Dia da Toalha reúne cosplayers e nerds
Cecília Lóssio – 1º semestre
A popularidade de universos fictícios entre as pessoas levou à formação de uma comunidade que admira e acompanha a cultura nerd. Todo ano, no dia 25 de maio, fãs ao redor do mundo se dedicam a este movimento, juntando-se e celebrando seu amor por jogos, filmes, séries e HQs. A data ficou conhecida como Dia da Toalha, e neste ano contou com uma celebração especial no Pavilhão da Bienal do parque Ibirapuera, em São Paulo, o Dia do Orgulho Nerd SP.
O evento ocorreu das 10h às 22h e foi promovido pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado, com a intenção de celebrar a inclusão da data no calendário de São Paulo. Gratuito e aberto ao público, o evento reuniu mais de 5 mil pessoas, que se juntaram para demonstrar seu amor pelos seus universos fictícios favoritos.
Além de palestras e um concurso de cosplay para avaliar as performances, a programação do evento também contou com jogos e exibição de animes. Leon Martins, cosplayer e cosmaker há 20 anos, foi um dos jurados da competição e afirmou que eventos deste tipo são importantes para a cultura e para os fãs: “Tudo que envolve a prefeitura e o governo traz seriedade, então muda o olhar de preconceito das pessoas com cosplay e pessoas que se vestem”.
Marília Marton, secretária da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, anunciou durante o evento as linhas de editais destinados à cultura pop no Estado, contando com um investimento de R$9,5 milhões. “Nós vamos fazer uma cultura pop muito mais legal no Estado de São Paulo”, afirmou.
Cultura cosplay
Uma das formas mais comuns de tentar fazer parte destes universos é através do cosplay, que é o ato de se fantasiar e interpretar personagens populares entre os fãs. Essa prática é muito comum na cultura pop japonesa, com a popularização de animes e mangás, mas o cosplay também engloba a caracterização de personagens da cultura pop ocidental, como os heróis da Marvel e personagens de videogames.
Leon Martins comentou ao Portal sobre a capacidade dos cosplays de inserir as pessoas dentro das realidades fictícias e como isso agrega as feiras e eventos temáticos: “Para mim, hoje em dia a cultura pop não é mais a mesma. Não tem como ter um stand temático e não ter um personagem junto”.
Fazer cosplay vai além de se fantasiar, incluindo também o trabalho de montar as fantasias e as performances, o que pode durar meses e até anos. Camille Dantas é cosplayer desde os 15 anos e construiu sua primeira fantasia completa sozinha um ano depois. No Dia do Orgulho Nerd SP, ela se fantasiou Chun Li, da série de jogos Street Fighter, e afirmou precisar de aproximadamente cinco meses para suas fantasias ficarem prontas.
Com o crescimento e a divulgação dos trabalhos de cosplays, o mercado começou a mudar, facilitando a criação e liberando a criatividade dos fãs para irem além do esperado. Mais materiais passaram a ser fabricados e vendidos, além de se tornarem mais fáceis de serem encontrados. As lentes de contato e perucas que antes eram necessariamente importadas agora são vendidas em maior quantidade e em diferentes lugares, e a impressora 3D passou a facilitar a criação e montagem das fantasias.
Como motivação, Camille enxerga fazer cosplay como uma forma de colocar o seu amor por um personagem na vida real: “Eu gosto de me olhar no espelho e pensar ‘Eu sou igual ao que eu assisti, ao que eu amo e me identifico’, isso me faz muito feliz e faz tudo valer a pena”.
Leon afirmou que sua motivação é a comunidade e o calor do público que ama os mesmos personagens que ele. Essa sensação é compartilhada por muitos fãs e admiradores da cultura pop, que encontram nas convenções, eventos e nos cosplays uma forma de se conectar não só com seus personagens e sagas favoritas, mas também com outros fãs que partilham do mesmo sentimento.
Sobre a criação da data
Em 1979, o autor Douglas Adams publicou O Guia do Mochileiro das Galáxias, o primeiro livro da saga O Mochileiro das Galáxias, que se tornou um grande marco dentro da cultura nerd. Nele, Douglas destacou uma toalha como objeto indispensável para mochileiros que fazem viagens interestelares.
Quando o autor faleceu, em 11 de maio de 2001, os fãs dos livros resolveram homenageá-lo. O dia escolhido foi 25 de maio, duas semanas após sua morte, que ficou conhecido como o Dia da Toalha, sendo uma referência ao conteúdo de seu livro. A comemoração ganhou visibilidade aos poucos, e contava com fãs andando nas ruas segurando toalhas.
Além disso, também em 25 de maio ocorreu a estreia do primeiro filme de uma das sagas mais famosas no universo geek, Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, em 1977. Assim, as celebrações aumentaram ainda mais e o Dia da Toalha, além de também ficar conhecido como Dia do Orgulho Nerd ou Geek, trouxe uma maior sensação de pertencimento e admiração por essa cultura tão popular e amada por milhares de pessoas ao redor do mundo.
A importância desse dia para os fãs é imensa. Júlia Abal, jornalista e apresentadora de cultura pop, diz que a data é um grande incentivo e traz o poder e representatividade para os fãs: “É muito legal ter um dia para isso, já que muitas vezes as pessoas não entendem que a cultura geek faz parte do desenvolvimento de uma pessoa e de quem ela é”.
Rafaella Camargo, fã e cosplayer, comentou que, apesar da popularidade desta cultura, ainda existem pessoas que fazem piadas e acham estranho, e que datas, convenções e eventos podem mudar isto. “Mostrar que o mundo geek não é nada bizarro é muito legal e faz mais pessoas conhecerem”, afirmou.