Documentário revisita equívocos da imprensa no caso Escola Base

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Na véspera do lançamento, exibição em um cinema de São Paulo reuniu jornalistas e convidados – Foto: Alice Centi

Alice Centi (2º semestre)

O documentário “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado” estreou na quinta-feira, 10 de novembro, no canal de streaming Globoplay. Um dia antes, foi apresentado em sessão especial no Cine Marquise, em São Paulo. Com direção de Eliane Scardovelli e Caio Cavechini, a produção aborda a cobertura da imprensa brasileira sobre a falsa acusação de abuso contra crianças em uma escola particular localizada na Aclimação, zona sul da capital paulista. A narrativa se desenvolve a partir do olhar do jornalista Valmir Salaro.

“Eu fui o primeiro a dar notícia no Jornal Nacional. E aquilo explodiu”, recordou Salaro, em um bate-papo durante a pré-estreia. Em 26 de março de 1994, ele recebeu a denúncia de algumas mães contra os donos da Escola Base, voltada ao ensino infantil; no dia seguinte, a notícia já havia se espalhado em diversos veículos de comunicação.

Seis pessoas foram acusadas injustamente de abusar sexualmente de alunos de quatro anos, uma suspeita levantada por duas mães que notaram comportamentos estranhos em seus filhos e prestaram queixa à polícia. Entre os acusados, estavam os donos da escola e funcionários.

Após um laudo da perícia constatar abuso sexual em uma das crianças e ocorrer a veiculação de notícias falsas, a escola foi depredada, os acusados foram agredidos e suas vidas destruídas. Tempos depois, o exame foi refeito, pelos mesmos peritos, e chegou a outro resultado; as marcas causadas pelo suposto abuso eram, na verdade, decorrentes da prisão de ventre da criança.

Mea culpa – Ao longo do documentário, Salaro, reconhece seu erro na cobertura do caso e que sua postura, como profissional, não foi correta diante da situação. O lado dos acusados nunca foi ouvido pela mídia, o que fez com que o caso fosse noticiado de maneira errônea e desproporcional.

Além disso, no documentário, o jornalista aproveita para enfrentar fantasmas do passado e encarar os afetados. Ele encontra pessoalmente dois acusados – a professora Paula Milhim Alvarenga e o motorista da escola Maurício Monteiro Alvarenga – e Ricardo Shimada, filho dos donos da escola, Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, já falecidos. Nesse momento, finalmente eles têm a chance de contar a verdade e, principalmente, de mostrar como a vida deles foi atingida pela desinformação e pela cobertura parcial da imprensa.

Para Salaro, o documentário serve tanto como um pedido de desculpas como também para ensinar sobre o potencial destrutivo das fake news, que estão cada vez mais presentes no cotidiano.

#ParaTodosVerem: A imagem colorida mostra um telão de cinema, sobre um fundo preto, escrito “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado”, nas cores preta e branca. Na parte de baixo, está escrito Globoplay, na cor vermelha.