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Precisamos falar sobre a mulher: será que ela conquistou tanto espaço e direitos?

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Em meio a tamanha discussão sobre abuso sexual de mulheres, surgem dúvidas e questionamentos sobre os padrões da sociedade conservadora. Hoje em dia, o que está em pauta é muito mais que mulheres saírem com a roupa que desejam ou brigar com quem passa a mão na bunda delas, agora se fala em liberdade sexual, de expressão, de direitos. A professora de História do Brasil pela Unicamp, Joice Oliveira, afirma que às mulheres foi negado o direito de memória, de salários iguais, entre tantas outras coisas.

E a discussão vai ainda mais longe. Joice, assim como muitas outras consideradas feministas, critica ações publicitárias, no caso da propaganda de cerveja Skol, aborto, responsabilidade e abuso. O que é questionado hoje é de quem é a culpa, as roupas curtas são realmente responsáveis ou apenas uma justificativa? O aborto, é Direito da Mulher ou questão ética?

Joice responde a algumas das perguntas mais recentes que agora passam a permear o pensamento da sociedade. A quebra de valores tradicionais, do que é certo e errado, assim como o que é igualdade e liberdade são pontos importantes para determinar o futuro do país. Com as brigas políticas e de ideais, o que está em jogo é a desconstrução de modelos ultrapassados.

 

Na sua opinião, a questão da legalização do aborto diz respeito somente a vontade e decisão da mulher, ou deve-se levar em conta questões éticas como Direito a Vida?

A questão da legalização do aborto é sem dúvida uma questão delicada e que está sendo discutida de forma bastante acalorada em nosso país. Eu acredito que é preciso fazer essa discussão de forma séria e responsável, deixando nossas crenças religiosas e preceitos morais de fora. O aborto é uma realidade no Brasil, segundo o estudo feito no ano de 2010, pela Universidade de Brasília, uma a cada cinco mulheres com mais de 40 anos já fizeram, pelo menos, um aborto na vida.

As mulheres abortam, isso é fato. A questão é que, para não serem criminalizadas elas fazem isso de forma clandestina, e por isso muitas se submetem a procedimentos perigosos, tomam pílulas abortivas ou caem nas mãos de “açougueiros” em clínicas clandestinas. Hoje, o aborto é uma questão de saúde pública, visto que milhares de mulheres morrem ou acabam nos hospitais em decorrência de complicações de abortos mal realizados.

Diante desse cenário, é preciso preservar o direito à vida das mulheres e garantir a elas o direito de interromper uma gravidez, seja por qualquer motivo, cabe a ela tomar essa decisão.

Os movimentos feministas discutem frequentemente a questão da igualdade de sexos no mercado de trabalho. Um dos assuntos que mais aparecem nas pautas relacionadas a esse tema é, também, o preconceito. É muito comum mulheres serem pré-determinadas a certos cargos e funções consideradas femininas, mas, por outro lado, os homens também sofrem um pouco com isso caso escolham atuar como professores do primário, em creches, etc. O que você acha disso? O problema de igualde também diz respeito aos homens neste caso?

Nesses casos, eu não acredito que o problema da igualdade também diz respeito aos homens nesses casos, como argumentei na questão anterior, a sociedade tem durante séculos restringido as escolhas das mulheres e determinando quais trabalhos ela pode ou não exercer. E muitas vezes quando homens exercem cargos considerados femininos recebem salários melhores.

É comum, hoje em dia, questionar o porquê. Na sua opinião, além de sofrerem inferioridade em outros aspectos (além do cotidiano), qual o motivo por trás disso?

Uma recente pesquisa demonstrou que o salário de uma mulher na mesma função que um homem, pode ser até 30% menor. Muitas vezes, a justificativa para tal diferença é a maternidade e o fato de a mulher se ausentar do mercado de trabalho por um determinado período. Perceba que enquanto a maternidade é utilizada para diminuir a condição da mulher no mercado de trabalho, não se discute a dupla jornada feminina, o fato de que as mulheres possuem uma alta carga de trabalho em suas casas, ao cuidar de seus filhos e dos afazeres domésticos.

Sabendo do modelo patriarcal e do pensamento rebuscado comum a maioria das pessoas, qual sua opinião sobre o papel do homem (e não da mulher) na sociedade?

Durante séculos, essa sociedade patriarcal tem oprimido as mulheres e delegado papéis às mesmas. Às mulheres foi negado e restringido o direito de estudar, escolher uma carreira profissional, votar e viver de acordos com suas próprias escolhas. Até mesmo o direito à memória lhes foi negado.  Observe a História, quantas mulheres ocupam as páginas dos nossos livros didáticos? Elas foram apagadas dos processos de lutas sociais e políticas, do processo de construção dos saberes e do desenvolvimento cultural e científico de nossas sociedades. Faça um exercício: tente elencar nomes de escritoras, figuras histórias, cientistas, presidentas, de quantas mulheres você consegue lembrar?

Sobre a propaganda da Skol. Você acha que os publicitários envolvidos nessa ideia buscavam polemizar a marca ou apenas retratar uma ideia comum aos homens? Afinal, a propaganda era, obviamente, ofensiva.

De fato, era uma propaganda bastante ofensiva e irresponsável. A campanha estava afirmando que por estarem no Carnaval, as mulheres estavam disponíveis e não tinham direito de dizer não às investidas masculinas.  Naquele caso especificamente, a propaganda estava fazendo apologia à violência contra as mulheres (ao beijo forçado e ao estupro).

Eu acredito que a campanha retratava um pensamento masculino, que está apoiado na ideia de que uma mulher no carnaval está disponível e por isso muitos homens se sentem à vontade para assediá-la e se recusam a ouvir não. É preciso desconstruir essa mentalidade de que as mulheres estão sempre disponíveis. Nós mulheres, precisamos ter o direito de ir para uma balada ou sentarmos sozinhas em uma mesa de bar sem sermos assediadas.

A cerveja Skol é mais uma entre tantas propagandas que utilizam mulheres como apelativos.

A Skol não é a única marca a desrespeitar as mulheres, já que tratar a mulher como objeto é algo bastante comum na publicidade. Basta lembrarmos das propagandas de outras marcar de cerveja, de carro, de lojas de móveis… enfim a lista é imensa. Até mesmo, quando o público alvo da campanha é a mulher, as empresas cometem atos machistas, lembremos da recente campanha publicitário dos esmaltes Risqué “Homens que amamos”, que teria sido inspirada nas ações masculinas que fazem a diferença na vida das consumidoras, como por exemplo “André fez o jantar”.

As mulheres, muitas vezes são culpadas pelos abusos que sofrem apenas por usarem roupas curtas. Considerando o cenário do país em que vivemos, você acha que a mulher deve repensar seu guarda-roupa antes de sair de casa ou pode se vestir livremente?

A violência sexual contra mulheres é algo alarmante em nosso país. De acordo com os dados do Dossiê Mulher 2014 promovido pelo Instituo de Segurança Pública, foram registrados no estado do Rio de Janeiro no ano de 2013, 4.872 estupros de mulheres, o que significa 13 mulheres atacadas por dia, ou um caso a cada duas horas.

Em casos de violência sexual contra mulheres, é muito comum que a vítima seja culpabilizada, que a violência seja justificada pela roupa, pela conduta, pelo lugar em que ela estava, enfim se transfere a responsabilidade do crime para a vítima. A mulher nunca é responsável pela agressão que sofre (seja ela de qualquer natureza), a mulher é vítima e precisa ser tratada e respeitada como tal.

Não são as mulheres que devem repensar o guarda-roupa, todas nós temos o direito de nos vestir e agir livremente. É preciso combater a cultura machista, que moraliza as ações das mulheres e as julga e condena por suas roupas.

Qual sua opinião sobre as medidas tomadas pelo governo do Rio de Janeiro? O Vagão Rosa, por exemplo, é uma medida necessária? O que você acha? Por fim, quais medidas você acha que seriam eficazes para resolver o problema dos sexos no Brasil?

A questão do vagão rosa é bastante complexa e divide opiniões. Algumas feministas acreditam que o vagão poderia ser uma medida protetiva, que deixaria a mulher menos vulnerável. Eu, particularmente (não estou falando em nome de nenhum coletivo feminista) acredito que criar um vagão exclusivo para mulheres não é a solução, pode, até mesmo, ser um retrocesso na luta pelos direitos das mulheres. Digo isso, pois tenho em mente a cultura machista que impõe às mulheres a responsabilidade pela própria integridade (voltemos a questão anterior sobre o uso de determinadas roupas e culpalibização das vítimas em caso de violência sexual), quando, na verdade, o cerceamento de liberdade deveria focar no agressor.

Atos machistas vem de casa? É uma questão de educação ou exemplo?

O machismo faz parte de nossa cultura e é reproduzido por homens e mulheres. Por isso, combatê-lo é uma tarefa árdua, mas é extremamente necessária. Muito dessa luta, concentra-se em repensar o modo como educamos as crianças, pois como bem sabemos meninas crescem sob uma constante censura que determina o seu modo de falar, de vestir e de agir. E os meninos são ensinados que devem ser conquistadores e que devem enxergar as mulheres como indivíduos frágeis e muitas vezes, inferiores a eles. Nesse sentido as discussões de gênero e do feminismo são essenciais para minimizar os efeitos do machismo e para evitar a reprodução do mesmo.

Além colocar em pauta essas questões, o que mais pode ser feito?

O assédio é algo que nós mulheres enfrentamos diariamente, nos mais diferentes espaços de nosso cotidiano: seja no transporte público quando somos “encoxadas”; nos nossos empregos e/ou faculdades quando temos que aturar comentários machistas de nossos colegas; nas ruas quando somos obrigadas a ouvir assobios e todo tipo de cantada; em todos os espaços as mulheres são submetidas à violência do machismo. Acredito que possam ser criadas formas simples e imediatas de diminuir e coibir os casos de agressão, mas para isso funcionar, as mulheres precisam se sentir livres para denunciar.

Natália Duez Verzaro (2 semestre)

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