Com a chegada da Copa, brasileiros ganham dinheiro alugando a própria casa

O Brasil é palco durante as próximas semanas do maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo. Com isso, vai receber turistas do mundo inteiro. A procura por hospedagem fica concorrida e cara. O hotel Adrenalina, por exemplo, situado na região da Itaquera (zona leste de São Paulo), onde fica o estádio que vai sediar os jogos em São Paulo, cobra R$ 5.070 por hospedagem de uma semana. Com a falta de vagas e o preço alto, muitos brasileiros unem a oportunidade de receber turistas com a possibilidade de aumentar a renda da casa e da família, por meio de uma prática que é muito comum no exterior e pouco conhecida no nosso país, o homestay.

Site Alugue Seu Imóvel Para Copa é um dos disponíveis para locação de casas e apartamentos durante o Mundial | Foto: Reprodução

O processo de homestay é mais fácil do que parece: oferecer acomodações em casas particulares, administradas como um pequeno negócio. A diferença, entre a hospedagem desse sistema e a de um hotel é a chance para o hóspede de vivenciar de forma diferente e mais intensa a cultura do local que está visitando, conhecendo histórias, hábitos, a vida cotidiana de uma família, e até fazendo grandes amigos. Em contrapartida, os anfitriões também ganham muito em cultura e conhecimento, afinal a convivência será mútua.
Segundo o Ministério do Turismo, a expectativa é que circulem pelas cidades onde acontecerão os jogos da Copa cerca de 500 mil turistas – 10% do total de que o Brasil recebe em um ano -, sem contar os turistas do Brasil que viajarão para outros Estados para as partidas do Mundial.
A corretora de imóveis Verônica Nascimento, de 54 anos, conta que sua cunhada colocou a casa para alugar. O imóvel, que fica na Rua das Boas Noites, a 3,4 km ou 40 minutos a pé do Itaquerão, tem quatro quartos e vai custar R$ 100 mil por 40 dias.
Se não fosse temporada de Copa, ela alugaria o imóvel por no máximo R$ 3,5 mil, diz. “Fui eu que dei a ideia a ela. Muitos clientes meus estão optando por fazer isso. É uma ótima forma de ganhar uma graninha a mais. Recebemos telefonemas de gente interessada nesse aluguel para a Copa, até mesmo dos Estados Unidos”, afirma. “A casa é grande e comporta de 15 a 16 pessoas, por isso esse valor.”
Segundo a corretora, é alta a procura de moradores na região que pretendem alugar as próprias casas. “Eu estou pegando vários imóveis na imobiliária que o pessoal está querendo pôr para alugar na Copa, com valores de R$ 20 mil a R$ 60 mil. Tem gente que desistiu de fazer o aluguel anual para esperar a Copa e muitos estão mudando da casa da família por um mês”, afirma Verônica. Segundo ela, na região, uma casa pequena, de quatro cômodos e que normalmente teria um aluguel de R$ 600 a R$ 1 mil, durante a Copa vai custar, no mínimo, R$ 2 mil. “Aumentaram demais os valores aqui.”
Com o alto custo dos aluguéis na região de Itaquera, por ser próxima do estádio, muitas pessoas estão optando por alugar casas e apartamentos em bairros mais distantes, porém mais baratos. Em um site de anúncios de aluguéis, é possível encontrar casas próximas ao estádio Itaquerão, de poucos cômodos, com seus moradores cobrando até R$ 250 mil. Existem sites específicos para isso, como por exemplo, o Alugue Seu Imóvel Para Copa: www.alugueseuimovelparacopa.com.br. Você faz o cadastro no site, coloca fotos do imóvel, define valor e período do aluguel. Depois, é só esperar os interessados entrarem em contato.
Uma reportagem no portal G1 indica que turistas estão dispostos a pagar até R$ 15 mil em uma diária em uma cobertura de frente para o mar. Um mês de aluguel em imóvel com vista para o Maracanã pode custar R$ 90 mil. Segundo a mesma reportagem, um levantamento sobre hospedagem alternativa divulgado no dia 16 de janeiro pelo Ministério do Turismo mostra que, das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, o Rio é a que tem a maior oferta de imóveis para aluguel. São 2,7 mil unidades, com capacidade para atender 15 mil pessoas.
Em um site especializado para aluguéis de imóveis no Estado do Rio, um apartamento de dois quartos em Copacabana, na zona sul do Rio, tem diária de R$ 350 até 31 de maio. A partir de 1° de junho, o valor passa para R$ 1,4 mil, quatro vezes o valor anterior. Em Ipanema, um flat em uma rua interna do bairro tem diária de R$ 834 até 31 de maio. No dia seguinte, o preço triplica e vai para R$ 2.582.
A estudante Tais Moreira, 19 anos, decidiu alugar durante a Copa seu apartamento de três quartos na Vila Mariana, São Paulo, onde vive com uma amiga e voltar para a sua cidade no interior do Estado na época dos jogos. “Não sou de São Paulo, moro aqui para estudar. Como vou estar em época de férias, optei por alugar o apartamento e ganhar um dinheirinho, já que ele iria ficar vazio”, diz a estudante de publicidade.

Edifício com imóvel disponível para locação na Copa na rua Rio Grande, onde mora a estudante Tais Moreira | Foto: Juliana Perez

José Vasco Mello, 48 anos, trabalha em uma empresa de seguros e diz que seu apartamento em Boa Viagem, Recife, já está alugado para um casal de brasileiros que mora na Alemanha há 12 anos. “O casal é amigo de um colega de trabalho, assim me sinto mais confortável em deixar meu apartamento para dois desconhecidos.”, diz Mello. “Eles vão pegar o apartamento no dia 10 de junho e ficar até o dia 29, quando é o último jogo em Recife.” O assistente de seguros conta que vai cobrar R$ 22 mil para os 19 dias de hospedagem em seu apartamento.
Não há como negar que o aluguel de quartos, casas e apartamentos é um bom investimento, tanto para o inquilino, como para o dono do imóvel. Por esse motivo, a procura por quartos de hotéis tem caindo e muito. Segundo uma reportagem do Jornal Nacional, no último dia 20 de maio, o fórum que reúne as maiores redes hoteleiras no Brasil divulgou um estudo mostrando que 300 mil diárias tinham sido vendidas para a Copa, mas 45% dos quartos de hotel ainda não haviam sido reservados.
O Rio de Janeiro lidera o ranking com 88% das vagas em hotéis ocupadas. Em seguida, vêm Recife e Natal. Por causa da grande oferta de hotéis, São Paulo aparece em último: apenas 31% dos quartos foram vendidos. O estudo mostra que, apesar de ter a maior taxa de ocupação entre as 12 cidades-sede, o Rio de Janeiro ainda tem quartos de hotel disponíveis para todos os dias de jogos no Maracanã. Até mesmo para a final. E, se o torcedor pesquisar, ainda pode encontrar descontos de mais de 20%.

Valores mínimos e máximos, em reais | Fonte: sites de hotéis e de aluguel de imóveis

Os hotéis estão caindo na real e abaixando seus preços. O problema da grande oferta e pouca demanda de hospedagem não ocorre apenas por causa dos altos preços dos hotéis, mas também porque a maioria do público que comparecerá às partidas é formada por brasileiros, o que diminui a necessidade de hospedagem, uma vez que viagens ida e volta podem ser realizadas no mesmo dia.
Edgar Ueno, 32 anos, trabalha como engenheiro de software na IBM e coloca a culpa do “fracasso hoteleiro” inteiramente nos hotéis. “Estão loucos achando que vou pagar R$ 500 em uma noite de hotel. Para mim hotel foi feito para dormir, já que como turista, quero aproveitar a cidade e não um quarto de hotel. Se a intenção da Copa era alavancar um crescimento econômico estrondoso, acho que isso não vai acontecer. Vamos ver se aprendemos para 2016, na Olimpíada”, diz o engenheiro.
“Eles empurram preços absurdos e irreais para os consumidores brasileiros e acreditam que os estrangeiros, acostumados com uma concorrência mais leal e menos injusta, iriam cair”, diz a estudante de direito Débora Moreira, que tentou alugar um quarto de hotel próximo ao Maracanã para assistir ao jogo da Espanha contra o Chile, mas desistiu após ver o preço das diárias.
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo discorda dessa avaliação. Bruno Omori, presidente da entidade, afirma que alguns hotéis estão cobrando diárias abaixo do normal. Ele destaca a segurança proporcionada pela rede hoteleira. “É uma grande armadilha a pessoa alugar uma casa sem saber onde ela vai chegar, onde não recolhem impostos, onde não tem seguro, onde não tem um AVCB de bombeiro (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), pois se ela tiver algum problema para quem ela vai se reportar? Nós temos uma oferta oficial, capacitada, com contrato assinado com a FIFA, que pode atender com muita qualidade e preço acessível os turistas”, afirma. O presidente da Associação ainda completa dizendo que jamais apoiaria tais práticas.” Uma associação que representa o mercado hoteleiro desde 1936 jamais poderia assumir ou mesmo achar positivo fazer qualquer prática do tipo ilegal. Tanto é que se algum meio de hospedagem comete alguma parte ilícita nós ficamos totalmente contra isso”, finaliza.

Por Juliana Perez e Mariana Marcondes (3º semestre)