O Teatro da USP (TUSP) foi palco para o lançamento do livro Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens, no último mês de agosto, que leva a uma reflexão sobre a vida na periferia. A obra é resultado da peça-show com o mesmo nome que revela a realidade do homem negro das regiões mais distantes do centro e se utiliza de trechos de musicas de artistas, como os Racionais MC’s, como forma narrativa.
O autor, Jé Oliveira, é um homem negro, ator, diretor, dramaturgo, cientista social em formação, que dedica sua vida à arte e, com o grupo de teatro Coletivo Negro, está há 10 anos organizando um teatro experimental, fazendo uma pesquisa cênica de subjetividades negras com 6 peças criadas, 2 livros publicados e 3 CDs. “Acho que todo esse esforço artístico é para diminuir um hiato histórico que tem sobre a criação de negros e negras, de um modo geral, sobretudo no teatro”, afirma Jé.
Jé fez ainda parte do grupo de teatro Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Durante o período que participou do grupo, deu início a um projeto na escola livre de teatro de Santo André sobre a invisibilidade social, com foco em artistas negros. Desse projeto surgiu o Coletivo Negro.
“Eu venho primeiro da cultura hip-hop”, afirma Jé, explicando que os surgimentos de suas raízes artísticas e políticas como ator e diretor se devem principalmente ao estilo musical rap.
“Quando Jé Oliveira decidiu falar sobre o homem negro periférico a partir de uma leitura dos Racionais MC’s, para mim fez todo o sentido”, diz Aysha Nascimento, atriz, dançarina e uma das fundadoras do Coletivo Negro, presente no evento de lançamento, sobre as inspirações para a peça.
“É uma obra que evidencia a existência da morte pelo estado dos homens negros, e é uma obra que não vai só evidenciar, mas vai denunciar esse estado”, afirma Aysha.
Durante a criação da peça que originou o livro foram entrevistados 12 homens que contaram suas experiências, dentre eles um integrante do Racionais MC’s, KL Jay.
Já o articulador cultural e compositor e blogueiro no blog “negrume”, Aloysio Letra, afirma que o “sucesso é a realização, e a população negra não tem, muitas vezes, a oportunidade de ter sucesso, de se suceder”, e enxerga o lançamento do livro como uma forma de se imortalizar a peça.