Jornalistas relatam experiências de coberturas nacionais e internacionais
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Com Ana Carolina Cavallini
Humberto Trezzi, jornalista desde 1984, foi responsável pela cobertura do cessar-fogo da Guerra Civil em 2003, acompanhou operações antiguerrilha na Colômbia e em 2004 esteve com soldados brasileiros em uma missão de paz no Timor Leste.
Trezzi relata como iniciou a carreira como correspondente de guerra. “Adoro o assunto, mas nosso jornal é regional e não possui correspondentes de guerra fixos no exterior. O que ocorreu comigo é que fui enviado algumas vezes a países em guerra, para coberturas, que duram alguns dias ou semanas”, diz.
O jornalista afirma que o jornal optou por ele por saber que gostava muito de assuntos internacionais e também porque eu cobria, há mais de 30 anos, o Hard News, especialmente na área criminal. “Vi muita gente morta ao longo da vida, fiz bastante denúncia também. Com isso, acharam que eu tinha credenciais para ir a zonas de conflito”, diz Trezzi.
Segundo o jornalista, suas ansiedades e medos não estão diretamente ligados aos riscos aos quais é exposto, mas de não conseguir realizar o seu trabalho. “Os obstáculos são muitos: vistos que são difíceis de conseguir (principalmente para um trabalho jornalístico), vacinas, alfândega, barreiras policiais em lugares onde o governo desapareceu, o fato dos guerrilheiros ou grupos rebeldes terem atitudes dúbias em relação aos jornalistas”, explica. Ele também ressalta que a falta de internet é um problema para a transmissão do material. “Tudo isso atrapalha tanto ou mais que a questão dos riscos à vida”, explica.
Apesar de sua paixão por adrenalina, Trezzi relata que uma de suas experiências mais amedrontadoras e difíceis aconteceram na Líbia, onde acompanhou guerrilheiros na tentativa de tomarem refinaria. Eles foram bombardeados e perderam a batalha. “Eu estava com eles, as bombas não paravam de cair, uma acertou um veículo perto do meu carro e o carro bateu nesse veículo. Fiquei ferido no olho esquerdo, tive de fugir em meio ao bombardeio, pegar carona num jipe, depois numa ambulância. Aí a ambulância foi alvo de um avião, mas escapei”, conta.
Entretanto, essa não foi a pior das suas experiências. O jornalista relata que ficou refém de traficantes no Rio de Janeiro por meia hora, “que valeu por uma vida”, enfatiza. Os meliantes decidiam se o executariam ou libertariam. Contudo, apesar de presenciar perigosas experiências, Trezzi diz que ver sua matéria completa e publicada lhe traz um sentimento de triunfo e de missão cumprida.
Repórter Policial
Jerry Adriano Mesquita, 23 anos, é repórter policial há dois anos, trabalha com o sargento da PM Alison Maia no site Plantão Policial e escreve matérias para a página do portal no Facebook , com mais de um milhão de curtidas. Além de noticiar e manter informada a população da cidade de Caldas Novas (165 km de Goiânia, onde mora atualmente) com perfis locais em nome do sargento Alison Maia.
O repórter diz que os desafios presentes em cada notícia o atrai, pois há sempre algo inédito a ser analisado. ‘‘Nosso dia a dia é turbulento já que a notícia não tem hora e a todo o momento está acontecendo’’.
Ele também explica que para manter a credibilidade do jornal, só estando no local das ocorrências para obter todos os detalhes possíveis. “Quando não conseguimos chegar até a notícia, fazemos com que ela chegue até nós e para isso mantemos bons relacionamentos com correspondentes e outros veículos de comunicações’’, ressalta.
Por escrever matérias que envolvem famílias de tragédias e adolescentes infratores, Mesquita diz que foi coagido inúmeras vezes para que retirasse matérias do ar. ‘‘Chegaram a me ligar com advogados pedindo tal retirada’’, comenta.
Ele também fala como lidar com as situações de risco que acontecem com frequência na vida de um repórter policial. ‘‘Frente a uma situação de risco, o profissionalismo, respeito e competência devem ser aspectos essenciais para que não haja deslizes que comprometam tanto a segurança do repórter, quanto a de terceiros’’, diz Mesquita.
Correspondente Internacional
Pierre Moreal relata que, antes de ser realmente correspondente, morou na África do Sul em 2010, onde realizou este tipo de trabalho. Ele fez uma reportagem para o Profissão Repórter, sobre o drama dos refugiados. O jornalista diz que o cenário é muito dramático e ser isento de sentimentos é improvável. “Antes de sermos jornalistas, somos seres humanos”.
Contudo, apesar de ser um assunto delicado, Moreal diz que a imigração sempre foi algo que despertava sua curiosidade. “Já tinha feito uma matéria sobre refugiados e este é um assunto atual, assim como as eleições nos EUA”, explica. Por outro lado, apesar dos riscos, o jornalista diz que já presenciou e escreveu matérias sobre crianças soldados em países das regiões do Congo, por exemplo.