Casais contam estratégias para manter namoro à distância
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Antonia Cavalheiro
Camila Câmara
Luiza Lourenço
»»»Às 17h30, ela chegou em sua casa após mais um dia de cursinho. Estava atrasada como sempre. Correu para o seu quarto e foi direto ao banheiro se arrumar. Só tinha mais uma hora: a pressa tomava conta dela. Deu uns toques finais e enfim conseguiu sentar em sua escrivaninha. Ligou o Skype e telefonou para o namorado.
O namoro à distância não é um fenômeno restrito ao século XXI. No entanto, com o desenvolvimento da internet, as possibilidades, e facilidades, aumentam exponencialmente para o casal.
“As pessoas estão mais dispostas a vencerem a distância porque ela já não é mais a mesma. Na década de 1960, por exemplo, as ligações internacionais eram feitas através de um telefonista. Hoje você consegue conversar e ver a pessoa simultaneamente através de aplicativos. A facilidade ajuda”, explica o sociólogo Marcelo Ribeiro.
Mais que isso, as pessoas buscam um relacionamento mais simples, que não demanda muito tempo nem muito espaço para acontecer. Assim, não abrem mão de sua vida profissional, hobbies e outros compromissos.
Na sociedade moderna, o individualismo ganha força e cresce a busca pelo prazer pessoal e pela liberdade. “Com o namoro à distância comecei a ter mais tempo para mim, meus estudos, minha família e amigos e eu adoro isso. Antes eu deixava de fazer muitas coisas por causa dele, agora, como ele mudou, vi que não podia deixar de fazer minhas coisas”, conta Giulia Costa, 19, que namora há dois anos e meio com Pedro Alves, atualmente morando nos Estados Unidos.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama esses relacionamentos de “amores líquidos”: assim como o líquido não mantém a forma por muito tempo, e flui antes de se solidificar, as pessoas não sabem mais manter um relacionamento a longo prazo. A sociedade está mais consumista e imediatista. Tudo muda rapidamente e nada é feito para ser duradouro.
“Não se procura mais um relacionamento com data para o casamento. As pessoas estão mais livres, querem experimentar diferentes jeitos de amar”, explica a psicóloga Cláudia Barbosa.
A DISTÂNCIA
“Fechei os olhos com força quando o avião pousou. O que me angustiava era que eu estava voltando para casa sem ele e ainda não tínhamos outra data marcada para o encontro. O alívio era que eu poderia ouvir sua voz assim que ligasse o celular ou até vê-lo por Facetime”, lembra Giulia Costa.
Muitos casais se conhecem pela internet e começam um namoro à distância sem ter previsão para o encontro físico. “Nos conhecemos em um site de relacionamento, conversamos durante um ano pelo computador até que um dia resolvi viajar para Escócia para encontrá-lo. Foi maravilhoso, finalmente pude senti-lo ao meu lado, estávamos apaixonados e resolvemos que ficaríamos juntos mesmo com toda a distância”, lembra Fernanda Battaglia, 20, que namora o escocês Keiran Paterson há três anos.
O namoro à distância não é a primeira opção. A maioria dos casais nessa condição já namorava antes e então a distância surgiu. Junto com ela, o fuso horário e a desconfiança.
“Sempre que possível é bom matar a saudade. Até porque se não fizermos nada, começamos a brigar muito. Acho que ainda não sabemos lidar direito com a distância”, comenta Nicole Pacey, 19, que namora há 6 meses com Aleksander Hildebrand, que mora nos Estados Unidos.
Ao contrário dela, Giulia acredita que a distância fez com que ela e seu namorado tivessem mais paciência um com o outro. “Tivemos que nos adaptar e hoje tenho um namoro mais compreensivo, saudável e com menos ciúmes.”
Mas sempre chega o momento em que as conversas por telefone e as vídeoconferências não bastam e começa o planejamento das viagens. “A gente tenta viver nossa vida e não ficar focado apenas na contagem regressiva. Nos organizamos de seis em seis meses e no meio tempo vamos conversando pelo celular, mas não é sempre que conseguimos fazer Facetime”, conta Maria Paula Arantes, 20, que mora na Alemanha enquanto seu namorado, Renan Andrade, está no Brasil.
Para Maria Paula, o relacionamento funciona porque os dois conversam muito e compartilham tudo que ocorre na vida um do outro. “É uma forma de estarmos presentes um na vida do outro mesmo que haja quilômetros de distância.”