Editor do Roda Viva abre primeiro dia da III Jornada de Jornalismo da ESPM-SP

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O jornalista e escritor, Tomás Chiaverini, na III Jornada de Jornalismo da ESPM-SP. Foto: Urssula Nobre.

 

Na terça-feira, 23, foi aberta a III Jornada de Jornalismo da ESPM-SP, que promoveu palestras sobre as diferentes vertentes jornalísticas. O palestrante convidado para comentar o tema Jornalistas Escritores foi Tomás Chiaverini, que tem três livros publicados e, atualmente, é editor-chefe do programa Roda Viva, da TV Cultura.

De seus livros, dois são livro-reportagens, Cama de Cimento e Festa Infinita, publicados respectivamente em 2007 e 2009. Durante a apresentação, o jornalista contou brevemente sua trajetória profissional, desde que se formou, em 2004, e viajou para a  Amazônia por conta própria, até chegar a uma dos maiores programas de entrevistas do país.

Assumidamente fora do usual. Assim podem ser definidos os métodos de apuração e o início de sua carreira. No período de 5 meses em que ficou na Amazônia, Chiaverini era um repórter independente, e contou sobre como conseguia algumas entrevistas. O palestrante também comentou sobre o processo de desenvolvimento e publicação de seus livros, paralelo às suas passagens por grandes veículos como a Folha de S. Paulo.

O segundo momento da palestra foi direcionado a perguntas dos alunos que, curiosos, quiseram saber mais sobre os livros e, principalmente, como foi a imersão do autor em suas obras, além dos momentos mais marcantes vivenciados por ele. “De certa forma você tem que manter uma distância ou você fica louco”, disse sobre o distanciamento necessário que usou para lidar com as duras histórias dos moradores de rua, enquanto escrevia o livro Cama de Cimento. Sobre essa obra, o autor contou sobre as diferentes abordagens que fez, primeiro, assumidamente como repórter junto com assistentes sociais, por uma noite inteira recolhendo moradores de rua, e a segunda, travestido de morador de rua e lidando de maneira mais íntima com essa realidade.

Ao ser questionado sobre a relação entre repórter participante da notícia e repórter observador, Chiaverini foi direto. “Acho que existe uma separação que não deveria existir”. Apesar de ter tomado ecstasy em uma rave, buscando entender o real sentido do fenômeno sobre o qual escreveu no livro Festa Infinita, o autor explica. “Em momento algum eu vou viver o fenômeno como raver, faço isso como repórter que está apurando”. Segundo ele, não seria possível entender o fenômeno em sua totalidade sem a droga.

Mesmo sem ter certeza, até que ponto deveria ter ido dentro de suas apurações, o repórter tem ciência do sucesso de suas obras que estão esgotadas nas livrarias. Sobre projetos futuros, Tomás disse que ainda é cedo para adiantar quais serão suas próximas aventuras.

Coragem e disposição  diferenciadas. Para a aluna Urssula Nobre, do 1º semestre de Jornalismo a presença de Tomás foi inspiradora. “Foi muito bom poder ver a dedicação e a postura do autor no trabalho de apuração”, comentou. Já quando questionada se faria o mesmo, a aluna hesitou , mas respondeu que sim. “Falar é fácil, né?”, disse.

Taísa Luna, também do 1º semestre, aproveitou a palestra. Para a aluna que está lendo o livro Cama de Cimento, conhecer as ideias e os pensamentos que motivaram o jornalista a escrever o livro foi interessante.

 

Jornalismo Literário também foi destaque no primeiro dia

Seguindo a agenda da III Jornada de Jornalismo da ESPM-SP, a segunda palestra do encontro aconteceu à noite e abordou o tema Jornalismo Literário. Os palestrantes foram Renato Essenfelder, professor e colunista do Estadão, e a professora Renata Carrara, especialista em perfis.

Buscando discutir o conceito e a prática na atualidade, o tema foi abordado e, principalmente, elogiado quanto à profundidade. “Prefiro pensar em jornalismo de alta qualidade”, colocou Essenfelder ao expor seus pensamentos em relação a esse tipo de Jornalismo. O professor que começou a pesquisar mais sobre o assunto há seis anos comentou também  a dificuldade em estabelecer as fronteiras entre Jornalismo e Literatura para além do compromisso com a verdade, uma vez que funções clássicas que cabem a um, cabem também a outro.

A fala do professor, alimentada por citações de grandes jornalistas, contrapôs o “jornalismo declaratório” a um jornalismo de visão heterodoxa, cujas fontes são dissidentes e o foco está na qualidade, e não na quantidade. “Pode parecer utópico e romântico, mas não é impraticável, e de modo algum indesejável”, acrescentou.

Paralelo à isso, a capacidade de escuta do repórter em relação à sua fonte, foi comentada como uma das qualidades mais imprescindíveis ao profissional. Esse ponto abriu espaço para Renata Carrara discutir com propriedade os perfis escritos por jornalistas.

Sob enquadramento e luz, perfis, para a professora são fotografias que jamais se repetirão. A importância do ser humano e da vida, para se contar uma história foi consideravelmente exposta, mas além disso, a sensibilidade e pré-disposição que o jornalista deve ter para conseguir capturar de maneira sensível a história de terceiros também teve destaque.

“Contar os dramas anônimos como os épicos que são, como se cada Zé fosse um Ulisses, não por favor ou exercício de escrita, mas porque cada Zé é um Ulisses. E cada pequena vida, uma Odisseia”, concluiu a professora citando a jornalista Eliane Brum.

De fato, para alunos acostumados e até cansados de textos jornalísticos que seguem padrões repetidos exaustivamente nas redações, a palestra serviu de alívio e fonte de inspiração. Alívio, ao expor a possibilidade de mudança e quebra dos padrões, e inspiração ao reportar a grandiosidade do gêneros e obras que o seguem.

 

Carolina Brandileone (1 semestre)