Primeiro álbum dos Beatles completa cinco décadas de vida
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O primeiro álbum lançado pelos Beatles no mercado fonográfico, “Please Please Me”, completou 50 anos de lançamento em março de 2013. A obra, produzida por George Martin e famosa pela capa com o quarteto John Lennon (guitarra e vocal), Paul McCartney (baixo e vocal), George Harrison (guitarra solo e vocal) e Ringo Starr (bateria e vocal) posando em uma varanda na sede da gravadora EMI em Londres, contém 14 faixas – entre elas, clássicos como “Love Me Do” e “Twist and Shout”, que lançaram o grupo britânico ao estrelato. Os reconhecimentos instantâneos se somaram ao sucesso de longo prazo: além de ficar no topo das paradas por 30 semanas à época, “Please Please Me” ficou na 39º posição da lista “500 melhores álbuns de todos os tempos”, da revista Rolling Stones.
Ouça um preview de “Love me do”
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Formada em Liverpool em 1960 e composta, a partir de 1962, pelo famoso “fab four”, que embalou fãs de diversas gerações e revolucionou o mundo da música pop, os Beatles são, hoje, a banda que vendeu mais discos na história, com um recorde estimado de 2,3 bilhões de exemplares comercializados.
Segundo o jornalista, compositor e pesquisador de música popular Ayrton Mugnaini Jr., a reputação do grupo, construída ao longo da década de 1960 com sucessivos recordes de vendagem e álbuns aclamados pela crítica, acabou fazendo com que todas as gerações seguintes o tivessem como referência de música popular. “O que é bom, ou tem grande apelo popular, é atemporal. Elvis Presley, Roy Orbison e os Beach Boys são apenas três exemplos de artistas mais antigos que os Beatles que também continuam fazendo sucesso e exercendo grande influência”, argumenta.
Mugnaini diz que, desde “Please Please Me”, a fórmula que caracterizaria o sucesso da banda estava desenhada. “Eles já estão todos lá, com suas personalidades musicais começando a se desenvolver: Paul, romântico, às vezes bobinho, mas sempre eficiente e versátil, com direito a fazer um dueto consigo mesmo (“A Taste Of Honey”); John, o roqueiro sempre inquieto; Ringo, o baterista seguro e preciso e dono de uma boa voz; e George, tímido mas confiável.”
Os Beatles alcançaram um sucesso imediato no Reino Unido com seu primeiro single “Love Me Do”, em 1962, adquirindo popularidade internacional
a partir do ano seguinte. Em 4 de abril de 1964, fizeram história ao monopolizar as cinco primeiras posições do Hot 100, ranking da revista Billboard que avalia a lista das cem músicas mais vendidas no decorrer de uma semana. Em primeiro lugar estava “Can’t Buy Me Love”, seguida por “Twist and Shout”; em terceiro “She Loves You”, “I Want to Hold Your Hand” em seguida e, finalmente, “Please Please Me” em quinto lugar.
A banda excursionou sem parar até 1966, quando os músicos se retiraram para trabalhar em estúdio e assumir uma série de experimentações sonoras, do folk rock ao psicodélico, incorporando música clássica e até mesmo elementos da música indiana, em discos aclamados como “The White Album”. A dissolução ocorreu em 1970. Cada músico, então, seguiu carreira solo, alcançando resultados positivos.
Gerações encantadas
Paulo de Tarso Pizza, 58 anos, conheceu os Beatles pelo rádio, ouvindo “A Hard Day’s Night”, apesar de o grupo ter estreado antes com “Love Me Do”. A conjunção vocal e a “química” criativa de Lennon e McCartney estão entre os principais motivos para sua admiração pelo grupo. “Meu pai, que não gostava de rock, dizia que havia harmonia na banda”, comenta. Quando o filme “A Hard Day’s Night”, gravado na Inglaterra e lançado no Brasil como “Os Reis do Iê-Iê-Iê”, estreou em Avaré, interior de São Paulo e cidade natal de Paulo, três sessões – todas com longas filas – foram organizadas no cinema da cidade. “Quando servi o Exército, no Tiro de Guerra de Avaré, aos 16 anos, jovens de diversas tribos, de diferentes classes sociais da cidade, tinham o disco dos Beatles. Isso foi
algo que eu não imaginava e que me chamou muito a atenção.”
Um pouco mais recente é a paixão de Manoel Martins, de 19 anos, que conheceu os Beatles há uma década por meio de um álbum da cantora Rita Lee que continha covers de músicas do grupo. O álbum pertencia a seu pai, que também é admirador da banda. “Me dá um sentimento bom, uma nostalgia, ouvir várias musicas junto ao meu pai”, revela. “O que mais me encanta é que a banda durou apenas uma década e nesse período eles lançaram álbuns com vários tipos de estilos, revolucionaram tudo, criaram gêneros. Tocavam desde pop até rock psicodélico”, conta.
Carmen Faria, 58 anos, conta que conheceu os Beatles pelo rádio e pelas revistas e foi cativada pela simplicidade das letras, pelo ritmo agitado da músicas mais barulhentas e pela emoção que expressavam. “A primeira música dos Beatles que ouvi foi ‘Michelle’, e foi amor à primeira audição. Até hoje gosto de ouvi-la”. Carmen acredita que o sucesso da banda nos dias atuais se deve ao fato de os jovens terem mais facilidade para entender as músicas, em função da disseminação do idioma inglês, e à matriz temática universal das canções, que aborda aspectos da juventude como amor, ciúmes, solidão e rebeldia, entre outros.
Andressa Vilela, 18, foi apresentada ao grupo no rádio do carro de seu tio e não economizou nas homenagens: tem, hoje, uma tatuagem com os dizeres “Live and Let Die”, título de uma música da carreira solo de Paul McCartney. “Eu interpreto viver e deixar morrer como um esforço pra superar situações que por algum motivo acabaram. É colocar na minha cabeça que não adianta ficar remoendo algumas coisas que simplesmente não vão voltar, é seguir em frente”, reflete a jovem, que afirma que uma das virtudes do “fab four” é ter revolucionado o século XX por meio de apenas dez anos de carreira. “Esse é um dos clichês que mais fazem sentido no mundo.”
Pioneiro, mas nem tanto
Embora tenha trazido uma série de inovações na forma de se compor, tocar e apresentar músicas no rock dos anos 1960, na opinião de Ayrton Mugnaini Jr., “Please Please Me” não é o marco zero de uma série de mudanças que o cenário vivenciou à época; por exemplo, não foi o primeiro a ostentar composições autorais, o que já era feito pelos Beach Boys. Do mesmo modo, o rock dos anos 1950 já havia sido convertido em música para duas guitarras, contrabaixo e bateria (os Shadows foram os pioneiros), o cruzamento entre o country e o rock já havia sido feito pelos Everly Brothers e artistas como Brian Wilson, Carole King e Burt Bacharach já traziam riqueza melódica incomum em seus trabalhos. “A graça dos Beatles está em eles terem sido grandes antenas, reunindo tudo isso e mais num grupo só”, diz o jornalista e crítico. “ Embora os Beatles tenham álbuns ainda melhores, como ‘A Hard Day’s Night’, ‘Revolver’ e ‘Abbey Road’, ‘Please Please Me’ tem qualidade e apelo suficientes para continuar vendendo até hoje.”
Sobre a velha polêmica que envolve as reais virtudes de Lennon, McCartney, Starr e Harrison como músicos e criadores, Mugnaini Jr. afirma: “O fato de os Beatles não serem os melhores artistas de todos os tempos não significa que foram ruins; pelo contrário, eles tinham qualidade suficiente para o melhor de sua obra ser eterno”, acrescenta.
Show à vista
O ex-Beatle Paul McCartney volta ao Brasil em 2013 para três shows com a turnê “Out there!”. Apresenta-se no dia 4 de maio no Mineirão, em Belo Horizonte; no dia 6 de maio no Serra Dourada, em Goiânia; e em 9/5 na Arena Castelão, em Fortaleza, trazendo ao palco algumas das músicas de sua carreira solo, do período do Wings e da época dos Beatles. O valor dos ingressos varia de R$80,00 a R$600,00. Sua última passagem pelo país ocorreu no ano passado, com shows em Recife e Florianópolis.
Maria Eugênia Ferber (1º semestre)