Aquela menina baixinha de vestido vermelho, laço no cabelo, questionadora e crítica comemorou em 17 de março seu 50º aniversário. Mafalda, personagem ícone do desenhista argentino Joaquín Salvador Lavado, mais conhecido como Quino, foi criada em 1964, inicialmente para uma campanha publicitária de eletrodomésticos que acabou não dando certo. Suas histórias, tanto do artista quanto da obra, se mesclam com um período delicado da Argentina: a Revolução.
Para Maria Aparecida Aquino, professora de História Contemporânea da USP e especialista no Regime Militar brasileiro, “quando você exerce a censura, você oprime a cultura. A censura só pode fazer mal”. A Revolução Argentina iniciou-se em 1966 após um golpe e, a partir então, três militares passaram pela presidência do país.
“Assim que me mudei de Mendoza para Buenos Aires me avisaram para não falar sobre a religião, os militares, o divórcio. Eu me censurei imediatamente”, disse Quino em entrevista ao Puerto Cultura, em 2012. O regime totalitário durou até 1973, deixando 13 mil mortos oficialmente, segundo Cristina Helena, professora de macroeconomia da ESPM, durante debate sobre os 50 anos da ditadura militar brasileira. “A ditadura é sempre negativa”, enfatizou Maria Aquino.
Mafalda é considerada pelo próprio Joaquín como “mais um desenho”. Comparando-se a um carpinteiro, ele define a personagem como “um móvel que fez sucesso”. “Mafalda é o personagem mais fabricado de todos“, disse Quino ao Estadão, fazendo referência ao motivo da sua criação.
A personagem irreverente foi deixada de lado em 1973, depois que o artista começou a se dedicar ao humor e à caricatura. Assim como Quino, atualmente com 82 anos e problemas na visão, a professora Maria Aquino ressaltou a importância das tirinhas e charges: “As tirinhas atingem setores mais populares. Quem não tem o hábito de ler. As tirinhas tem alto potencial crítico”.
Em 1994, uma série de 104 episódios chamada “Mafalda” foi criada. Ela trazia diversas ideias do Quino em forma de desenho animado.
Quino nasceu em 1932 na cidade de Mendoza, na Argentina. Ele estudou na Escola de Belas Artes de Mendoza e, depois de prestar o serviço militar obrigatório em 1953, se mudou para Buenos Aires. Conquistou sua primeira página de humor no “Esto Es”, enquanto desenhava para agências publicitárias. “[Quino] Ficou famoso por suas tirinhas de humor inteligente”, constata Hector Vera, argentino que mora no Brasil e lia as tirinhas pelo jornal.
Fernando Turri (1º semestre)