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Um olhar sobre a arte em tempos multimídia
Luiza Muller
<a href=”http://jornalismosp.espm.br/wp-content/uploads/2020/02/Xaviera-Lopez.jpg”><img class=”size-medium wp-image-31835″ src=”http://jornalismosp.espm.br/wp-content/uploads/2020/02/Xaviera-Lopez-300×300.jpg” alt=”” width=”300″ height=”300″ /></a> Ilustração de Xaviera Lopez Foto: Divulgação
A arte é mutável. O que antes era visto como ausente de classe e beleza tornou-se padrão vigente. Atualmente, em um mundo cada vez mais transformado por invenções tecnológicas, a arte sofre uma permanente metamorfose marcada pelo advento de diversos novos meios de produzir e entender os processos artísticos. A criação das redes sociais remodelou o conceito de espaço e visibilidade; agora artistas dos mais diversos países podem nutrir sua própria galeria de artes digital e visitar outras galerias. Produzir arte para as redes sociais concebeu um novo modelo de colaboração e divulgação artística. Tudo mudou, exceto a impossibilidade de definir o que é, de fato, arte.
O Instagram possui um verdadeiro exército digital de 1 bilhão de usuários ativos. Entre os perfis criados, encontramos a galeria individual da gaúcha Isadora Brandelli, que nutre o perfil artístico Isadora Não Entende Nada. O Facebook homônimo, que a artista alimenta desde 2012 com desenhos autorais, nasceu após Isadora abrir um livro do escritor uruguaio Eduardo Galeano em uma página aleatória. “Quando abri o livro, caiu num conto chamado Isadora, sobre a dançarina americana Isadora Duncan, o que eu achei supermístico e engraçado. A primeira coisa que eu li foi ‘Isadora não entende nada…’, e pensei: taí!”.
Com forte influência da natureza e do feminino em seus desenhos, Isadora transpõe seu mundo privado em forma de aquarela e poesia. “Eu não sou psicóloga, terapeuta, psiquiatra. Só sou uma pessoa escrevendo pelo que sente e pensando muito nisso. Eu não tenho respostas, eu tenho reflexões, e é isso que eu gostaria que as pessoas fizessem, refletissem. Sobre quem elas são, sobre o que elas sentem”.
Também conectada intrinsecamente ao tema feminino, Carolina Alves se apega à arte como forma de expressão emocional. Por meio do perfil x230894x, Carolina canalizou seu autoconhecimento em um formato conhecido como “blind contour”. O processo artístico constitui em desenhar “às cegas”, imaginando as formas que a imagem deve tomar. “Eu queria muito ter meus desenhos aceitos, saber pelo menos desenhar um rosto, mas eu sempre me sentia triste no fim de tudo porque ficava feio. Então eu baixei um livro chamado Desenhando com o lado direito do cérebro, da Betty Edwards. Lá tinham vários exercícios e um deles era o blind contour”. Incomodada com a normatividade dos padrões de arte aceitos, Carolina foi a primeira artista a aderir a técnica como o corpo de seu trabalho no Brasil.
A quilômetros de distância em solo e pensamento, o artista colombiano Santiago Oliveros cultiva um Instagram pautado nos embates particulares do ser humano. Seu perfil no Instagram leva o nome de “SakoAsko”, inspirado pelos dois pólos opostos individuais de Santiago. “Comecei a assinar meus desenhos como Sako, quando ainda tinha 13 anos. Mais tarde, aos 16 anos, comecei a assinar como Asko, que era como uma força oposta a Sako. Nos últimos anos, comecei a assinar como SakoAsko, que é uma integração dessas duas polaridades”.
Em meio ao boom das redes sociais, em 2013, o artista deu início ao seu perfil no Instagram. Proveniente de um cenário formal de educação artística, Santiago integrou a arte erudita aos novos meios de criar. “Foi interessante criar digitalmente, porque comecei a estudar as técnicas analogamente. Eu estudei em uma academia de artes muito inspirada por mídias tradicionais, então foi interessante integrar essa linguagem à linguagem digital”.
Adepta da arte como modo de descoberta pessoal, a artista chilena Xaviera López produz ilustrações e pequenos vídeos em loop que exploram o universo ao seu redor. Por meio da união de suas “emoções, epifanias, pensamentos e associações” com as artes, natureza e ciências humanas, Xaviera torna seu mundo tangível pelo intermédio das imagens.
Seu corpo de trabalho teve início na rede social Vine, que, em 2013, chegou a atingir mais de 40 milhões de usuários. A plataforma, agora extinta, não permitia a pré-produção de vídeos. Com esse impedimento, os produtores exercitavam a criatividade e planejamento para filmar um conteúdo interessante de apenas seis segundos, o máximo permitido pelo aplicativo.
Para Xaviera, o início de sua criação artística nas redes sociais veio acompanhado de uma nova visão sobre esse meio. “Falando como criadora, acho ótimo que meu trabalho alcance aqueles que estão diretamente interessados. Isso modifica necessariamente a experiência do espectador, pois, ao invés de ir a um espaço físico para ver o meu trabalho, ele pode vê-lo no telefone ou no iPad, sem que sua rotina seja alterada”.
Como conselho aos jovens ilustradores, a artista insiste que o trabalho em si é o que realmente trará felicidade. “O fato de poder criar todos os dias é, em si, a melhor coisa que pode acontecer com você”. Xaviera também frisa a importância da disciplina no processo artístico e a constante curiosidade em aprender. No mais, a artista acalma os que ainda não encontraram sua voz e estilo artísticos, afirmando que tais características aparecerão organicamente conforme a produção se expandir.
Já Samuel de Gois, ilustrador e dono do perfil “samueldegois”, iniciou seu percurso no Instagram após notar um declínio nas visualizações de sua página no Facebook. A mudança causou estranhamento, mas Samuel assume que, atualmente, o Instagram é a rede social mais agradável para a publicação de seu material. “Ainda publico paralelamente no Facebook e Twitter, mas estão bem distantes do Instagram em seguidores, curtidas e compartilhamentos”.
Samuel publica suas ilustrações por meio de séries temáticas. A mais famosa, batizada de “Fibrilação”, contém o modelo de um coração que é alterado para os mais diversos cenários. Muitas vezes acompanhados de texto, os desenhos jogam luz sobre situações humanas, contraditórias ou sentimentais. Brasileiro, Samuel também encontra determinação por conta de seu local de nascença. “Sou nordestino da Paraíba e é muito difícil entrar no cenário nacional não estando nas grandes capitais. Quero provar que é possível chegar em algum lugar nesse cenário artístico nacional sem precisar parar de olhar o mar toda manhã, perto de onde moro”.
<strong>O algoritmo</strong>
Tendo como propósito divulgar anúncios para o maior número de pessoas, o Instagram moldou seu algoritmo para prender seus usuários na rede. Pautado no modelo comercial, os anunciantes do aplicativo geram mais receita para o Instagram quando seus produtos são amplamente visualizados.
Personalizado para o usuário, o feed se estrutura a partir dos hábitos pessoais de navegação de cada pessoa. Caso você interaja mais com determinado assunto ou perfil, o Instagram priorizará a exibição de tais conteúdos na sua página. Desse modo, em vez de você conferir rapidamente o aplicativo e possivelmente se desinteressar depois de alguns minutos, o algoritmo prende sua atenção por mais tempo.
Negativo para muitos produtores de conteúdo, o algoritmo sentencia uma rotina de postagem e ampla interação, para que, só então, seu post tenha chance de ser visualizado em meio ao dilúvio informacional que o aplicativo oferece. Isadora Brandelli acredita que um dos pontos negativos do Instagram é precisamente “a cobrança para ser sempre produtiva e, assim, não deixar a rede boicotar você”.
Igualmente a Isadora, Samuel de Gois acredita que essa parte nebulosa do Instagram atrapalha muitos artistas. “Estou sempre sentindo falta de ver atualização de amigos artistas. Preciso ir efetivamente no perfil deles para ver as novidades. Senti quando o Instagram mudou as regras. Minha página ainda está crescendo, mas não sei se seria mais rápido em outras condições. Acho que as redes sociais deveriam dar alguma atenção para os criadores de conteúdo”.
<strong>De volta à natureza</strong>
Os óculos ovais enquadravam o rosto. Na camiseta preta, um desenho herdado de suas obras. Jaime Prades sentou-se e com ar solene e discorreu sobre sua paixão. Membro do grupo TUPINÃODÁ, que desenvolveu o grafite nos anos 1980, Jaime nasceu na Espanha, porém se mudou para São Paulo em 1975. O enredo que utiliza para tecer o pano de fundo de seu projeto mais celebrado, “Natureza Humana”, esbarra em noções ecológicas, espirituais e sociológicas.
Artista em todo senso de carinho e altivez, Prades caracterizou suas três obras expostas no Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba: o Protótipo 1, a Árvore Cortada e, a última citada e mais elaborada, Tronco. As produções realizadas para o projeto refletem sobre a sociedade moderna e o consumo desenfreado das massas. “O projeto natureza humana lida com algumas energias, forças, muito presentes em nossa sociedade. A partir da minha observação do ambiente humano com as sobras, principalmente da natureza, das árvores, comecei a fazer trabalhos de captação em caçambas e ruas, em becos, lugares onde pessoas despejam madeiras”.
A 13.241 km de Jaime, Michael Moerkerk desenvolveu seu projeto em metal, na cidade de Horsham, na Austrália. Dono da loja Moerkey, hospedada no site de marketplace online, Etsy, Michael descobriu sua verdadeira paixão quando trabalhava com canos de cobre. Ao tentar montar uma bola feita do material, o artista descobriu que não tinha mais excedentes do elemento, o que o levou por um caminho inusitado.
Freado por conta da escassez, o australiano procurou chaves antigas para dar continuidade ao projeto. Após algumas tentativas e erros, Michael aprendeu a trabalhar não só com chaves, mas também com moedas de cobre. “Eu normalmente olho para materiais do dia a dia e considero montá-los com o uso de chaves, assim, me preparo e formulo o processo”. Proveniente da arte em madeira, o artesão leva em média 50 horas para realizar suas obras mais completas.