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Mudança curricular no ensino médio divide opiniões entre alunos e professores

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O novo currículo organizaria as atuais disciplinas nas quatro áreas do conhecimento exigidas no Enem

Junto a secretários estaduais, representantes do governo federal e especialistas, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, formalizou, em reunião em Brasília no dia 21 de agosto, um pacto para melhorar a qualidade do ensino médio brasileiro que prevê mudanças em sua estrutura curricular, com a diminuição do número de disciplinas da grade. Um próximo encontro já foi agendado para o dia 18 de outubro, em Santa Catarina, para que o grupo apresente o resultado das discussões a respeito dos incentivos e mudanças para esta etapa da educação.

A ideia é que as atuais 13 disciplinas (história, geografia, matemática, física, química, biologia, sociologia, filosofia, artes, inglês, espanhol, educação física e língua portuguesa) sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, linguagens, códigos e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias), seguindo a lógica de organização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Logo, o exame passará a ser o modelo para o novo currículo e, além disso, será a avaliação oficial da qualidade de ensino. O plano de redução do currículo será analisado pelo Conselho Nacional de Educação.

A proposta surgiu após a divulgação dos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que mede o desempenho da educação básica nacional. Os dados, divulgados no dia 14 de agosto e referentes a 2011 (o Índice é divulgado a cada dois anos), apontaram a estagnação do desempenho do ensino médio no País. A nota vai de zero a dez, e considera tanto o desempenho em português e matemática quanto a taxa de aprovação dos estudantes (quantidade de alunos que passaram de ano).

A evolução do Ideb foi tímida: de 3,6, em 2009, foi para 3,7 em 2011 na média geral, além de ter permanecido em 3,4 na rede pública. De acordo com Mercadante, o número de matérias obrigatórias é extenso e responsável pelo baixo desempenho dos alunos. Ele acredita que um currículo mais flexível e menos fragmentado levará a uma melhora na qualidade da educação. Focar o ensino no Enem seria uma forma de atender as expectativas dos alunos que querem principalmente passar no vestibular.

INTEGRAÇÃO

Para Arthur Lara, aluno da 3ª série do ensino médio do Colégio Visconde de Porto Seguro, a reformulação curricular é uma boa oportunidade para motivar a integração entre as disciplinas, tornando-as mais úteis e práticas de se estudar. “Matérias como biologia, química e física seriam estudadas e relacionadas juntamente, o que traria outra análise, diferente da que fazemos ao estudá-las separadamente”, justifica. Segundo o jovem, havendo menos matérias, as aulas poderiam ser exploradas profundamente com mais calma – da mesma forma, o menor volume de exames também poderia trazer melhores resultados.

Katia Chedid, diretora do ensino fundamental II do mesmo colégio, concorda com este ponto de vista. “Sou a favor das medidas, pois, ao fragmentar os conteúdos, corremos o risco de o aluno não perceber a interface e não conseguir fazer as relações interdisciplinares importantes que existem entre as matérias da mesma área”, defende.

De acordo com Katia, mesmo que seja difícil achar um profissional que dê conta desta demanda – ainda não está definida como será a distribuição dos docentes nas áreas – , os professores devem ir atrás desta capacitação, ou seja, o professor deve dominar uma área maior de conhecimento. “Nossos alunos merecem aulas mais significativas, contextualizadas e interativas, baseadas na resolução de problemas e em estudos atuais da neurociência”, conclui.

VALORIZAR A EDUCAÇÃO

No entanto, o professor de língua portuguesa do Colégio Dante Alighieri Sergio Souza tem outra opinião a respeito do assunto. “O Enem é uma forma de medir como está a educação, mas não deve, no momento, se transformar no modelo para o sistema de ensino em nenhum aspecto. Não acho que tenha de haver mudança no currículo, deve ser mantido como está”, afirma. Para ele, o desempenho do aluno melhorará quando houver valorização do conhecimento em nossa sociedade e, principalmente, valorização dos professores – que, no momento, segundo Souza, recebem baixos salários.

“O que falta à escola brasileira é o que falta à sociedade brasileira: respeito pelo conhecimento, valorização de quem trabalha com educação, respeito por aquilo que é público, compreender que não haverá uma sociedade forte, com pessoas em condições de disputar os espaços, se não houver educação séria”, assegura.

Também do Colégio Dante Alighieri, a aluna da 3ª série do ensino médio Carolina Saad defende a posição de que, independentemente do Enem, o aluno deve desenvolver o pensamento lógico e adquirir conhecimentos específicos. “Basear o ensino em uma prova não é correto, já que o objetivo da escola não é apenas fazer o aluno passar no vestibular, mas também prepará-lo para a vida”, expõe.

Segundo Carolina, há outros fatores que interferem no desempenho. O problema não é apenas o aluno, o professor ou o currículo, e sim a combinação desses três elementos e da cultura brasileira – que quase não incentiva os alunos a estudar e se esforçar. “Nós estamos acostumados com o pensamento ‘se ninguém conseguiu, porque eu conseguiria?’. Por isso, é preciso primeiro mudar o pensamento da sociedade em seu total para, depois, ter uma melhora no ensino”, explica.

E você, o que pensa a respeito? Dê a sua opinião! Responda a enquete no menu ao lado!

Laís Cebollini Guidi (2º semestre)

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