Conheça Landell de Moura: o verdadeiro pioneiro na transmissão de voz por ondas eletromagnéticas
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GIOVANNA MAZZEO
»»»Em setembro de 2012 o Brasil comemorou 90 anos de rádio e os brasileiros festejaram a invenção do padre e cientista brasileiro Roberto Landell de Moura. Mas demorou bastante para o reconhecimento de Landell, pois o mérito dessa invenção, por muitos anos, ficou para o físico italiano Guglielmo Marconi, presente em grande parte da bibliografia sobre o tema como inventor do rádio.
Landell foi pioneiro na transmissão à distância, sem fios, da voz humana por meio das ondas eletromagnéticas. “Ter feito a primeira transmissão de rádio no mundo fez com que ele fosse considerado patrono dos radioamadores do Brasil e o pai brasileiro do rádio”, declara o pesquisador Hamilton Almeida. Já Marconi conseguiu a transmissão de sinais telegráficos, sem fios, em código Morse, denominada radiotelegrafia.
Apesar de pouco conhecido, Landell construiu equipamentos de rádio que foram patenteados em 1901 no Brasil e em 1904 nos Estados Unidos. Esses aparelhos possibilitaram que ele transmitisse a voz humana por meio de ondas e suas experiências iniciaram entre 1892 e 1893 em Campinas e em São Paulo.
Bruxo
As autoridades brasileiras da época não reconheciam o trabalho de Landel. O jornal “La Voz de España”, que era editado em São Paulo, em 1900 publicou: “quantas e que amargas decepções experimentou padre Landell ao ver que o governo e a imprensa de seu país, em lugar de o alentarem com aplauso, incentivando-o a prosseguir na carreira triunfal, fez pouco ou nenhum caso de seus notáveis inventos”.
Quando morava em Campinas, Landell teve a porta de sua paróquia arrebentada e seus instrumentos e laboratório destruídos. A população da época o acusava de “herege”, “impostor”, “bruxo”, “louco” e “feiticeiro perigoso” por causa de seus experimentos, principalmente a transmissão de voz que aconteceu em São Paulo.
Frustrado, foi morar por três anos nos Estados Unidos e, ao voltar para o Brasil, em 1905, enviou uma carta para o então presidente Rodrigues Alves. Na carta, solicitava dois navios da esquadra de guerra para demonstrar os seus inventos que revolucionariam a comunicação. O assistente do presidente, assim como muitos, preferiu interpretá-lo como louco e negou os pedidos.
Landell não conseguiu nenhum tipo de financiamento para continuar as suas pesquisas nem para construir equipamentos de rádio em escala industrial Problemas com a Igreja que fizeram com que ele fosse transferido para lugares sem energia elétrica, dificultando suas pesquisas.
Landell de Moura nasceu no dia 21 de janeiro de 1861 em Porto Alegre. Seus pais, Inácio José Ferreira de Moura e Sara Mariana Landell de Moura, eram descendentes de tradicionais famílias do Rio Grande do Sul. Estudou em sua cidade natal e no Colégio dos Jesuítas, em São Leopoldo.
Aos 18 anos, em 1879, foi para o Rio de Janeiro e cursou a Escola Politécnica. Poucos anos depois se mudou para Roma com seu irmão, que o convenceu a seguir a carreira sacerdotal. Lá, frequentou o Colégio Pio Americano e, logo depois, na Universidade Gregoriana, estudou física, eletricidade e química.
Em 1886, formou-se em teologia e foi ordenado sacerdote. Ao voltar para o Brasil, instalou-se no Rio de Janeiro, onde celebrou sua primeira missa na Igreja do Outeiro da Glória. O imperador Dom Pedro II e sua corte estavam presentes. Nos anos seguintes, atuou em paróquias no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Como autodidata, chegou a realizar experiências públicas na cidade de São Paulo, no fim do século XIX. Viveu modestamente em Porto Alegre até morrer em 30 de junho de 1928. Faleceu de tuberculose aos 67 anos no hospital Beneficência Portuguesa.
Herói
No dia 21 de janeiro de 2011 foram comemorados os 150 anos do nascimento de Landell. A ocasião, que relembrou a importância do cientista, possibilitou que o nome dele entrasse para o livro dos Heróis da Pátria. A Lei foi sancionada em 27 de abril de 2012 pela Presidência da República. O livro destina-se ao registro perpétuo de nomes de brasileiros ou de grupos de brasileiros que tenham oferecido a vida à pátria, para sua defesa e construção, com dedicação e heroísmo. A distinção só pode ser concedida no mínimo 50 anos depois da morte do homenageado.