileiro não aprova esse tipo de produtos e que rechaça o turismo sexual.
Após a polêmica, a Adidas decidiu que iria retirar as camisetas do mercado. A marca informou que a edição do produto era limitada e que estaria à venda apenas em lojas dos Estados Unidos. A comercialização acabou suspensa.
Exploração de menores
A grande preocupação do governo brasileiro não é a prostituição em geral, mas a exploração sexual de menores, não apenas por estrangeiros, mas também por brasileiros que se aproveitam da situação.
No final de 2013 foi aberta uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara Municipal de São Paulo para investigar casos de abusos de menores que aconteceram na cidade. A relatora da CPI é a vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), que também é presidente da Comissão Especial da Criança e vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara.
Muitos casos investigados pela CPI ocorreram em Itaquera, perto do novo estádio de São Paulo, a Arena Corinthians, que será palco da abertura da Copa do Mundo. Um dos relatos da CPI conta sobre uma menina de 13 anos foi abusada e engravidou.
A vereadora não concedeu entrevista para esta reportagem. Sua assessoria enviou trechos de entrevista anterior de Patrícia sobre o tema. Nela, a tucana conta que a motivação da CPI foram denúncias de exploração de menores no Terminal de Cargas Fernão Dias e na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). “Logo no início dos trabalhos constatei que a questão era mais ampla e mais complexa. A cidade de São Paulo, que realiza, em média, 90 mil eventos por ano, não estava preparada para proteger nossas crianças e nossos adolescentes. Passamos, então, a ouvir representantes do Poder Público Municipal, Estadual e Federal, Ministério Público, Poder Judiciário e as entidades da sociedade civil que defendem os direitos da criança e do adolescente”.
A reportagem procurou a Prefeitura de São Paulo para falar sobre o tema. Júlio Bittencourt, assessor da vice-prefeita, Nádia Campeão, afirmou que o assunto não é de responsabilidade municipal, mas federal, pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Uma das medidas do governo federal é a campanha Não Desvie o Olhar. De acordo com o site da campanha, ela é internacional e tem como objetivo a “sensibilização contra a exploração sexual de crianças e adolescentes”.
No Brasil, a campanha está presente nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo. Em São Paulo, a garota propaganda é a apresentadora Xuxa Meneghel, que estava na inauguração da Arena Corinthians.
Questionada sobre quais as medidas a população pode tomar para ajudar no combate à exploração sexual infantil, Patrícia Bezerra diz que todos devem estar atentos ao comportamento dos jovens. “Se não cuidarmos das crianças, podemos estar entregando-as de bandeja para exploradores.” Como dica adicional, ela aconselha que os pais fiquem perto dos filhos em dias de jogos do Brasil. É nas horas em que todos estão distraídos que os criminosos agem”, avisa.