Loucuras de fãs: relatos de quem acampa à espera de shows
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Juan Cuela e Tais Burihan (1º semestre)
A expressão “Come to Brazil” é um marco da internet mundial e se tornou um viral a partir de 2008. Foi usada por fãs brasileiros para pedir aos ídolos internacionais que viessem ao Brasil, compartilhada como hashtag em perfis e páginas das redes sociais de diferentes artistas. Utilizada em abundância pelos fãs de todo o país, acabou virando um meme e se tornou motivo de ridicularização internacionalmente. Apesar das piadas em torno da hashtag, ela também simboliza a persistência e a dedicação dos fãs brasileiros, dentro e fora das redes sociais.
Nos shows, por exemplo, os fanáticos ficam tão emocionados e entusiasmados, que sempre acabam impressionando quem está no palco. Para conseguir um pouco mais de contato com os ídolos vale tudo, inclusive acampar na frente das arenas ou estádios onde eles irão se apresentar. Quem decide encarar esse desafio passa por vários sufocos, como frio, chuva, brigas e até assaltos, por semanas ou meses.
O estudante Felipe Ferreira acampou duas vezes para shows da cantora norte-americana Katy Perry, em São Paulo. No mais recente, em 2018, ele fez parte de um grupo com 25 pessoas que passou um mês na frente do estádio. “Tudo era muito bem organizado, parecia uma empresa. Havia responsáveis por cada função. Fora essas 25 pessoas, tínhamos umas 15 de fora da cidade que não podiam acampar e ajudavam a gente financeiramente, com os gastos de passagem, lanchinho etc.”, afirma.
Para conseguir se organizar em turnos (manhã, tarde, noite e madrugada), Felipe relata que foi elaborado um banco de horas. “Mas sempre havia alguns que faziam mais horas e, no fim, esse banco de horas serviu [apenas] para organizar a ordem que íamos entrar no show”. Felipe é categórico ao dizer que não se arrepende de nada e faria tudo novamente.
Fã de carteirinha do astro pop Justin Bieber, a também estudante Fernanda Langella desejava vê-lo o mais próximo possível. Por isso, na segunda vinda do cantor ao Brasil, em 2013, ela e suas amigas decidiram acampar em frente a Arena Anhembi para aguardar o show do cantor. Elas chegaram no local 47 dias antes do show, que aconteceria no dia 2 de novembro. “Eu ficava mais no fim de semana, por causa do colégio”, conta Fernanda. “Eu saía da escola e ficava até à noite [durante a semana] e ia para casa. No fim de semana, eu dormia lá”.
A estudante, que era menor de idade na época, afirmou que, mesmo com sua mãe presente, enfrentou complicações com a prefeitura de São Paulo enquanto acampava. “Foi legal e sofrido ao mesmo tempo. A prefeitura recolheu as barracas de todos, mas a gente continuou lá, mesmo sem elas. O conselho tutelar também anotou os nossos nomes, porque éramos todos menores de idade. Ligaram para a minha escola para ver se eu continuava indo às aulas”, lembra.
A prefeitura não foi a única que implicou com o acampamento na frente da arena. A estudante conta que os caminhões que passavam jogavam água e até xingavam quem estava na fila. Mas, assim como Felipe, ela diz que não se arrepende e que, se tivesse tempo, faria novamente. “Eu acho que valeu a pena sim, por eu ter conseguido ver meu ídolo de pertinho e ter conhecido pessoas super legais”, ressalta.