Canções populares e mediocridade: a música brasileira pelo “jazzista” Nenê

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A música brasileira é uma mistura de ritmos culturais diferentes. Foto: Felipe Pepe Guimarães.

A música brasileira nasceu da mistura dos ritmos dos índios nativos, escravos vindos da África e colonizadores europeus. Instrumentos considerados típicos da cultura brasileira, na verdade, têm diferentes origens: a flauta doce é europeia, o berimbau é africano e o maracá é indígena.

A partir de então, a música brasileira evoluiu das cantigas populares e religiosas às eruditas europeias, entre os séculos XVI e XX, passando pelo Iundo (ritmo africano e dançante) e pelas Modinhas (canções de origem portuguesa que cantavam o amor e a melancolia). No século XX, durante o Modernismo, destaca-se Villa-Lobos, por criar harmonias eruditas diversas, com arranjos brasileiros que fixaram a música nacional no cenário internacional.

Com a junção do Iundo e das Modinhas surgiu o Choro (primeiro ritmo musical urbano brasileiro), consagrado por sua principal percursora, Chiquinha Gonzaga, em 1989. Depois, nos morros do Rio de Janeiro nasceu o Samba, mescla do ritmo do batuque com a roda de capoeira.

Bossa Nova

Na década de 1950 a Bossa Nova ganhou espaço, sendo um segmento do Samba com ritmo diferente dos outros estilos musicais da música popular brasileira, suave e sofisticado. O músico Nené da Banda Nené Trio, que tocou com grandes nomes desse movimento, como Elis Regina (segunda geração Bossa Nova e Samba), disse que a Bossa Nova mudou a batida da música brasileira, o modo de acompanhar o violão e o piano, colocou mais bateria nas canções, instrumento que ele se especializou nessa época.

Nesse período, no antes e no pós Bossa Nova, surgiram músicas com temáticas nordestinas que retratavam a seca no nordeste brasileiro e a vida dos retirantes, ressaltados pelo cantor Luiz Gonzaga nas décadas de 1940 e 1950, e pelo compositor Edu Lobo na ditadura militar. Também foram introduzidos novos ritmos musicais estrangeiros, como o Jazz. Em meio a todas essas evoluções musicais em curto prazo, o baterista da Banda Nenê Trio declara: “são as pessoas que se adaptam as mudanças dos estilos musicais; os músicos estudam seu instrumento, praticam com disciplina, e assim eles conseguem aprender e tocar qualquer tipo de música”.

O Tropicalismo, movimento musical predominante nos anos de ditadura militar, sugeria uma ruptura e uma aderência a elementos da cultura jovem mundial na MPB, por exemplo, a guitarra elétrica, de acordo com dados do site Tropicalia. Esse movimento “mais social do que musical”, segundo Nené, pois se opunha as normas sociais e aos militares, acabou sendo oprimido pelo governo e revelou grandes nomes da música nacional, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e o próprio compositor Edu Lobo.

Música e repressão

“Quanto mais houve repressão mais a música avançou”, disse Nené sobre como era ser músico na ditadura, e completa que a opressão obrigou as pessoas a criarem outras maneiras de se expressar, fazendo com a composição das músicas se tornarem mais complexas para passarem pelo controle de censura dos militares.

A reabertura política fez o rock and roll se instalar no cenário musical brasileiro, com a ascensão de bandas como Paralamas do Sucesso. Outros estilos musicais mais recentes ocuparam o lugar do rock nacional e se popularizaram, entre eles, o sertanejo, o axé e o hip hop.

Ao avaliar o mercado musical do Brasil, atualmente, Nené expõe que para quem faz música instrumental há pouco espaço na mídia e ao mercado em si. “Houve um reconhecimento da mediocridade, o que era medíocre se tornou artístico”, afirma o músico ao relatar que quase todas as músicas que fazem sucesso, hoje em dia, tem qualidade, e que elas são voltadas mais para os interesses comercias do rádio e da televisão, não só mercado brasileiro, mas o mundial.

Naíla Almeida (1º semestre)