Cirurgião plástico tira dúvidas e esclarece temas polêmicos

Share

Oswaldo Pigossi é formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e se especializou no Hospital das Clínicas. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o médico tira dúvidas, expõe sua opinião a respeito de procedimentos cirúrgicos e discute temas como a proibição da prótese de silicone.

Nicole Coimbra – Quando está prestes a fazer alguma modificação no corpo, a pessoa costuma imaginar, visualizar e fantasiar suas novas formas. É difícil atender as expectativas exatas das pacientes?

Oswaldo Pigossi- Independentemente de estarem próximas de uma cirurgia, as pessoas sempre imaginam e fantasiam a respeito de seu corpo; quando uma plástica está no horizonte, a tendência é aumentar essa perspectiva.

O grande problema é conseguir deixar claro as reais possibilidades que o paciente tem de alcançar o resultado imaginado; há uma infinidade de fatores que vão determinar o resultado, e esses fatores não dependem só do cirurgião, mas de uma força totalmente indomável, que é a natureza. Ela sempre tem seu curso independente da atuação do homem. Para piorar esse quadro, ainda há a falta de escrúpulo de certos profissionais, que prometem resultados que sabidamente não são possíveis, mas convencem a paciente – muitas vezes impedindo que escute conselhos verdadeiros de outros profissionais ou parentes próximos. As consequências podem ser desastrosas, pois os sonhos e esperanças são derrubados, levando até a quadros de depressão. Costumo dizer que uma plástica pode levar tanto ao céu como ao inferno!

Deve-se sempre ser o mais realista possível. Prometer aquilo que podemos proporcionar, mostrando os limites de cada procedimento, que normalmente está aquém da expectativa, pois a quantidade de informação (errada!) disponível hoje leva a imaginação a níveis muito altos. O cirurgião plástico não é mágico.

NC- Sabemos que algumas complicações podem ocorrer durante as cirurgias plásticas. O senhor tem dados estatísticos sobre esse tipo de problema? Isso ocorre com frequência?

OP- Penso que a segurança de uma cirurgia plástica depende de quatro fatores: fazer o que a paciente realmente precisa, sem essa de “já que vai tomar uma anestesia então aproveita isso ou aquilo”; preparar muito bem sua paciente, com exames, conversas, sabendo tudo que eventualmente pode desviar o curso das coisas, como alergias, intolerâncias, medicações em uso, etc.; operar em ambiente seguro, em hospital, com condições de atender qualquer tipo de intercorrência que possa acontecer durante o ato cirúrgico e reverter o quadro com segurança; e ter uma equipe dedicada e responsável diretamente pelo paciente, com um anestesista que acompanhe o paciente o tempo todo, um assistente que ajuda a minimizar o tempo cirúrgico, uma instrumentadora que esteja integrada à equipe e circulantes de sala rápidas no atendimento às solicitações do cirurgião, que devem ter o preparo e conhecimento técnico necessários à realização do procedimento proposto.

Respeitadas essas premissas, a chance de ocorrência de problemas é muito pequena. Estatisticamente, as complicações ocorrem em hospitais de condições ruins, sem equipamentos compatíveis com o procedimento realizado.

São feitas cerca de 700 mil cirurgias por ano e todas as complicações graves normalmente são noticiadas, pois esse tipo de noticia “dá Ibope”, então vemos que a incidência de problemas graves é bastante pequena diante de outras especialidades. Mas sempre devemos lembrar que uma plástica não é ir ao cabeleireiro, é um procedimento que envolve inúmeros riscos. A chance de ocorrência é pequena, mas os riscos existem.

NC- As cicatrizes das cirurgias em geral são muito visíveis? Existe correção para cicatrizes que deram errado?

OP- Até os vegetais, quando machucados, deixam marcas ao se curar, que chamamos de cicatriz. Qualquer “ferimento”, seja cirúrgico ou traumático, deixa cicatrizes. A diferença da cirurgia plástica é que, além de posicionar as cicatrizes em áreas de dobras, abaixo das roupas íntimas ou outras regiões onde elas possam se “esconder”, ela ainda permite que as cicatrizes sejam feitas de uma maneira tecnicamente apurada, passando despercebidas. Costumo dizer que a qualidade das cicatrizes depende de vários fatores: cerca de 50% de responsabilidade técnica, responsabilidade do cirurgião de fazer um trabalho bem feito, com “capricho”; 30% de responsabilidade da natureza e os 20% finais de responsabilidade da paciente, que deve seguir as orientações do profissional, fazer o repouso devido, se cuidar. Somadas essas responsabilidades, a chance de se ter sucesso é enorme.

Quando esses cuidados não bastam e as cicatrizes não ficam com a qualidade desejada, pode-se retocá-las depois de algum tempo, com grande chance de alcançar o resultado almejado. Depois de os tecidos eliminarem o inchaço do pós-operatório, as forças de tração criadas pela cirurgia, devido à retirada de segmentos de pele, se acomodam; sem elas, as cicatrizes evoluem melhor, solucionando o problema.

NC- Quando um problema afeta a autoestima de uma pessoa, mas uma cirurgia não é realmente necessária (por exemplo, alguém que só precise de exercícios e boa alimentação para emagrecer), o senhor apoia a cirurgia ou prefere recomendar um nutricionista ou outro especialista?

OP- Indicar o que é melhor para seu paciente – essa deve ser a postura profissional esperada e correta. Não assumir essa postura seria o mesmo que indicar uma cirurgia, por exemplo, de retirada do útero porque a paciente não quer mais menstruar, totalmente longe da ética e dos objetivos da medicina.

Infelizmente, hoje em dia, devido à falta de ética vigente em todas as áreas da atividade humana, podemos encontrar muitos profissionais que colocam os interesses financeiros à frente da ética e do bom senso. Para completar, existe um grande número de pessoas buscando “milagres”, maneiras de alcançar seus objetivos sem esforços, da maneira mais fácil.

Às vezes a dificuldade maior que encontramos é exatamente convencer as pacientes de que os tratamentos têm seus limites, de que não vão alcançar os resultados esperados porque leram na internet artigos escritos baseados em marketing. Esses textos são feitos exatamente para induzir as pessoas a pensar que seus problemas de autoestima podem ser resolvidos por uma cirurgia.

NC- Depois dos recentes acontecimentos com implantes de silicone que ocorreram na França, o Brasil pode proibir a cirurgia de mamoplastia de aumento. O que o senhor acha da proibição de prótese de mama? O silicone pode realmente causar um linfoma?

OP- Essa é uma hipótese muito remota. A mamoplastia de aumento é uma cirurgia com tempo suficiente de amadurecimento e muito bem sedimentada, com mais de 40 anos de evolução e excelentes resultados, que proporcionam grandes satisfações às pacientes.

Eu indico essa cirurgia com muita segurança. Claro que como qualquer procedimento cirúrgico envolve riscos, mas sem dúvidas a relação custo-benefício é muito vantajosa para quem se submete a ela.

Quanto ao linfoma, não existe uma comprovação científica de que o silicone seja o responsável pelo aparecimento de tais tumores, além de serem de um tipo muito raro e pouco conhecidos. São casos semelhantes à polêmica de vinte anos atrás, quando se culpava o silicone por diversos males, com a proibição do comércio de próteses pelo FDA, a agência de saúde americana. Porém, atualmente essa liberação já está firmada, inclusive com a aprovação da marca Silimed, empresa brasileira que produz próteses de altíssima qualidade.

Só quem acompanha o pós-operatório dessa cirurgia pode avaliar o alto grau de satisfação das pacientes. Com uma autoestima elevada, muitas mulheres realmente mudam a sua postura frente à vida, se tornando mais femininas e seguras de si.

Nicole Coimbra (2.° semestre)