Estudante de jornalismo relata a experiência de um primeiro dia como mesário

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Gabriel Beting (2º semestre)

Primeira experiência como eleitor, primeira experiência como mesário, e o processo eleitoral se mostrava uma caixinha de surpresas. Eleitores de diferentes idades e perfis compareceram para exercer o seu direito democrático. Minha imaginação me levava longe, querendo apostar, mentalmente, em quem cada pessoa poderia estar votando naquele instante, mas a curiosidade acabou quando li a contagem dos votos da seção eleitoral, ao final do pleito. Confesso que imaginava um resultado mais equilibrado.

A diferença entre um eleitor preparado e convicto não era sempre nítida em relação a outro que apenas cumpria seu dever cívico, por obrigação. Alguns cumprimentavam todos os mesários, demonstrando empatia em relação às mais de 10 horas de trabalho. Respeitavam o distanciamento social, assinavam seus nomes com suas próprias canetas e, então, apertavam os botões da urna com confiança e a satisfação de ser parte do processo democrático.

Um dos primeiros a votar era idoso, e trouxe esperança para o resto da jornada. Chegou animado, mesmo sem a obrigação de votar, e contou a história por trás de seu nome, homenagem a um ex-primeiro-ministro da antiga União Soviética. Tratou os mesários como parte de sua família e parecia verdadeiramente interessado na eleição, apesar de pedir instruções sobre como utilizar a urna eletrônica.

Por outro lado, havia pessoas que apenas apresentavam seus documentos, pegavam canetas emprestadas e registravam nas urnas as suas escolhas, também possivelmente emprestadas de amigos e familiares. Todos os cidadãos possuem a mesma significância, mas não parecem inspirar a mesma confiança.

João, um estudante de 18 anos, também foi mesário pela primeira vez, e demonstrou seu descontentamento com parte dos eleitores: “Amigo (referindo-se a mim), é como se muitos aqui não soubessem identificar um ‘melhor candidato’ e entregassem seus votos a qualquer candidato que ouviram na rua”.

Enquanto esperava a sua vez, por exemplo, um homem deixou claro o seu desprezo pelos demais eleitores próximos. Falava alto ao celular e teve pressa para entregar seus documentos e assinar o comprovante. Acabou levando seu aparelho móvel para dentro da cabine, conversando com alguém (algo proibido), causando imenso desconforto aos mesários. Desconforto ainda maior quando, votando, o eleitor soltou um grito perguntando a todos qual era o número de determinado candidato. Silêncio entre os mesários. Um homem de camiseta vermelha, na fila, respondeu com um número diferente, arrancando risos.

Apenas na minha seção, atendemos mais de 300 eleitores. A partir das nuances entre os eleitores mais ou menos conscientes, pude sentir o gosto do processo eleitoral de São Paulo. Ao final da jornada, minha primeira vez como mesário foi satisfatória e tive o sentimento de dever cumprido.