Os salários astronômicos pagos pela Arábia Saudita

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Apresentação de Neymar pela equipe do Al Hilal. Foto: divulgação

Raphael Maudonnet, 2º semestre

Nos últimos meses, a Arábia Saudita chamou a atenção do mundo pelos salários oferecidos a jogadores de futebol, muito acima da média paga por clubes ricos europeus. Enquanto carreiras tradicionais como advocacia atingem em média global os 116 mil dólares anuais, os valores gastos com salários de jogadores alcançam os 192 milhões.

O salário mais alto até agora é do português Cristiano Ronaldo: 216 milhões de dólares anuais, pagos pelo Al-Nassr. O valor é quase 1.200% superior que o rendimento anual de um CEO de empresa internacional, segundo a empresa Bureau of Labor Statistics (BLS).

Karim Benzema, o segundo mais bem pago da liga árabe, recebe 172 milhões de dólares por ano do Al-Ittihad, 1.494% a mais que um engenheiro petrolífero no mesmo período, 115 mil dólares. Já o brasileiro Neymar, terceiro na lista de mais bem pagos pelo país, tem um salário 173 milhões de dólares anuais, 856% mais alto que o de um cirurgião por ano, de 202 mil dólares ao ano.

Tem retorno?

Mauricio Maudonnet, economista, acredita que não há expectativa para retorno desse investimento, já que esses valores são muito mais altos do que o das receitas que irão vir. “Como esses jogadores atraem muitas marcas para os clubes e quando a liga saudita se consolidar daqui alguns anos, os salários podem ser ajustados para preços mais tradicionais”, esclarece.

Para Erich Betting, diretor da Máquina da Notícia, “o retorno sobre o investimento vem de uma mudança de percepção sobre o país. Um retorno muito maior de imagem do que financeiro”. Segundo o governo saudita, o objetivo é promover o país como sede da Copa do Mundo de 2030, evento cuja visibilidade traria muito turismo à região.

Mas para Betting, esses gastos têm o objetivo de limpar o nome de Mohammad bin Salman Al-Saud, príncipe herdeiro do país: “é uma grande estratégia de mudança de imagem no país, abalada desde 2018 com a morte do jornalista Jamal Kahshoggi”, esclarece. O profissional teria sido executado a mando de Salman em 2018, na sede da Embaixada da Arábia Saudita, em Istambul, Turquia.