Documentário de Jorge Furtado critica a indústria jornalística
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“O Mercado de Notícias” é um documentário dirigido por Jorge Furtado que aborda, de forma inusitada, os principais e mais polêmicos temas do universo jornalístico. Além das entrevistas com treze jornalistas brasileiros, dentre eles Fernando Rodrigues e Jânio de Freitas, o filme faz uma análise paralela sobre o surgimento da profissão por meio da peça “The Staple of News” (O Mercado de Notícias), do dramaturgo inglês Ben Jonhson.
A peça conta os primórdios da imprensa inglesa durante o século XVII. As duas ferramentas do documentário, entrevista e teatro, se intersectam numa crítica que perpetua a história do jornalismo desde o seu início até hoje: a influência do poder nas mídias impressas (e hoje, também, nas “novas mídias”).
O jornalista Fernando Rodrigues comenta a respeito dos gastos bilionários em publicidade oficial do Governo Federal. Ele pontua a presença de propagandas governamentais em, aproximadamente, 5000 veículos, principalmente os regionais. Paralelamente, a peça demonstra o poder de influência do rei Pila Júnior sobre as matérias publicadas pelo jornal inglês, ainda no século XVII.
O jornalista e professor da ESPM-SP, Ênio Moraes Junior, expôs sua visão crítica da obra de Jorge Furtado. O professor comenta sobre a importância de discutir jornalismo, que, segundo ele, é o mesmo que discutir a sociedade na qual vivemos. Nas palavras de Ênio, a maior critica do documentário é a ideia da informação jornalística como mercadoria. Está na essência do nome do filme. A ideia que há sempre interesses empresariais e preocupação com o lucro por trás da produção da informação, e que isso não é recente” .
Renato Essenfelder, escritor, professor e supervisor da Agência de Jornalismo da ESPM-SP, comentou sobre alguns dos aspectos abordados pelo filme. Para ele, a principal crítica feita é em relação ao mau jornalismo, praticado de maneira irresponsável e , muitas vezes, antiética. Perguntado sobre a relação entre notícia e mercadoria, respondeu que “a notícia é uma mercado, um produto que de fato está amplamente circulando nos mercados da nossa sociedade”. “Não acho que seja ruim por si só, apenas quando esse produto, chamado notícia, é falho, antiético ou problemático sobre qualquer aspecto. O fato da notícia se tornar uma mercadoria é algo irreversível, instituído pela nossa sociedade”, diz. Renato comenta que o processo de mercantilização da notícia ganhou força com a Revolução Industrial, no século XIX: “inicialmente, o jornalismo era mais um panfleto ideológico, um instrumento para convencer as pessoas de alguma coisa, do que um instrumento de consumo”.
O documentário também coloca em discussão outras questões como a relação entre governo e imprensa, e a função e contemporaneidade da profissão, evidenciando a substituição do jornal impresso pelas novas mídias.
Segundo Essenfelder, é um filme imperdível para todo mundo que gosta de jornalismo: estudantes, professores, jornalistas e cidadãos que queiram refletir um pouco sobre as engrenagens da indústria jornalística, como nós erramos e porque erramos.
Programação:
Cine Livraria Cultura – Av. Paulista, 2073, São Paulo – SP – 18h00
Espaço Itaú de Cinema – Augusta – R. Augusta, 1475, São Paulo – SP- 22h00
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca – R. Frei Caneca, 569, São Paulo – SP – 16h00 20h00
Espaço Itaú de Cinema – Pompéia – R. Turiassu, 2100, São Paulo – SP – 16h00
Bianca Gomes (1 semestre)