Culto ao corpo gera riscos pelo excesso de exercícios

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Personal Trainer Daniel Aron de Carvalho Foto: Renata Fleischman

A prática de exercícios físicos vem tomando bastante tempo da população brasileira. Mas a que se deve essa mudança de hábito? O desenvolvimento tecnológico, o bom desempenho econômico do País e até as novidades da política são alguns dos fatores que influenciaram o comportamento da população.

No livro “1968: o que fizemos de nós”, de Zuenir Ventura, esta linha de raciocínio é defendida: para o autor, àquela época, as pessoas estavam mais preocupadas com o interior do que com a aparência. Hoje, o imperativo seriam os cuidados com o corpo e a estética. Ventura argumenta, em sua obra, que o Brasil dispõe de uma indústria que mobiliza fábricas, laboratórios farmacêuticos, nutricionistas, cirurgiões plásticos, personal trainers, calçados e roupas especiais para corridas e aparelhos de ginástica que tornam real – e lucrativa – a busca pelo corpo perfeito.

O raciocínio crítico de Ventura, no entanto, não esconde um fato concreto que justifica, em parte, os esforços da população brasileira: a prática de exercícios físicos é essencial para uma vida saudável. Sem ela, o sedentarismo ganha espaço e traz, consigo, doenças crônicas e índices elevados de massa corporal e obesidade, o que já é uma realidade no Brasil. Segundo dados oficiais, mais de 50% da população masculina nacional e 48% da feminina está acima do peso; em relação à obesidade, a proporção é, respectivamente, superior a 12% e 16%.

Dora Behar, nutricionista e pesquisadora da USP, acredita que o sedentarismo é uma das principais causas para a obesidade no País: “É necessário que alimentos não saudáveis, principalmente os industrializados, sejam evitados. Eles geram doenças crônicas não transmissíveis, como a diabetes, a hipertensão e as doenças cardiovasculares, que estão entre as principais causas de morte no país”. E complementa: “Para reverter essa situação, é necessário ter calma e começar devagar, com acompanhamento de um profissional da área de educação física que vai ajudar o indivíduo a se tornar uma pessoa fisicamente ativa”, diz.

Daniel Aron de Carvalho, personal trainer, concorda com a ideia: “A atividade física é essencial para a manutenção de uma boa saúde, para fortalecer a musculatura, evitar possíveis problemas posturais, obesidade. No geral, contribui para uma melhor qualidade de vida”, diz.

As utopias do “corpo perfeito”, no entanto, fazem surgir uma obsessão na prática de exercícios; neste caso, os “marombeiros” – como são popularmente chamados os que se excedem – cometem o erro de ingerir anabolizantes e se ligar de modo exagerado aos aparelhos de musculação. “Tudo que é demais atrapalha e incomoda. Acredito que as pessoas que gostam devem frequentar a academia, sim, mas deve haver um controle e um limite, até mesmo para se evitar uma possível lesão”, diz Carvalho.

A fisioterapeuta Denise Pripas explica que  a prática de exercícios também pode trazer danos à saúde: “Muitos têm a impressão de que quanto mais exercícios, melhor; no entanto, quando fazemos uma atividade física, nossos músculos sofrem microlesões que, após um tempo de repouso do exercício, são reparadas. Com isso, conseguimos o efeito de aumento da massa muscular, por exemplo”, explica. “Se não damos este tempo para o organismo se recuperar da lesão, ocorre microlesão em cima de microlesão, até que o corpo não consegue mais repará-las. Aí temos as lesões por estresse”, alerta.

Renata Fleischman (1º semestre)