Palavras para duas pessoas que são bem mais do que palavras podem expressar

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Momentos antes da primeira apresentação de ballet, sempre com suporte dos avós. Foto: arquivo pessoal.

Para crianças de qualquer idade, a casa dos avós sempre foi sinônimo de comidas gostosas, liberdade para aprontar e brincar das mais diversas brincadeiras. Astronauta, princesa, guerreiro, jogador de futebol, bailarina, advogada e tenista… Você podia ser o que quisesse quando estava lá.

Sobremesa antes do almoço, fritura durante a semana, beber suco em copo de vidro, entre outras coisas proibidas pelos pais, eram liberadas pelos avós. Frases como “meus avós são os melhores do mundo!”, “vamos brincar na casa dos meus avós?” e “a comida da minha avó é melhor do que a de qualquer pessoa” foram constantes durante minha infância, chegando até a entrar em brigas se os amigos discordassem, embora os atos mais violentos fossem puxões de cabelo e xingamentos.

Ir para casa dos meus avós, era buscar um refúgio onde o relógio parava e eu mergulhava em um mundo das fantasias de onde só saía quando ouvia a frase de que mais gostava: “crianças, o lanche está na mesa”. Quando chateada, não existia lugar melhor para me esconder do que o conforto do colo da avó.

Hoje em dia, me pergunto, qual é o limite de idade para deixar ser criança. Já estou velha demais para pedir colo para minha avó? Posso voltar para o meu mundo de fantasias e ser a princesa presa na torre?

É inevitável que todos tenham que crescer. Conforme eu cresci e abandonei a tão alegre infância, meus avós envelheceram. Minha incrível cozinheira, meu herói, minha contadora de histórias, meu piadista, minha artista, meu professor, minha massagista e meu jogador de cartas deixaram suas identidades secretas e retomaram aos seus papeis principais de avós e conselheiros.

Hoje em dia, percebo que chegou a fase de inverter os lugares. Agora é a hora de cuidar de quem um dia trocou minhas fraldas, de quem me ensinou a ler e escrever, de quem me ensinou a cozinhar (ou melhor, tentou, porque continuo sendo um incrível desastre culinário), de quem brincou por horas sem fim, de quem me ensinou a pintar e, acima de tudo, de quem me ajudou a criar e descobrir a pessoa que sou.

Cada dia é um dia de superação tentando lidar com a velhice, com o esquecimento, com o cansaço e com algumas doenças que se acumularam com o passar dos anos. Quem cuida entende a dificuldade de manter a calma, a paciência e a persistência.  A cada batida do relógio, não importa com que idade eu esteja, nunca estarei preparada para dizer adeus a duas pessoas que significam mais do que palavras podem expressar: Francisco e Nelly.

 

 

Beatriz Branco (5º semestre)