Equipe de alunos se desafia a entender melhor as manifestações de afeto da atualidade
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Uly Campos
»»» Mais difícil do que entender a questão de afeto na atualidade é escrever sobre ele. A Plural deste semestre buscou entender os mais diversos tipos de relações de afeto entre as pessoas. Diferentemente do ocorrido em outras edições, coube aos alunos da disciplina Grande Reportagem, do quarto semestre do curso de Jornalismo da ESPM-SP, propor e executar as pautas.
Como a equipe aumentou – nesta edição são 39 alunos colaboradores –, a diversidade de assuntos cobertos também cresceu. Com as pautas definidas, cada grupo iniciou sua apuração. As matérias possuem uma proposta interpretativa, ou seja, que não se limita a informar um acontecimento, mas que ambiciona analisá-lo com a ajuda de todas as fontes possíveis.
Thomas Aoki, um dos alunos que escreveu a matéria sobre o relacionamento de pais heterossexuais com filhos homossexuais, conta que muitas vezes teve de tomar cuidado, pois seu tema é delicado. Sua intenção ao escrever a matéria era de quebrar preconceitos. Em vários casos os pais não puderam ou quiseram dar entrevista.
As dificuldades variam conforme a pauta. Para a entrevista principal da edição (veja à página 42), por exemplo, foi difícil conseguir conciliar a agenda das fontes em potencial com o prazo de fechamento da revista. Contatamos a psicóloga Rosely Sayão para falar sobre afeto nas famílias brasileiras e também a antropóloga Mirian Goldenberg, que daria um panorama sobre relacionamentos românticos na contemporaneidade. Sayão recusou o convite, mas conseguimos falar com Goldenberg.
Antes da entrevista, a preparação. Lemos diversos artigos da antropóloga para desenvolver melhor o tema e tecer uma linha de raciocínio coerente.
Quase todas as matérias enfrentaram dificuldades, algo corriqueiro para qualquer jornalista. Falta de fontes, de fotos, de informação aprofundada, de tempo, de espaço para escrever. Quando abordamos temas delicados, nos quais as pessoas não se sentem confortáveis para falar, os problemas se multiplicam.
“A parte mais complicada de escrever sobre o afeto entre deficientes físicos foi não ser preconceituoso e acabar reforçando, sem querer, estereótipos. Ao conversar com especialistas fomos descobrindo termos que não devem ser usados ou que devem ser evitados. Eu senti que as pessoas com que conversamos foram muito receptivas, pois sentem vontade de compartilhar experiências, opiniões e pontos de vista. Uma dificuldade foi tentar não ser invasivo durante a entrevista e, ao mesmo tempo, conseguir as respostas”, conta Fernando Turri, um dos alunos-repórteres.
Mesmo reportagens com viés mais leve, como a sobre humanização de cachorros, têm desafios. “Para mim foi gostoso fazer a matéria porque, como eu tenho um cachorro, e o humanizo, queria ver como era a relação dos outros com seus companheiros, principalmente nesses extremos: uma mulher rica e um morador de rua”, conta Otavio Cintra, que entrevistou a arquiteta Brunete Fraccaroli e um morador de rua dos Jardins, Paulo. Ambos igualmente apaixonados por cachorros.
Com as matérias prontas coube aos alunos fazer diagramação, escolha das fotos e fechamento da revista, contando com o apoio do editor, o professor Renato Essenfelder, em todas as etapas. O resultado é um panorama rico e diversificado de algumas das várias formas de afeto que encontramos hoje.