O Futuro será digital
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Como o iPad e os tablets estão transformando o jornalismo impresso
Desde o surgimento da internet, o fim do jornalismo impresso foi imediatamente anunciado. Diversas opiniões de pessoas envolvidas no processo davam conta de que os sites e blogs substituiriam os veículos tradicionais e o jornalista seria relegado a segundo plano como difusor de notícias, já que qualquer cidadão poderia informar dentro da grande rede. A folha de papel como meio de transmissão de informações iria acabar, dando lugar aos bits. Porém, seja pelo desconforto de se ler em uma tela de computador, seja pela falta de costume dos leitores, os jornais e revistas resistiram.
Em janeiro de 2010, quando Steve Jobs, fundador e CEO da Apple, anunciou o lançamento do iPad – o primeiro de uma série de tablets que passariam a ser lançados a seguir –, a sensação era de que a tecnologia finalmente havia conseguido reproduzir a experiência da leitura no papel. O produto da Apple era leve, colorido e ainda abria a possibilidade de se assistir a vídeos, ouvir músicas, jogar games, tudo no mesmo aparelho. A mídia impressa novamente recebeu sua sentença de morte. Simultaneamente, foi registrado um efeito cascata de falências e fechamento de uma série de jornais e revistas, pelo mundo todo. De um dia para outro, redações inteiras eram demitidas, veículos impressos circulavam apenas pela web, quando não tinham decretadas suas falências. A internet e o novo ator da história – o tablet, representado pelo iPad –, foram considerados como os grandes vilões, recebendo boa parte da culpa por supostamente estarem matando a mídia impressa.
Mas o que se vê atualmente são os novos capítulos de uma nova realidade. A cada semana, uma grande empresa de tecnologia anuncia o lançamento de um novo tablet. E, semanalmente, também são mostradas as versões de jornais e revistas antes restritos à forma impressa.
Transição
Nos Estados Unidos, a transição dos veículos de mídia impressa para o mundo digital já é um movimento definitivo. Quase 15 milhões de iPads foram vendidos no ano passado em território americano e, para este ano, as projeções esperam que sejam comercializados 55 milhões de tablets, boa parte deles de aparelhos da Apple. De olho nessa tendência e em busca de novas fontes de receita, praticamente todos os grandes veículos da mídia impressa dispõem de versões especialmente desenvolvidas para o iPad. Existem até jornais criados exclusivamente para o tablet, como o The Daily da News Corp., megaconglomerado de comunicação do magnata australiano Rupert Murdoch.
Os mais importantes veículos impressos do Brasil já começaram a se movimentar. A revista Veja tem, desde setembro de 2010, sua versão para iPad – o aplicativo da versão digital da publicação da Editora Abril foi, inclusive, o mais baixado do mundo nas semanas após seu lançamento. O jornal Folha de S. Paulo também realizou a transição em maio do mesmo ano. O Estado de S. Paulo, jornal que já tinha há cerca de um ano sua versão digital, apresentou, no último mês de abril, uma versão exclusiva para iPad. Ainda em abril, foi lançado o primeiro jornal especialmente desenvolvido para iPad, o Brasil 247, que, ao contrário das versões digitais dos jornais tradicionais, possui duas edições diárias, publicadas às 6 e 20 h.
O editor da versão digital do Estadão, Guilherme Werneck, coordenou a formulação da versão para o tablet, iniciando a versão na mesma semana que o iPad foi lançado nos EUA. O jornal que já tinha uma versão restrita à internet, criou uma comissão para repensar o formato digital, mesmo sem ter o tablet nas mãos. Com isso, ele saiu na frente também quanto às possibilidades que o produto da Apple poderia oferecer como meio de leitura. A versão do Estadão para o tablet é a mesma da impressa, mas com conteúdo expandido de áudio e vídeo, além de artes e infográficos exclusivos. Foi montada uma equipe própria para a página digital. De acordo com o jornalista, trata-se de uma equipe de “fechadores”, que reembala e reorganiza o conteúdo do jornal impresso, fazendo acontecer o trânsito da impressa para a digital.
Para Werneck, o futuro do jornalismo é digital. “O jornal impresso passará a ser um produto-fetiche, como os discos de vinil. A curto e médio prazos, a tendência é que os jornais sigam a tendência americana, na qual os jornais circulam apenas em determinados dias da semana ou existem apenas na internet”, afirma o jornalista.
O contexto brasileiro
No Brasil, porém, o processo irá demorar algum tempo para ser finalizado. A tecnologia se desenvolve mais devagar e os números de vendas também não são expressivos. Em 2010 foram vendidos apenas 100 mil tablets no País, sendo 64 mil iPads. Apesar disso, as perspectivas para o futuro são animadoras. Um fator que deve aquecer o mercado nos próximos meses é a desoneração de impostos que os tablets irão receber no Brasil: a expectativa do preço dos tablets produzidos no País é cair cerca de 30%, entre eles o iPad – com a instalação da fábrica da empresa taiwanesa Foxconn, fabricante do produto da Apple, em Jundiaí (SP).
A expectativa é que as grandes marcas do jornalismo brasileiro ainda circularão na forma física por bastante tempo. “É impensável imaginar que as versões impressas dos maiores jornais brasileiros, como Estadão, Folha ou O Globo, terminem nos próximos anos. Contudo, os jornais populares, como o Meia Hora, do Rio de Janeiro, que registraram nos últimos anos um crescimento meteórico na circulação, continuarão existindo por um bom espaço de tempo”, prevê Werneck.
Se o meio irá mudar, o que deve permanecer é a função do jornalista. Ele também será o profissional responsável por criar, editar, apurar e publicar toda a gigantesca massa de informações que os jornais e revistas terão que divulgar com a explosão dos meios. A transição para o mundo digital poderá, inclusive, trazer mais possibilidades para o jornalismo, considerando que a limitação física do papel deixará de existir.
A credibilidade é, e seguirá sendo, o principal ativo dos grandes veículos de comunicação. Portanto, o material jornalístico, apurado e de qualidade, sempre será feito, não importando o meio. O diagnóstico de Bruno Paes Manso, jornalista da versão impressa de O Estado de S. Paulo, caminha nesse sentido: “O jornalista continuará a produzir conteúdo, mas de diferentes formas e tempos.” A tecnologia terá a capacidade de modificar o meio, mas a essência de um jornal ainda será o bom jornalismo.
Gabriel Garcia (2º semestre)