Para supervisora da Bienal, a arte deve promover encontro entre ‘públicos’ e obra

Carolina Melo acredita que a proximidade do público com as obras resulta em uma crescente procura pela arte. Foto: Arquivo pessoal / Sofia Colucci

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O fato de haver crianças relacionando-se com as obras ajuda na popularização do evento. Foto: Thayane Matos

A 31ª Bienal de Artes, no Parque Ibirapuera, vem trazendo um público maior do que a 30ª edição, como publicado no site oficial. Enquanto a exposição anterior teve 120 mil visitantes, a de 2014 tem o objetivo de atingir 1 milhão. Segundo o portal Visite São Paulo, em dois meses de evento, cerca de 540 mil visitantes compareceram.

A possibilidade de ter crianças se relacionando com as obras também ajuda na popularização da Bienal. Isso faz com que, como explica Carolina Melo, umas das quatro supervisoras gerais do Educativo da Fundação Bienal de São Paulo, a visita seja modelada de acordo com o público.

Entenda mais sobre a relação dos visitantes com a Bienal na entrevista a seguir.

Portal de Jornalismo – O que a Bienal propõe ao visitante?

Carolina Melo acredita que a proximidade do público com as obras resulta em uma crescente procura pela arte. Foto: Arquivo pessoal / Sofia Colucci

Carolina Melo – De modo geral, é sempre interessante pensar na ideia de ‘visitantes’, sempre no plural, essa ideia de ‘públicos’ também sempre no plural. Para um espaço desse tamanho, a gente considera que todo mundo que está dentro é público. Então, para começar, a gente sempre pensa nas equipes que estão trabalhando como público; nas pessoas que vêm visitar como público; inclusive artistas e todo mundo que passa por aqui. Para quem visita, eu acho que a Bienal procura oferecer, sobretudo, um lugar em que a pessoa possa, se ela quiser, ter um acompanhamento, por exemplo, de educadores, ou uma programação especifica. Também há a possibilidade de ela ter todas as informações de que precisa, querendo estar sozinha.

PJ – Como é a interação entre visitantes e obras?

CM – A Bienal tem mais de 60 anos e, ao longo dessa existência, ela já constituiu uma espécie de lugar onde as pessoas vêm um pouco predispostas a esse tipo de interação. A cada dois anos, ela se renova, a cada exposição, ela muda para outras obras, outros conceitos, outras propostas. E essa questão de sempre propor novos tipos de interação é uma coisa já um pouco dada. Desde 1950, as Bienais já causavam  certo impacto, em que os públicos tinham que se perceber diante das obras. Hoje, a cada Bienal que abre, existe um tempo de reconhecimento entre o que os públicos podem fazer em relação às obras. Mesmo para a gente que está dentro, muitas vezes a exposição abre e não sabemos exatamente o que vai acontecer entre os públicos e as obras. Há obras que podem ser ativadas pelos públicos, mas que, por algum motivo, não os cativam. Com isso, a gente precisa sinalizar se aquilo pode ser manipulado ou não. A Fundação Bienal trabalha muito para entender primeiro a exposição montada e o primeiro contato que o público tem, e, a partir disso, perceber como isso vai ser sinalizado.

PJ- Como entreter as crianças?

CM – Como a Fundação Bienal sempre trabalha sobre Arte Contemporânea, ela tem um papel muito importante na formação de educadores que atuam como orientadores em visitas na exposição. Esses educadores são desde estagiários de cursos de graduação de diversas áreas (plásticas, cênicas, história, geografia) a educadores já profissionais, que já atuaram em ONGs ou outras instituições. A formação desses educadores é que torna possível esse atendimento, essa grande quantidade de encontros com crianças, adolescentes e outros tipos de grupos com a exposição. O encontro da Arte Contemporânea, especificamente com crianças, acontece de forma muito mais fácil do que a gente pode imaginar porque as obras não estão falando de nada mais do que a própria vida contemporânea. Para quem tem a história da arte na cabeça, há certo distanciamento, mas para eles é igual ao que está na rua, na TV… Por isso, talvez a proximidade da criança com a Arte Contemporânea seja muito mais justa do que com o próprio educador com a criança.

PJ – Como são as visitas com o público infantil?

CM – A visita é muito singular porque ela conta exatamente com essa multiplicidade de quem está vendo. Não é exatamente só naquela pergunta “o que você está vendo aqui?”, mas realmente perceber o que essas obras podem disparar para um grupo de crianças.

PJ – Como fazê-las se interessar pelas obras?

CM – Com as crianças, todos os assuntos podem ser discutidos. A única questão é que temos apenas uma hora e meia pra estar com elas. Na medida do possível, a gente gosta de conversar sobre os assuntos que são possíveis de serem discutidos nessa uma hora e meia.

PJ – Você acha que a procura pela arte vem crescendo?

CM – Como a arte tem saído muito da disciplina “Arte”, tem ficado muito mais próxima da vida contemporânea. As pessoas que vão para o espaço da Bienal não necessariamente vão decididas a ver a arte. Elas vêm porque vai ter um sarau ou vai passar um filme… E isso acaba colocando tudo na mesma panela, e, aí sim, talvez haja um aumento de público. Mas eu acho que é porque não tem exatamente uma dissolução entre os públicos de Arte Contemporânea, de palestras, de estudos. Isso me deixa mais contente, porque é como se a arte estivesse mais próxima da vida, ela não tem muita distinção.

Thayane Matos (2° semestre)